sábado, 24 de marzo de 2012

Olegário Mariano

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Olegário Mariano Carneiro da Cunha nasceu em Recife (PE), neste 24 de março, no conturbado ano de 1889. Poeta e compositor. Para quem pensa que boêmios - músicos, iludidos, humanos de coração puro, lidadores de letras - não trabalham, que tudo cai do céu, esclarecemos: trabalham sim. Olegário lidou com muitos trabalhos em sua vida, até diplomata foi. Compôs muitas músicas, muitos dos seus poemas foram musicados. Coube a Joubert de Carvalho  a façanha de levar essa alma superior ao meio musical, para perto de pessoas como Ary Barroso e Vicente Celestino.

Ah, Joubert de Carvalho. Precisamos falar desse boêmio aqui: o único cara no mundo que inaugurou uma cidade que leva o nome de uma composição sua: Maringá. Isto mesmo, ele, vivinho da silva, a meia-noite abraçou todos os companheiros do buteco da Lapa, tomou uma dupla de uísque de saideira, encheu os bolsos de garrafinhas e encarou a viagem, comparecendo à inauguração no dia seguinte, todo sério. Outro dia falaremos, por enquanto vai um abraço ao povo de Maringá, uma idéia que, começando como começou, só podia dar no que deu, uma cidade verde de progresso, sorrisos e amor.

No Rio de Janeiro, o busto em bronze de Olegário que havia no Passeio Público foi roubado há mais de 10 anos. Ninguém sabia do que se tratava mesmo, tal a sensibilidade dos últimos governantes, mestres da ignorância e da... deixa para lá. Em breve inaugurarão no mesmo local um busto do Faustão, que melhor os representa.

Segundo o manauara Simão Pessoa, (clique, eta blog bom), o grande poeta brasileiro, como todo boêmio de classe, era muito espirituoso:

O sexagenário poeta Olegário Mariano, padrinho de batismo pela milésima vez, suportava a arenga latina do padre quando, num dado momento, o pároco lhe perguntou: menino ou menina?

Olegário, apanhado de surpresa, não teve outro recurso a não ser sungar a camisola do bebê que, naquelas alturas da vida, era desprovido de sexo aparente.

Afastou os panos todos que o separavam da revelação e, apurados os fatos, declarou:

– Se não me falha a memória, menina.

O som que vai ao final, De papo pro á, não por acaso é parceria de Joubert de Carvalho e Olégario Mariano, aqui na voz do espetacular Ney Matogrosso.


Boemia triste

Éramos três em torno à mesa. Três que a vida,

Na sua trama de ilusões urdida,

Juntou ao mesmo afeto e na mesma viuvez...

Um músico , um pintor, e um poeta. Éramos três...

O primeiro falou: - Veio da melodia

De um noturno, a mulher que me fez triste assim.

Amei-a como se ama a fantasia

E ela sendo mulher fugiu de mim...

Hoje tenho a alma como um piano vivo

Que mão nenhuma acordará talvez...

É por esse motivo que eu sou mais desgraçado que vocês...

Disse o segundo: - Meu amigos, a sorte golpeou-nos, com a mais vil ingratidão

À mim levou-me à morte, o que eu tinha de melhor

A ilusão de que a vida era ilusão.

A força, a graça, o espírito, a beleza

A estátua humana olímpica e pagã

Espelho, natural da natureza

Nota da flauta mágica de Pan

Morreu com ela a vida, a luz, a cor

Manhã de sol e tarde de ametista

A paleta e a esperança de um pintor...

Todo o delírio de um impressionista.

Fez-se um grande silêncio em torno à mesa,

Silêncio de saudade e tristeza...

O terceiro baixou os olhos devagar

Disse um nome baixinho e não pode falar...



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