jueves, 29 de octubre de 2015

Eu, Bruno João, no exílio em Porto Alegre

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Estou ficando velho, mas valeu a pena ter sido amigo de casa da D. Lourdes Rodrigues, a Dama da Canção, bah, e conhecer outros personagens da noite de canções, hinos da boemia, alguns meio de longe porque muito mais velhos, mas me conheciam: Lupicínio, Cléa Ramos, Darcy Alves, Jessé Silva, Peri Cunha, Rubens Santos, Zilá Machado, Mário Barros, Clio Paulo, Azeitona, bah, tantos... Alcides Gonçalves não conheci pessoalmente, mas alguém me disse que ele soube do menino que rondava a noite.

Lá com vinte anos e meio vendo os "coroas" no palco sem perder de vista a Terezinha garçonete de amor, linda, bailando por entre a penumbra das mesas. Jamais me daria bola, sem um vintém no bolso. Mas ela olhava sim para o mocinho duro de grana e desempregado, surgido do nada vestindo uma camisa de mulher, instalado na mesinha de favor.

Sem que eu visse ela via sim, ela que tinha mandado um chope para a noite inteira. Relaxe os músculos do rosto, moço, tu é bonito mas assim fica feio, dizia se abaixando ao passar lá no cantinho escuro.

Ela tinha 25.

Um dia nos acertamos conversando - nada de frescura - num amanhecer sob o arvoredo da Praça Garibaldi ali perto, onde eu morava no banco da praça que dava para o coleginho, ficamos amigos. Era Teresa, mas eu a chamava de Zaíra, devido a uma música que eu gostava tanto, tanto quanto dela. Onde andará aquela guria?

O Chão de Estrelas era na José do Patrô. Inesquecível.

E anos depois o bar "Gente da Noite", com Túlio Piva e Eneida Martins. Meu Deus, eu queria namorar a D. Eneida, vá cantar bem assim lá no catre onde durmo, tinha melhorado, já não morava em banco de praça. Juro que gostaria mesmo, mas não ousaria, até porque aquele foi o puteiro mais sujo em que morei, e ela era uma senhora fina que jamais me olhou.

O tempo passou. Muitos morreram. Deus, essa mentira, não quis que eu morresse, me fez passar horrores, frio e fome, decepções, desencantos, obrigou-me a assistir humanos doentes de cobiça pelo vil metal, me matou amigos e mulheres, mas eu morrer não. 

Se existisse esse Deus o otário pensaria que sou agradecido, ah ah ah... Eu doido para morrer! Sim, mas não pelas mãos de sujeitinhos vulgares, ou ladrões donos de tudo, aí entra o amor próprio.

Com a idade de Cristo, há exatos 30 anos, jurei nunca mais tocar em arma de fogo. Cumpri. Nestes últimos anos fui tentado pelo imaginário Capeta, foi por pouco, mas aguentei, se tiver que matar mais um será novamente de punhal, punhal não jurei. De repente abro da barriga até o pescoço uma meia-dúzia de filhos da puta. 

Este 2015 está conseguindo ser pior do que os 30 anos que passaram. Ando louco para fazer todas as bobagens que deveria ter feito, hoje já teria mandado para o suposto inferno metade dos patifes de Porto Alegre. 

Hei de suportar. Acho que já vivi um pouco. Tem uma síria-espanhola doente mental de ciumenta que diz que me ama, de repente resisto mais um pouco, me seguro na vontade de ir para baixo da terra.

Confesso que andei chorando muito por aí, me arrastando por esta cidade que nunca foi minha.

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NA1: Resumo apertado do rascunho de um longo conto, sem final previsto.

NA2: A gravação de Zaíra, entre outras, no youtube foi gentileza de Antônio Augusto dos Santos "Bocaiúva", o mineiro que protege a música popular de todo o Brasil e de além, antes que se percam, e que, já que os porto-alegrenses não o fizeram, eternizou a voz da D. Lourdes na rede mundial com lindas imagens.

NA3: Na imagem da internet é euzinho, sim, para modelo de costas já servi, de frente diziam que era muito feio, em montagem de vá saber quem.

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viernes, 23 de octubre de 2015

Vou, hoje eu digo que vou

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Embora resumido o melhor site de MPB que encontrei foi o Dicionário Cravo Albin disponível na rede mundial. Mas o que tem de omissões, erros, é assustador. Achei que era sustentado por verbas públicas, ao menos deveria ser, tal a importância do tema que trata.

Este samba maravilhoso soube por outras fontes que é de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, lá no Cravo não tem um pio. E se fosse arrolar aqui as tais omissões e erros, levaria anos. Não culpo o seu Albin, mas alguém anda vacilando, o governo? Verbas? Faltam profissionais que entendam e amem MPB? Estou procurando emprego.

Essa música vai a propósito de uma mulher que me disse que estava produzida para sair para qualquer bar e dar para qualquer um, e que no dia seguinte veio me dizer que tinha bebido, que era mentira. Então tá. Normalmente o Joca aqui tolera três mancadas antes de mandar longe. Nesse tipo de manifestação caio fora na primeira. Pois não foi a primeira vez, de bobo tolerei uma anterior.

Sabia que eu estava compromissado com problemas familiares e sem dinheiro. Se tem algo que conheço desde menino é esse tipo de gente: mulher fácil e raivosa. Como dizia o samba "Me enganei redondamente, com você, ó flor", mas não levou muito tempo não, nem um ano.

Vou matar o marido dela, dar-lhe um defunto fedido e mal-intencionado de presente de Natal, o marido que ela escolheu por identificação moral, agora se matam por causa de alguma grana na repartição dos poucos bens, enquanto penso se o dano que me causou é motivo para mandá-la também para o inferno.

Se tem algo pior que homem bêbedo, caindo pelas tabelas, caindo na rua, resvalando no meio-fio, o último estágio da decadência, da destruição pessoal, é mulher assim ébria, de quebra dando para qualquer vagabundo em qualquer bar. Pela visão masculina, obviamente.

Choro em silêncio, de raiva e de dor.


sábado, 17 de octubre de 2015

Sábado em Copacabana, o ódio e o Correio do Povo

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Reconsidero o título da postagem. Talvez fosse ganância desmedida em vez de ódio, reflito alguns minutos e concluo que nesse caso essas palavras se confundem, então deixo como está e vou em frente na pequena história.

Sábado pela manhã, o véio Armando e eu no La Maison na esquina da Santa Clara, pés estendidos em cadeiras mirando a Av, Atlântica, lá fora, só de calção, tomando caipirinha e comendo salgadinhos, bem belos, quando assistimos a um atropelamento terrível, uma vovó levando o netinho nenê para encontrar os pais na areia, e pá, um furgão matou os dois, a velhinha atravessou errado. Meu, nunca esqueci aquilo, até hoje me dói ao pensar no casal lá da orla depois. Paralisei de impotência, raiva, foi na nossa frente e nada pudemos fazer. O Véio me puxou: termine a caipirinha e vamos para a água, guri.

Eu já era chefete, mas de fato guri. Não conheço quem não ame o véio Armando Krause, sensacional, como homem e amigo, além de grande profissional.

A tarde seguiu morna, sem vontade. Enchemos a cara depois do mar, na tentativa inútil de esquecer o que tinha se passado às onze da manhã. Fiquei com uma coisa na cabeça, a voz do Graúdo Oristín: "Quem tem muitas não tem nenhuma, Saladinha". Por mim que se explodam.

A gente tinha combinado de à noite ir para o Café Nice dançar, mas a idéia morreu com as mortes.

Bêbedos entramos no Hotel Bandeirantes da Rua Barata Ribeiro ali pela meia-noite, ele foi para o seu quarto e eu para o meu. Abraços, te cuida, meu, te cuida tu também, amanhã é domingo, não fique triste. Sim, vamos pra praia cedo, jogar bola com a negada. O Véio e eu já éramos camaradas do pessoal que joga futebol na areia, a gente entrava um para cada lado, eu prometendo que iria lhe dar um balãozinho.

Do meu apartamento de fundos vislumbrava onde morava a baiana Rosália, num predião da Tonelero, que me amava de amor e luxúria, ui, e, deixa pra lá.

Mal entrei no chuveiro para tirar o sal e tocou o telefone.

- Sim.
- Cabelinho, pegue o primeiro avião amanhã para Porto Alegre, a "***** vai te ligar, já mandei olhar os horários de vôos, está tentando pelo das 19 da Varig.

A gente gostava desse das 19, um luxo, o 737 levava 1:30h no máximo direto Rio-POA, normalmente 1:20h. Ele me chamava de Cabelinho por uma nesga que me caía na testa, cabelo fininho.

- Não quero ir, doutor, não terminei na controiada da Brahma, ainda estou na Cidade, na sede da Skol, e prometi aos diretores da Brahma que volto lá na quarta-feira.

- Mando outro pra Skol, com o pessoal da Brahma já conversei, tu vem para Porto Alegre, terça-feira começaremos auditoria num novo jornal, e quero você chefiando a equipe, pelo menos nesta primeira visita.

- Não vou, Dr. Ah, não, aí não quero ir, se é aquele jornal que estou pensando...

- Estou mandando, vem sim.

Fui no vôo das 19 de domingo. Segunda-feira conversei com os colegas que iriam comigo, a preparação técnica, orientei quem vai fazer isso ou aquilo, depois aquele papo de sempre, evitar opinião pessoal, ser gentil com os funcionários da empresa, se der bronca eu assumo, etc.

Na terça-feira nos encontramos todos na frente da sede do tal outro jornal, às 8 da manhã. Todos sabendo da recomendação, ordem, do doutor querido, ao final da tarde de segunda-feira, quando disse que era proibido citar "Correio do Povo". Eu ri, com saudades do Rio de Janeiro.

Ao entrarmos falei: - Não esqueçam o que o nosso dono falou, é proibido falar em Correio do Povo, tem uns judeus aqui que o odeia, quer quebrá-lo, tem política no meio, vocês sabem onde estamos nos metendo.

Os colegas auditores assentiram, todos sérios.

Entrei na sala de reuniões deles, junto com meus dez auditores, todos homens feitos, com menos de 30 ou beirando os 31 naquela ocasião, eu tinha uns 33, era “guri”. A sala cheia de diretores e gerentalhas, estavam nos esperando, antes de estender a mão ao chefão deles, parei e exclamei para um dos meus:

- Esquecemos de comprar o CORREIO DO POVO! Vai lá na banca e compre, meu colega, por favor.

No outro dia eu estava empernado com a Rosália em Copacabana.

O meu dono fulo comigo em Porto Alegre.

Eles não sossegaram até liquidar com o seu Caldas Júnior.
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Sozinhos em Acapulco

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Eu mentia a ela que o meu trabalho era cuidar de uma garagem das cinco da tarde até às oito da manhã. De repente virava o turno, eles me telefonavam. Nunca tive hora.

A gente precisava comprar um apartamento, eu queria lhe dar uma vida melhor, melhor que aquela casinha florida que tínhamos no Morro Santana.

Meu negócio era outro, muito diferente, assalto a banco de capuz preto e armas pesadas, não para atirar em alguém, para proteger o cara do maçarico, malditos caixas eletrônicos, rendem pouco, para dividir por vinte, nós e os informantes. Uma merreca.

Tinha dias em que eu inventava viagens, o patrão insistiu, gosta de mim, vou ganhar mais alguma grana, nega. Ficava fora duas semanas.

Sem ela saber, por precaução, de tanto que eu a amava, desde que resolvi ir para o inferno, para junto dos banqueiros, deixava um amigo cuidando de longe pela sua saúde. Ela ia pro coleginho da vila lecionar.

Um dia um dos meus negros a viu muito alegre, na minha ausência, toda fresca para um branco de carrão.

Nesse dia a gente iria entrar com tudo numa agência bancária ali de quem vai para o estádio Olímpico. Ficamos meses cavando o buraco desde o outro lado da rua, emperramos num duto do departamento de águas, aí achamos melhor entrar à luz do dia, mascarados, mais fácil. Entramos.

Eu pensando em três anos antes, quando ela vivia sozinha, uma coitada a quem alimentei, curei as feridas, vesti. Amei.

Matei o gerente quando se meteu a esperto, apertou o botãozinho embaixo, cinco disparos da AK7. Filho da puta, lambe ovo de banqueiro, perdendo a vida pelos assassinos. Eu sabia que o gesto do cara seria inútil, mas atirei igual. Tínhamos tempo e camaradas na polícia que desligaram tudo por acidente naquele momento. Dez minutos.

Deixei a mulher para lá, o trabalho era mais importante. Na hora me prometi: vou ficar quieto por um mês ou dois anos. Quando apaguei o gerentalha eu pensava em enchê-la de roupas lindas, viver um pouco naquela praia maravilhosa, gozando do bom e do melhor, para só depois enforcá-la de madrugada, no bangalô à beira-mar em Acapulco, sabendo o que perdeu. 

Os camaradas me estranharam quando queimei o otário, sabiam que não gosto de morte, mas ninguém ousou me criticar.

Neste golpe, onde recuperei um pouco do que os banqueiros roubam, minha parte foi dois milhões. Com a grana na mão, que um finório depositaria em meu nome lá longe, pensava nela: Ah, querida, vamos para uma praia mexicana.

Cheguei na soleira da casinha lá no cimo do morro e ela correu me abraçando apertado: Ai, Bruno, meu amor, que saudade!


Voltei, negra, tu nem sonha com o que te espera, meu amor, vamos sair do país. Para Acapulco, arrume as trouxas que o avião sai nesta noite.
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viernes, 18 de septiembre de 2015

COMPLÔ NO BRASIL

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Bom dia aos amigos.

Bah, que sonho ruim: sonhei que um bando de canalhas se organizava na calada da noite para mudar a Constituição, introduzindo dispositivo que permite pessoa jurídica eleger seus mandaletes para foder com o povo e calar o Supremo Tribunal Federal.

Tinha de tudo, os de sempre: chefes de partidos miau, senadores miau, deputados miau, industriais miau, empreiteiros miau, concessionários miau de jornal, rádio e tevê, juízes miau, fiscais miau, policiais miau, etc. Um vasto complô miau.

Ao final não era gato, pobre bichinho querido que não tem culpa de ter a mãozinha rápida: era um gigantesco rato dentuço enlouquecido querendo me devorar, e eu apavorado tentando me esconder do monstro embaixo da mesinha do computador. Despertei de um salto, trêmulo.

Ufa, foi só um pesadelo, não ousarão. O dia está lindo, e é sexta-feira, né, hoje entornaremos alguns chopinhos com a mente voltada à felicidade, própria e de todos os humanos.
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miércoles, 26 de agosto de 2015

Vim voando para Porto Alegre

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Eu estava em Belô quando minha filha bióloga-botânica me escreveu contando que o indivíduo e sua turma - a mesma do Britto - queriam extinguir a Fundação Zoobotânica do RS e outras entidades cruciais para nosso estado.

Quando a menina, lá pelas tantas, gritou (maiúsculas é grito, segundo convenção de emails e facebook, pois não?): NÃO ACREDITO NO QUE ESTÁ ACONTECENDO!, parei para pensar nos reflexos de tamanha barbaridade, senti que era diversionismo, o chamado bode na sala, desviarem a atenção para cometerem atrocidades maiores.

Pior: na hora do grito imaginei a guria chorando. A "minha" guria chorando por causa desses vândalos. Aí pensei onde escondi minhas armas de fogo, pero vim sereno, ainda não era e nem será motivo para tanto.

A turma foi à luta, e o mundo inteiro, literalmente, se manifestou contra o horror, desde a ONU, todos os países civilizados, até instituições de apoio à ciência e à biodiversidade também de todo o Brasil.

Fez bem o pessoal, pois dessa gente tudo pode se esperar. Vai que passe no Assembléia Legislativa o projeto inominável, que, mirem o escárnio, apresentado em regime de urgência, 30 dias para ser discutido e votado, pois sabemos como deputados são movidos, com as exceções de praxe que servem para confirmar a regra.

Estou de olho nos deputados ainda em cima do muro, da base de apoio desses elementos. Terão seus nomes escancarados aqui e no blog Ainda Espantado todos os santos dias, com detalhes de suas vidas políticas, se possível com o auxílio de humanistas de suas cidades de origem.


É o mínimo que posso fazer, já que mais não posso, são adultos demais para levarem varadas nas pernas.

(Na foto, que estraga o meu blog, o governador do estado do RS, que tirei para inimigo dos gaúchos, dela, até aí não dá nada, mas que tirei, principalmente, para meu inimigo).
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sábado, 15 de agosto de 2015

Bruno Contralouco contra a máfia do Gringón

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I

Em pleno inverno, 29ºC em Porto Alegre às 15:30h. Saí para uma caminhada no Parque da Redenção, pertinho de onde me escondo.

Já no caminho percebi que uns gringón de terno e gravata me seguiam. Andei pela Redenção, mas somente pelos lugares apinhados de gente. Logo decidi me embrenhar pela Cidade Baixa, ali ao lado. 

Ô vida boa, os bares lotados às quatro da tarde. Fui direto ao boteco do Capeta, uma festa, ele não me via há dois meses, pois fugi do frio, andei lá por cima do Brasil. Depois dos abraços falei:

- Capeta, me descola o 38 que tenho plantado no forro do bar, tem uns caras querendo sarna para se coçar.

Os sarnentos, convenientemente, haviam sentado em mesa ali fora do bar da frente. Também fui para uma mesa lá fora do bar do Capeta, sentando com o Chumbo, Tico da Antonieta e Filé, que pela noite tocam pandeiro, cavaco e violão:

- E aí, vagabundagem, ninguém trabalha mais nesta cidade?! - exclamei.

- Olha quem falando - respondeu o Filé.

- Bora buscarem os instrumentos, hoje vamos começar mais cedo - eu disse enquanto me convencia de que o primeiro tiro teria de ser no de camisa azul e dente de ouro, o mais perigoso.

II


Como sabem os amigos mais chegados, aqui em Porto Alegre o meu fogão é quase aquilo que chamam de "industrial", pois é muita boca para comer. Atualmente menos, isso porque com essa história de ficar viajando pelo Brasil por mais de dois meses perdi nove putiangas, das 27 agora tenho só 18, mas ainda assim muita gente. 

Deixa estar, as desgarradas hão de voltar chorando, aí a minha comissão sobre os seus ganhos, de apenas 65% do bruto (depois tiro as despesas, bóia, aluguel do meu rancho, plano de saúde, beijos, conselhos, etc), para elas subirá para 90.

Bueno, as 18 mulheres estão se virando na noite da Portinho, e o otário aqui encara o fogão, elas não comem nessas porcarias de boates... vá lá, passa por boate, nem de graça, são cuidadosas com a saúde.

Cinco quilos de mandioca - adoram mandioca, não posso perder o ponto, gostam durinha -, cinco de carne de panela e três de feijão, de feijão sou quem gosta mais. Arroz e saladas farei antes de chegarem às quatro da matina. Faço comida de "sustância" porque na minha ausência só comiam pizza e outras porcarias de restaurantes, tenho pavor de restaurante.

Aí toca o telefone, é Bruno Contralouco. Está num bar da Cidade Baixa cercado pelos meganhas de um mafioso chamado de Gringón, querem lhe fazer a pele. Será a Camorra? Pombas, já a expulsamos muitos anos atrás. Diz que eram somente cinco caras, ia encarar sozinho, mas chegaram mais cinco, todos armados, dá para notar o volume nos casacos e nas pernas, pede ajuda.

Digo-lhe não saia daí do Bar do Capeta por nada deste mundo, desligo as panelas, pego a Magnum e a Glock e vou lá, ando doido para apagar um gringón. 

Na saída telefono para o Gustavo Moscão: pegue o AK 105 e tente se posicionar no telhado do bar da frente do Bar do Capeta, os gringóns estarão de costas, eu vou ficar de frente pra eles, me avise quando estiver pronto que vou atravessar a rua. Vão ver o que é tocaia.

III

(...)

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martes, 11 de agosto de 2015

Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (2) e os moleques

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MOLEQUES

Caros amigos

Ainda sobre essa história de uns políticos quererem extinguir a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.

Tenho um lado pessoal envolvido e tal, conforme e-mail da minha filhoca Natividad que antes transcrevi, afinal a guria interrompeu um segundo doutorado, onde ganhava uns cinco mil limpinhos de um órgão federal (bolsa) para entrar para a FZB (concurso público, sim senhor, eu os meus nunca mamamos em "quem indica") ganhando bem menos. Uma boa troca: promessa de estabilidade e fazer o que sempre quis, pois é bióloga de doutorices e tudo. Com emprego certo, endividou-se comprando apartamento financiado e se embrenhou no trabalho.

Realizou o sonho: passa dias e dias pelas campinas e matas do RS, vestes rudes e chapelão na cabeça - no verão o sol é inclemente - pesquisando plantinhas e não sei mais o quê, o que tem risco de extinção e tal, não entendo do riscado, apenas acompanho de longe a sua luta.

Há alguns meses, quando um bundão começou o terrorismo, me disse: "Paiê, não se trata de eu perder o emprego apenas, como tu diz a gente sempre se vira, posso lecionar, posso fazer outra coisa, aprendi contigo a não ter medo de nada, é que isso será o maior crime perpetrado contra a biodiversidade, é inimaginável o dano, choro só de pensar".

Terrorismo, sim. Ameaça psicológica doentia. Irresponsáveis, não são homens sérios. Comigo a conversa será outra, pois reitero: enquanto brincavam de bonecas eu morava em prostíbulo de favor, enquanto eu lia Nietzsche davam a bunda ou chupavam pirulito em lares gordinhos.

Ora, claro que cá comigo tenho certeza de que isso é bode na sala, armar um gritedo com um absurdo desses para passar outros absurdos aparentemente de menores danos, mas com lucro certo para quem os palhaços obedecem.

Verei direitinho quando chegar em Porto Alegre. Mas vai que, tal a qualidade da "base de apoio" desse "esperto", o projeto passe? Quem cuidará da biodiversidade do pampa e das florestas? Quem cuidará do Jardim Botânico situado em Porto Alegre? A Monsanto?

No particular, o que ela não gosta de falar mas eu falo: seja quem for o beneficiário do disparate, ele devolverá a taxa de inscrição que a menina pagou para fazer e ser aprovada no concurso público, montes de gentes que prestaram para duas vagas, pois nem biólogos a FZB tinha, quem devolverá? Quem a indenizará pela interrupção da Bolsa de Estudos?

Sim, quem iniciou a estruturar ou reestruturar, com seriedade, a Fundação Zoobotânica foi o governo anterior.

Ainda não sei como será, mas vai se preparando, Sr. Sartori & Cia., o revide, de minha parte, é certo que virá. De qualquer modo que venha, o senhor não vai gostar nadinha. 

Processe-me pelo que quiser, como sempre faço quando "querelado" vou lá e digo ao juiz: "Sim, confirmo que o chamei assim, e tenho umas coisinhas a acrescentar que não quis dizer em público".

De ladrão, o que seria grave, não o chamei, ainda não sei. Estou muito tranquilo, mas podem ir perdendo o sono.


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Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (1)

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Oi, pai

Tudo bem? Te enviei mensagem pelo celular de Dia dos Pais. Não sei se recebeste.

Espero que esteja tudo bem por aí. Te desejo tudo de melhor.

Bom, o motivo deste e-mail é a gravidade da situação que envolve a minha instituição Fundação Zoobotânica - FZB do RS. Enviei um e-mail ontem para todos os meus contatos, inclusive para ti. Ali tem tudo explicadinho.


Resumo: o Sartori enviou na sexta passada à Assembléia projeto de lei de extinção da FZB/RS e demissão de todos os funcionários, em caráter de urgência, isto é, a ser votado em até 30 dias. NÃO DÁ PARA ACREDITAR NO QUE ESTÁ ACONTECENDO.

Estamos mobilizando todos que conhecemos. ONGs, universidades, estudantes, etc, estão todos nos apoiando. Peço que leia o material que te enviei no e-mail anterior.

Venho pedir o teu apoio, em especial. No teu Blog, onde puder. Se tiver algum contato político que possa ajudar entre os deputados, pessoa conhecida na mídia, etc.

Bom, estou muito triste, porque não é um trabalho qualquer - é o trabalho que eu amo, e uma instituição muito importante pro RS.

Bjão!

Dra. Natividad Ferreira Fagundes
Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul

viernes, 7 de agosto de 2015

Drible de Corpo

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Um dos baiões mais lindos que ouvi na vida, autoria do mineiro Toinho Gomes. No vídeo pelo sensacional cavaquinho de Ausier Vinícius, que inventa, adapta, esse é "doido".
Estou certo de que o baião logo será reconhecido como um clássico nacional.
Os créditos de todos os músicos vão ao final do vídeo, inclusive com Sô Tião do Bandolim, que faleceu neste 2 de agosto.
Li em algum lugar, ou alguém me disse, que o título do baião foi posto por SÔ TIÃO DO BANDOLIM. É que tem certo momento em que o violonista que acompanha leva um drible, periga se perder.

Toinho Gomes, grande instrumentista como também compositor, já compôs, e entregou partitura, emocionado, em homenagem ao Sô Tião, tempos atrás.
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