Em
20 de janeiro de 1973 desembarquei assustado em Porto Alegre, à noite, com 50
dinheiros no bolso. Um muquifo de pensão, soube no dia seguinte, num beliche com mais oito no quarto, não saía por
menos de 300 dinheiros por mês, sem bóia. Tinha o endereço do Clóvis Vieira dos
Santos, andando uma hora e meia achei o endereço. O amigo trabalhava num
supermercado, o Real, e estava em temporada na praia, quando a empresa
reforçava o time de funcionários no litoral. Pronto: a primeira boca-de-rua.
Não ia queimar os 50.
Tantos
anos passados, tanta água que rolou, enchentes, que hoje acho que até que me
saí bem, como tantos companheiros com quem mais tarde dividi misérias. Vivemos
momentos que se fosse de outro modo não teriam tido o valor e a importância que
tiveram em nossas vidas.
E
que vida, que boemia! Da boca-de-rua para prostíbulo morar de favor, de
prostíbulo para república, de república para apartamento de poucos, de
apartamento para pensão boa, casamento em alugado, dali para casa de shows e
bailes. Sim, morei nos fundos de uma casa de espetáculos enorme, onde entravam
centenas de homens e mulheres, na época quase gastei... bem, os pés de tanto
dançar. Depois as noites do Brasil...
E
desdizemos, nosotros, los sobrevivientes, pois muitos ficaram pelo caminho, a
fábula de que o ambiente corrompe e de que todo homem tem preço (aqui uma
alegoria do grande escritor que muitos tomam às cegas, desvirtuando-a, julgando
os outros por si mesmos, mirando somente um aspecto de algo muito mais
profundo, pois para salvar a vida de uma filha, filho, amada ou amigo faço
coisa pior, terei preço, e doído, mas não pegar dinheiro sujo para "enricar", apodrecendo),
e hoje ao menos temos casa para morar, além de cada história... não é, César
Tassi, meu eterno Cesário Martinez?
E a cada dia estamos aí, recomeçando, novos.
E a cada dia estamos aí, recomeçando, novos.
Salve,
Porto Alegre!
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É isso, camarada Newton. Abraço.
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