Meu
amigo mineiro, Antônio Augusto Santos, o homem que de música sabe tudo, vem de
sem querer me trazer à memória amores perdidos. Manda-me um samba-canção, que é
como nosotros, brasileños, apelidamos o bolero produzido entre choros na pátria
amada. Justamente num ameno sábado de verão. Temperatura ainda estival, mas
molhada de toró, noite agora muito fresca, como uma mulher.
Hoje
vi de longe a dama, no Campo da Redenção, passando pelo outro lado do lago,
andando de mãos dadas com um senhor careca. Pelas frestas da multidão que
passeava no pulmão de Porto Alegre a entrevi. Está conservada, uns 45 anos,
alguns quilinhos a mais, imperceptíveis para quem não a conheceu nua em noites
sem fim.
Em certo momento Antonio atacou de Lupicínio, entre outras de todo o Brasil e do mundo, com uma mulher cantando, interpretação comovente, uma fina cantora.
O Gatolino, empoleirado no meu ombro (desisti de tentar convencê-lo de que não é pássaro) lá no Campo da Redenção sentiu meu estremecimento e ouviu-me balbuciar Nunca, ao tempo em que apertava o passo, me afastando rápido sem olhar novamente para o lado de lá. Soltou um miau diferente, creio que disse calma, ao pressentir alguma coisa de tempos em que ele ainda não era nascido.
O careca tratará de matá-la, se preciso, eu fora.
O Gatolino agora se escondeu em alguma gaveta, sumiu, foi dormir ou chorar sozinho em algum canto. Eu aguento aqui, rodo a mesma música. Mas com voz de homem, tem horas que a gente precisa honrar as vestimentas de macho. Sem uma lágrima, todas já se foram com o copão de uísque.
Vou ligar para Dolores Sierra, a loca que é o meu amor, vem com parentalha,
esse ônibus nunca chega.
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