martes, 4 de marzo de 2014

Bêbado no Carnaval

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Acabo de contar a um amigo, César Tassi, hoje morador de Passo Fundo (RS), que não se surpreendeu nadinha, pois amou a pessoa e hoje reverencia a memória do Graúdo tanto quanto eu. 

Divido com os demais rapazes como advertência: cuidado com a bebida, os camaradas são finos em aprontar pra gente. Falo aos reis e valetes, mas poderá servir a alguma dama, no inverso.

Nestes tempos em que uma palavra sem nenhuma maldade pode nos levar à guilhotina, pelo fanatismo reinante, apanha safado, esclareço que nada tenho contra homos, é tal a discriminação que já senti vontade de ser viado só para pararem de me perseguir, mas sou hetero, pombas. Bandidos são outros, eu fora.

Eu era muito novinho, uns 21 anos, 74 Kg com músculos nos lugares certos (seco na barriga, agora com 77 estou bico e pena), tímido a dar com um pau. Até hoje não acredito no que me disse o meu querido uruguaio Hélio Oristín, o "Graúdo", ele já quarentão, que comigo alugava pelo sistema árabe "rachid" uma casinha antiquíssima caindo aos pedaços no Menino Deus. Casinha que remontava aos açorianos, de dois minúsculos andares, com uma escadinha perigosa no meio, eu dormia em cima. A gente num miserê danado.

Deu-se que num Carnaval ou 7 de Setembro, mais certo Carnaval, a névoa dos anos me traz incerteza quanto à data comemorativa, certa vez acordei no 666 (sei do número e não creio) da rua 17 de Junho com uma negona pelada ao lado, baixinha, careca e com uns 200Kg, eu espremido quase caindo da cama de solteiro.

Soltei um grito e saí correndo nu, desci a escadinha voando, mal senti suas tábuas soltas, muito puto da cara, botando a culpa no Hélio Graúdo, dizendo que ele a tinha colocado na minha cama pra me sacanear, e ele se defendendo: "Foi tu, Saladinha, tu tava bêbado, nem vi que hora tu chegou, mas já tava amanhecendo, só ouvi o barulhão, tu tava feio, no escuro depois ela deve ter tirado a peruca e a cincha...".

Fiz cara de dúvida, ainda furioso, e ele arrematou com um risinho no canto da boca: "Hoje cedo dei uma espiadela, olhei de longe só pra ver se tu tava respirando, fiquei tranquilo e fui comprar comida, tu sobreviveu, Saladinha querido. Ainda bem que acho que não é homem, embora o pé...". Subi a milhão, agora sem tocar nas tábuas, cheguei na cama e abri as pernas da dorminhoca, ufa, era mulher. Olhando para o pé 34 dela gritei lá de cima: "Seu filho da mãe!". Nesse momento achei-a linda. E aqui falo da senhora sem preconceito de gordura ou de cor da pele, imagine, tive tantas negas depois, ainda tenho, amadas. Eu era mesmo muito novo, me assustaria igual se fosse uma alemoazona careca.


Até hoje acho que ele me sacaneou, o que tinha de sincero tinha de tinhoso. Até virgem creio que eu era. Ele foi legal, já partiu e nunca o esqueço, a bondade em pessoa, me ajudou tanto... Para rir de mim poderia ter aproveitado que eu dormia e me esfregado clara de ovo crua na bunda, aí já viu, despertar com gosma escorrendo pelo ânus...

Tomei fogos homéricos na vida, talvez ainda tome alguns, dor-de-cotovelo, quem sabe o amanhã? Tomei, sim, de vomitar, de subir de bunda as escadas de casa, mas jamais esqueci algo, nada de no outro dia dizer que não me lembro. Lembrei sempre cada detalhe, cada palavra ouvida ou pronunciada, embora impossibilitado de reagir pelo tamanho da borracheira. Salvo por aquela vez, apagou tudo.

Então, pelo sim, pelo não, nunca se sabe, amigos, convém tomar cuidado com a bebida, vai que não tenham a sorte que tive.
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