martes, 12 de abril de 2016

As damas de copas

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Levei cinco paradas de pôquer, uma atrás da outra, cinco sequências de paus, em baralho de cinquenta e duas. Tomei a grana deles. Os caras alucinados, roubam e não sabem perder.

O cara mafiosão, os outros iam por ele, encrencou, insinuando que eu estava roubando, mãos ligeiras. Eu disse olha, prezado senhor, te mostro que não. Embaralhe, vou olhar pro outro lado, e eu tiro uma das duas damas de copas.

Olhei para trás enquanto ele embaralhava. Escorreu as cartas de costas na mesa, pode vir, ele disse. Olhei para o céu, para além do teto, depois fechei os olhos, e tateando tirei a dama de copas. A outra eu sabia que estava lá no finzinho.

O muquifo paralisou ao ver aquilo. O sujeito perdeu o moral em Curitiba. Insistiu, tem algo errado, e eu disse tiro de novo, traga dois, um só não dá graça.

Vieram mais dois baralhos novos, total 104 cartas. Ele tirou o lacre e embaralhou, eu de costas. Disse pronto, me voltei e de novo, mirei o céu, fechei os olhos e novamente com os dedos da mão direita tirei a dama de copas.

Aí a carpeta estremeceu, Sentiram que estavam lidando com um louco. Alguns homens me tocaram para pegar luz. O mafioso-mor ficou de beiço caído, olhar mortiço para a dama querida.

Foi quando de novo fechei os olhos, estendi a mão, tateando nas cartas, e tirei outra dama de copas, e outra, e outra.

Ficaram as quatro deitadas para cima, lindas, e eu disse é isto mesmo, senhores, não sou homem de uma mulher só, enquanto por baixo engatilhava o 38 com a mão esquerda, pois, sendo do naipe que sou, há muito tinha decidido mandá-los todos para o inferno.


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