miércoles, 29 de marzo de 2017

A PRAGA

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Esclareça-se, por dever de honestidade, que não entendo bulhufas de pragas, salvo noções das pragas do Boca Santa, para quem recentemente pedi que rogasse por uns falecimentos de golpistas, o que não vem ao caso.

De praga sei apenas de lagartas e outros bichos que são combatidos com toneladas de produtos tóxicos com que os agrojestes, ávidos por desmesuradas fortunas, depois de derrubarem as florestas, contaminam as plantações, em conseqüência rios e tudo, não importa se ao preço da destruição do meio ambiente, para não falar num cancerzinho amigo aos consumidores da sua produção.

Quando meninos, turminha de nove ou dez anos, a gente chamava aos gringos, que vinham de longe para plantar soja em nossos rincões, de granjestes. Granjeste foi invenção do Tomás: uma mistura de granjeiro com cafajeste. Isto porque derrubavam nossos capões, matinhos e matões que existiam desde sempre, onde éramos os tarzans, donos da floresta em longas incursões, por vezes dormíamos no mato ao som das aves noturnas, fogo aceso.  

Havia também certa inveja de algo que não conhecíamos, pois eles arrendavam terras, arranjavam máquinas, suavam a camisa e logo ficavam ricos, e a gente naquela maleza.

Daí se depreende o que significa agrojeste. A praga, pensando bem, não é o bichinho na planta, muito menos o produto tóxico, este é mal utilizado. A praga é o agrojeste. Isto até onde sei, e sei nada.

Tenho notícias de assassinos que vieram matar nossas florestas para plantar o rentável eucalipto, mas esses vieram depois.

Não sei porque fiz essa volta toda, pois a praga de que pretendo falar é outra. É caseira, até onde sei, ou não sei.

Em todo lugar que chego os móveis de casa estão se desintegrando, virando farelo. O mesmo aqui na pensão Sodoma do Acampamento. Fui abrir uma gaveta no quarto da Alemoa, puxei meio forte e a tal se esboroou diante dos meus olhos, estava carcomida. Encabulei, ora vir causar dano na casa alheia.

A D. Ledona, dona da pensão, disse não se preocupe, meu fio, é cupim, isso é uma desgraça. Logo me explicou que aqueles bichinhos de asa que no verão entram nas casas e ficam arrodeando lâmpadas são cupins. Se instalam nas casas e comem tudo, madeira, livro e sei lá mais o quê.

Vivendo e aprendendo. Algo que a D. Ledona falou me deixou intrigado, pois também tenho a mesma recordação da infância, mesmo que a minha infância seja mais recente que a dela.

Como é que antigamente os móveis duravam décadas, ficavam de avós para netos? Não existiam bichinhos de asas, ou os móveis é que mudaram?
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