sábado, 5 de mayo de 2018

Marido

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Se deixar as mulheres compram qualquer porcaria que lhes surge à frente, parecem crianças, então quem toma conta da grana sou eu. Elas andam com no máximo cenzinho na bolsa, para um táxi e alguma miudeza, nada de cartão de débito ou crédito, conta bancária só eu tenho, a poupança está no meu nome. Levo-as em rédea curta e confiro no que gastam.

Então fazem compras na padaria e dizem "Depois o meu marido vem aqui e paga, a gente mora ali adiante". O mesmo na mercearia, no açougue, na farmácia, na loja de roupas femininas da esquina. O pessoal da Cidade Baixa já me viu com algumas delas, às vezes vou junto. Em janeiro passado andamos de bando pelos bares da Rua da Olaria, da Rua da República, nas festas de verão.

Meu marido pra cá, meu marido pra lá, mandei pararem com essa frescura, ora. Não adiantou, agora entro na mercearia e o dono exclama feliz: "Oba, chegou o Marido!". No açougue o cara diz: "Chegaram umas costelas lindas, Marido". O mesmo em todos os lugares, até na sinuca, a malandragem não perde nada: "E aí, Marido, vai entrar nesta matadinha?".

Na tabacaria: "Então, Marido, vai uns cigarros paraguaios?". Na semana passada cruzei com o cartunista Santiago lá na Rua João Alfredo e ele me me gritou do outro lado da rua, enquanto acenava: "Tá sumido, Marido, há um ano não te via". Devolvi o aceno de amizade "Abraço, meu irmão", e segui pensando putz, até o Santiago! No outro dia o Aristeu, chefão do jogo do bicho, me viu no boteco e veio pro abraço: "Boa, Marido, pegou no quinto prêmio outro dia, hein?".

Os guardadores de carro, os moradores de rua, até na loja de roupas a moça me disse outro dia: "Oi, Marido, veio pagar? Beleza". É assim na agência bancária: "Veio depositar a féria, Marido?". É com os ambulantes da Redenção. Chegou aos ouvidos do médico e do dentista que cuidam da saúde das onças, passei a ser Marido.

Acho que vamos ter que mudar de bairro, estou pensando em Petrópolis e Ipanema, o "Marido" chegou até no Mercado Público lá no Centro, no Menino Deus, daqui a pouco toda a Porto Alegre vai me chamar de Marido. Chato pacas, tenho nome, ora.
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