Quando criança na aula de
História só se falava na Batalha de Alcácer-Quibir, que se feriu em 4 de agosto
de 1578. O combate se deu nas proximidades de uma cidade com esse nome. Eu não
entendia absolutamente nada do que a professora dizia, culpa minha certamente,
mas sabia que era um acontecimento muito importante, pelo que tratava de
decorar nomes e datas. Na prova vinham perguntinhas tipo: Como era o nome do
Rei de Portugal na batalha de Alcácer-Quibir? Qual a data em que ocorreu a
batalha de Alcácer-Quibir? Na época as questões não eram ainda as chamadas
objetivas, de marcar com um “x” a alternativa correta, tinha que escrever.
Abaixo ia os garranchinhos em resposta.
Só muitos anos depois fui saber um pouco mais
sobre o célebre evento, a começar pelo que levou o nobre D. Sebastião I, filho
do Príncipe João Manoel e da arquiduquesa Joana de Áustria, Rei de Portugal e
Algarves, ao Marrocos guerrear com os caras. Certo que é pertinho, o Estreito
de Gibraltar dá para atravessar a nado, para quem veio ao Brasil um nada, mas
só uma boa razão para movimentar um grande exército, 17.000 homens, nestes
5.000 mercenários. Alguns falam em fervor religioso, o que pode ter sido o pretexto
e, bom, vamos ao que interessa.
O exército português afastou-se da costa e da proteção dos canhões dos seus navios por teimosia do Rei, contra a vontade dos seus oficiais - alguns queriam prender o rei - penetrando nos domínios muçulmanos, até que no 4 de agosto viu-se diante de 80.000 mouros numa zona quente e quase deserta onde o inimigo conhecia o terreno. Foi esmagado pelas tropas marroquinas sob o comando do sultão Abu Marwan Abd
al-Malik, fragorosa derrota, metade do efetivo português morreu e a outra metade foi feita prisioneira.
D. Sebastião, então com 24 anos, teria morrido, como os demais nobres
portugueses que o acompanhavam, aliás, a nata da nobreza pereceu. Não foi um
confronto isolado entre muitos de uma demorada guerra: foi a grande batalha
inicial e final, decisiva, a guerra acabou ali, uma tragédia que traria severas
conseqüências para os nossos colonizadores.
O detalhe é que o corpo de D.
Sebastião jamais foi encontrado, nunca se soube se por algum milagre sobreviveu incógnito ou se al-Malik guardou o cadáver como troféu, e o imaginário popular começou a funcionar,
acreditava-se que o rei voltaria para salvar o Reino de Portugal de todos os
problemas desencadeados após o seu desaparecimento. Surgia o sebastianismo.
O sebastianismo chegou ao Brasil.
Antônio Conselheiro, furioso com a elite republicana recém instalada, na Bahia
propagava a volta do Rei. Também em Pernambuco esteve presente, citações na
Tragédia do Rodeador e na Tragédia de Pedra Bonita, esta última inspirou José
Lins do Rego em seu romance Pedra Bonita. Estes os fatos marcantes, mas o
sebastianismo esteve presente em todo o Brasil de uma ou outra forma.
A julgar pela entrega das
riquezas nacionais acredito que estamos entrando no que virá a ser o mais
amargo momento da História do Brasil república. Talvez um curto momento quando
visto pelos brasileiros de daqui a 440 anos, mas que será de décadas de
sofrimento. Eu não quero um rei de volta, nenhum tolo se passando por salvador da pátria, até porque a colônia sofreu o ônus da
aventura, para não falar que um descendente da Coroa outro dia considerava a
hipótese de ser vice de um ignorante servil a interesses externos.
Eu clamo por homens que pensem no
Brasil, no povo brasileiro, para nas eleições botar a correr os vendilhões que
tomaram o poder rasgando a Carta Magna, e que querem levar o país à desgraça
ainda maior.
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