sábado, 4 de agosto de 2018

Transtóxicos, agrogênicos e transrrepolhudas

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Tempos atrás os boêmios da mesa 1, onde quem corre menos voa, do Botequim do Terguino Ferro, no Beco do Oitavo, capitaneados pelo vegano Nicolau Gaiola, o ator da turma, e pelo expert em vinhos Wilson Schu, foram unânimes ao prever que o plano dos vagabundos, como chamam os políticos golpistas do Congresso e do governo comprados pelas multinacionais da transgenia, de desobrigar as empresas de botar o "T" amarelão em produtos transgênicos, seria tiro no pé.

Logo os pequenos que não tem rabo preso, ou que tem interesse em tomar uma fatia do mercado, passarão a fabricar e estampar nos rótulos, em letras garrafais: "NÃO-TRANSGÊNICO", por tabela dizendo que os sem esse aviso são venenos, explicaram na época. O pessoal diz que tem visto muito, eu não vi. Sou cético com essas coisas, pois nos cigarros os caras escrevem que todo mundo vai morrer da forma mais terrível e o povo segue comprando. Enfim, tudo tem um começo, com o tempo há de vingar, as novas gerações estão vindo com outra cabeça.

O tiroteio mesmo foi deflagrado contra os agrotóxicos, a bancada dos agrojestes – outra expressão dos beberantes do bar, inventada pelo Chinês: agrojeste ou rurajeste, usam ambas, é fruto de uma transgenia onde o cafajeste é introduzido em certo orifício do poderoso agricultor rural – no Congresso Nacional deve estar apavorada. Para desespero dos safados – o safados é novamente expressão usada pelos amigos, eu fora – muitos fabricantes estão colocando "ORGÂNICO" nos rótulos. Pronto, estão identificados: os que não tem essa indicação fazem mal à saúde, carregam a invisível advertência: "Não compre, isto mata".

Falta ainda o Sem Transgênico e Sem Agrotóxico, situações cumulativas, pois a combinação de transgênicos com agrotóxicos, que dizem ser comum em muitos produtos, segundo os entendidos é letal. A Beatriz do Bichinho..., bem, não é que os defenda, mas pondera que os produtores usam transgênicos e agrotóxicos – em ambos evita a palavra veneno – com base em autorização do governo, que possui cientistas que atestam que não são nocivos, para aumentar a produção, reduzindo os custos, de modo que o produto chegue mais barato às prateleiras das grandes mercearias.

Jucão da Maresia diz que esses cientistas tem mais que tomar no cu, uns dizem que banha ou ovo faz mal, outros que faz bem, dependendo que quem os contratou, por dinheiro falam qualquer merda. A turma ri da ideia de baratear os preços, preferem compreender de outro modo, como diz o Chupim: aumentar o lucro fodendo com a saúde dos infelizes. Dizem que um tio do Bichinho, que é padrinho de casamento, possui uma plantação de mamão na Grande Porto Alegre, cada mamaozão...

Não sei a exata razão, mas de fato os produtos com o chamarisco de ORGÂNICOS que tenho encontrado são um pouco mais caros que os envenenados. Enquanto o bolso aguentar só compro orgânico, assim tem sido com arroz, feijão, fubá e tudo o que é hortaliça e raiz, até erva-mate orgânica encontrei. A cada dia que passa aumentam os produtos com o aviso de orgânico.

O diabo são os tais transgênicos, sabe Deus até que ponto esses bichos vem se incorporando à natureza. Em tudo. Na carne então é melhor não pensar, para escapar da transgênese só tendo uma criação de boi, galinha ou pato amarelo no fundo de casa, como diz o Luciano.

Por proposta do mestre Aristarco decidimos todos estudarmos mais o assunto. Até que saibamos exatamente como funciona, desde quem produz  nomes aos bois, e as quantidades produzidas de uma ou outra maneira, sobre o efetivo benefício no combate à fome, sobre os lucros, doenças e mortes, o botequim não emitirá Nota de Aviso ao bairro, nem o Rei da Cidade Baixa proibirá a comercialização.

Enquanto estudamos, para desgosto do Terguino e do Portuga, o Rei Bruno Contralouco decidiu rebatizar temporariamente alguns tragos, até que os dignos proprietários do estabelecimento esclareçam a procedência do centeio, da cana-de-açúcar, do arroz, do milho e de outros cereais utilizados na fabricação da cerveja, da cachaça, da vodka e de tudo, bem como dos limões e outras adições às bebidas.

A cerveja, até então chamada de Repolhuda pelos empinantes, passou a se denominar "Transrrepolhuda". A caipirinha de cachaça agora é "Agrogênica", e a de vodka "Transtóxica". Uma beleza, até a Jezebel entrou nessa: "Portuga, me faz uma Transtóxica, por gentileza, com limão siciliano, querido".
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