Nobres amigos deste gaúcho blog
Sei que no Ano Novo a
tradição é esturricar um porcolino, de preferência um dos americanos: Cícero,
Heitor ou Prático, já que pegar um americano porcão fardado é mais complicado,
são horríveis, têm gosto ruim e... deixa pra lá.
Pero estou considerando
mesmo é pendurar uma oveia na arve do fundo de casa, ela lá, linda, de cabeça
pra baixo, a gente degola e apara o sangue na gamela, cosa más buena. O ritual é sagrado, com respeito ao animal, mas não espero que alguém de fora do pampa entenda.
Como falei outro dia quando
a gauchada se foi para Marte, a oveinha querida ainda se mexendo e a gente
risca os garrão com a faca e vai descendo, pra tirar o couro, depois estaqueia
que dá um senhor pelego pro inverno.
Limpa o bicho, a cachorrada
terá comida fresca, e o bom vai pro espeto sem sal grosso, a salgadura virá com
um galho da mesma arve ensopado em salmoura, até guanxuma serve, com batidinhas
no bichinho já dourando.
Aí minhas mulheres, exceto
Mariana de Rosário, a índia da Serra do Caverá que me ajuda em tudo, esta já se
escalando pra assar a cabeça da oveia enterrada, pera, isso tem que explicar ainda que por alto: corta a cabecinha da oveia, já peladinha, mas deixa com zóio e tudo, dá uma temperada ao gosto e enrola em folha de bananeira, hoje tem papel ourinho que não é igual mas serve, aí mete no buraco onde antes já tacou fogo pra esquentar, e cobre de terra. Aí acende um fogo de lenha em cima, pá, cabeça delícia ao cabo de algumas horas.
Bueno, as outras muiés viram Mariana e eu de
combinação, espiaram o que estou escrevendo e aí fedeu: me chamaram de
sanguinário, bandido e outras coisas impublicáveis, menos de corno, que não são
locas.
Tudo bem, tudo bem! Chega! Pronto,
esqueço a oveia!
Fico com o Cícero mesmo, à
moda portuguesa, esturricado com frutas, firmei o cabo da minha adaga missioneira e olhei pro porquitinho que andava bem feliz pelo pátio.
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