domingo, 28 de diciembre de 2014

A Ovelha

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Nobres amigos deste gaúcho blog

Sei que no Ano Novo a tradição é esturricar um porcolino, de preferência um dos americanos: Cícero, Heitor ou Prático, já que pegar um americano porcão fardado é mais complicado, são horríveis, têm gosto ruim e... deixa pra lá.

Pero estou considerando mesmo é pendurar uma oveia na arve do fundo de casa, ela lá, linda, de cabeça pra baixo, a gente degola e apara o sangue na gamela, cosa más buena. O ritual é sagrado, com respeito ao animal, mas não espero que alguém de fora do pampa entenda.

Como falei outro dia quando a gauchada se foi para Marte, a oveinha querida ainda se mexendo e a gente risca os garrão com a faca e vai descendo, pra tirar o couro, depois estaqueia que dá um senhor pelego pro inverno.

Limpa o bicho, a cachorrada terá comida fresca, e o bom vai pro espeto sem sal grosso, a salgadura virá com um galho da mesma arve ensopado em salmoura, até guanxuma serve, com batidinhas no bichinho já dourando.

Aí minhas mulheres, exceto Mariana de Rosário, a índia da Serra do Caverá que me ajuda em tudo, esta já se escalando pra assar a cabeça da oveia enterrada, pera, isso tem que explicar ainda que por alto: corta a cabecinha da oveia, já peladinha, mas deixa com zóio e tudo, dá uma temperada ao gosto e enrola em folha de bananeira, hoje tem papel ourinho que não é igual mas serve, aí mete no buraco onde antes já tacou fogo pra esquentar, e cobre de terra. Aí acende um fogo de lenha em cima, pá, cabeça delícia ao cabo de algumas horas. 

Bueno, as outras muiés viram Mariana e eu de combinação, espiaram o que estou escrevendo e aí fedeu: me chamaram de sanguinário, bandido e outras coisas impublicáveis, menos de corno, que não são locas.

Tudo bem, tudo bem! Chega! Pronto, esqueço a oveia!

Fico com o Cícero mesmo, à moda portuguesa, esturricado com frutas, firmei o cabo da minha adaga missioneira e olhei pro porquitinho que andava bem feliz pelo pátio.
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