Hoje
fiz amizade com um monte de gente boa no facebook. Agora, pelas tantas, me referindo
à Maria Lúcia, me escapou a expressão: "É das nossas!". Como as
demais amigas e amigos.
Isso
me fez lembrar de algo, uma história que gosto de contar, quando me sinto bem
na foto, já contei muitas vezes, pois tem a ver com o maior elogio que recebi
em toda a minha vida.
A
Dora e mais um caminhão de jornalistas, todas mulheres de diversos órgãos de difusão (JB, Globo News, Band, etc.) e eu estávamos no bar Carpe Diem, em
Brasília. Eu tinha vôo para Porto Alegre na noite do dia seguinte.
Desde o
meio-dia daquele sábado, eu de chapéu bogart a meio-nariz e brabo por alguma
razão que não vem ao caso, tanto que os machos que entravam no bar eu mandava
sentar no outro lado, de costas pra mim: não quero ver as suas caras. Eu armado
era um perigo, o 38 longo me pesava no casaco, ainda bem que eles sentiram o
drama.
Bom,
fomos indo, declamamos Mário Quintana, teimei com as trinta onças em mesas
emendadas que o Nei Lisboa dava de dez a zero naquele viado (o viado era o
Caetano Veloso), caiu a tarde, anoiteceu, se não eram do seu Quintana ficaram
sendo os límpidos versos: "Ó senhora minha, eu vos peço, permitais, que eu
bote aquele com que mijo, naquela com que vós mijais", e dê-lhe chope e
salgadinhos, eu não comi nada, tava de cantoria e de olho nas pernas da Carmen,
que pernas!, e nos peitos e bocas de todas, lindas, amorosas, pensando é hoje
que durmo com trinta, e à meia-noite o bar se entregou, quebramos o estoque.
Tava
todo mundo bêbedo mesmo, vamos embora. Aí elas se reuniram e ficaram de
fofoquinha no outro lado das mesas, eu aqui sem saber do que falavam, dava uma
conferida na conta quilométrica com um olho (não me deixaram pagar nem um
pila), o outro preso num abobado que lá de longe inventou de ficar de frente, a
ordem era pra ficar de costas ou não olhar pra cá, pra mim e as trinta
mulheres.
Terminaram
a confabulação e a Carmen K., aquela escultura de linda, pediu a palavra para falar em nome de todas,
putz, discurso a esta hora, pensei. Que nada, foi breve:
-
Gaúcho, depois de horas de papo, poesia, contos, músicas, decidimos que tu tem
casa e comida quando voltares a Brasília, nada de ir para hotel, pois...
TU É
DAS NOSSAS! E explodiram em gritos e aplausos, ui, gritinhos femininos de
prazer.
Não
morri de emoção porque Deus é grande.
Jamais
receberei elogio assim espontâneo, carinhoso: "Tu é das nossas!".
Fiquei pensando que precisaria de uns noventa dias, três na casa de cada uma,
voltaria para Porto Alegre tísico. Que voltaria nada, ficaria por lá mesmo,
arranjaria uma casa grande onde todos poderíamos morar juntos.
Fiquei
sonhando acordado, foi o que salvou a vida do abobado, que aplaudiu sério lá de
longe, evitando olhar direto pra mim.
*
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