jueves, 18 de diciembre de 2014

O atrevimento

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Eu cuido da minha vida. Nunca menti, depois que errei com uma moça, eu era muito novinho, não sabia o que fazer e estava em boca de rua. Passaram-se muitos anos, até que.

Todos ao meu redor, em 1999, falando que a mulher não era boa coisa. Sussurravam pelas costas dela, só porque a gente tinha se separado, que era vagaba, que dois meses depois arranjou um namorado zécu sem mundo que nem um pedaço de mim poderia ter.

Um dia estourei, reuni todo mundo, a pretexto de comemorar o meu aniversário, a casa cheia de amigos e amigas, e esclareci: "Quem morou em puteiro fui eu, quem é boêmio sou eu, o tarado sou eu, quem não tem hora pra chegar em casa sou eu, quem a orientou a arranjar um namorado singelo fui eu. De todos nós aqui, quem pegou em arma quando preciso fui eu. De todos aqui, eu optei por não ficar rico, pois só ladrão fica rico, odeio ladrões - alguns de vocês aqui, gerentalhas de bancos, auditores, comerciantes, industriais, sonegadores, se enquadram entre os que eu gostaria de matar de tanto nojo que sinto. 

Ela não queria a separação, chorou durante dias e noites a fio, mas não dava certo, cabeça de criação fechada demais, trauma, sei lá, e eu não queria ser prisioneiro da limitação alheia.

EU SOU O CULPADO, se é que há algum culpado que essas cabecinhas de barata procuram. Não há culpados, mas se tiver algum SOU EU! Prejudiquei alguém? Desrespeitei alguém, assediei as puritanas senhoras de alguém? Machuquei alguém? Não. Vão me prender por isso, pelo que não fiz?

Pronto. Agora se sumam da minha frente."

E acabou ali a festa de aniversário. Troquei tudo, adeus amigos de orelhas longas e visão curta. Burros não pelas suas escolhas, mas pelo atrevimento de julgar seus semelhantes, de vir com opinião formada sobre o que não conhecem.

Segui a minha vida, agora de coração leve, aquilo estava me pesando. Na mesma noite voltei pra casa com três mulheres, ai que felicidade, dormimos todos juntos, sem frescura, todos aos beijos. Não deve ter faltado um bolsonaro¹ para chamá-las, às três, de mulheres "fáceis", papo de robô que não conhece mulher.

Não existe mulher "fácil", camarada, quando se tem boa intenção, isso independe de escolaridade, vida em comum é outro mundo, como não existe homem "fácil". Somos seres humanos apenas, que se acertam ou não se acertam de amor e opções de vida. E não é a grito, muito menos as chamando de vagabundas, é que haverá entendimento.

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PS¹: bolsonaro - Referência a um deputado federal brasileiro famoso por ser homofóbico, racista, destemperado, defensor da cruel ditadura do Cone Sul.

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