sábado, 26 de abril de 2014

Contralouco foi à luta. Vou nessa!

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Dei uma saidinha para levar um lero com uns malandros que fazem ponto num boteco em frente à Praça Garibaldi. Os caras já haviam incendiado a Cidade Baixa, com um caminhão de costelas e linguiças assando em três tonéis cortados dispostos no meio da rua. Fecharam a rua por conta própria, a calçada é muito estreita para tantas mesas. Lá dentro uma balbúrdia em torno de duas mesas de sinuca, matadinha a dez pilas.

Bruno Contralouco era o artista da festa, todo mundo o abraçava, davam tapinhas nas costas, pensei que estava de aniversário, ele me viu e disparou em minha direção: “Sala do céu, não te conto a maior!”. Pedimos uns merengues e sentamos num banco da Praça, onde me contou a história. Tinha que ser no particular, o assunto era sigiloso, ninguém sabia. Não posso deixar de dividi-la com os amigos. Passo a palavra ao nosso herói:

“Meu camarada, pode anotar meu nomezinho aí, para saber em quem votar quando no fim do ano elegerem o ‘Rei do Peso 2014’ lá no teu blog, ganhei por antecipação. Ando numa dureza dos infernos, morto e a corvada em roda, devo uma vela para cada santo, tu sabe, quando o cara anda azarado se cair de costas quebra o pau, e ao meio-dia resolvi tentar tirar o talo, fui fazer uma fezinha naquela lotérica do Centro Comercial da João Pessoa: lá mesmo preenchi um cartãozinho de 7,50, sete números, na Quina, outro de 2,00 na Mega, seis números, e um de 8,00 na tal de Timemania, com o Inter de time do coração, total de 17,50, eu tinha vintão no bolso. E foi nessa Timemania que me fodi do primeiro ao quinto.

Como eu estava vestido todo finório, roupa nova, mais tarde pretendia passar no apê de uma tianga que conheci ontem, a moça da lotérica não estranhou e passou a porra do volante na máquina. Meu irmão: preenchi números a mais do que deveria, e devo ter-me atrapalhado com essa frescura de surpresinha e teimosinha. A droga do cartão gerou uma tripa, total 4.000,00. Quatro mil contos! Meu Deus do céu! Bati boca com o dono da espelunca mas não teve jeito, acabei deixando os documas e os cartões impressos da jogatina em garantia e fui à luta. Deixei tudo, o dono não aceitou só a identidade, ficou carteira de motorista e o caralho, até o cartão de dependente da Dilma no plano de saúde, outra Dilma, claro, no da minha o serviço não cobre o Sírio Libanês que todos aqueles patifes usam com o nosso.

Puta que pariu, e agora? Bom, tu sabe que a gente não é filho de pai bobo, e eu nessas alturas tava morto de raiva da Caixa Federal, cabide de emprego dos mesmos do Sírio Libanês, daí que me lembrei de um Caixa Eletrônico não muito longe, lá na (...), que é uma rua de pouco movimento. Levei uma hora para conseguir um capuz, um martelo pneumático, um maçarico e os outros instrumentos, tu sabe. O Janjão Formiga e o Cara de Cadela foram juntos para me cobrir as costas, o Cara deu uns tiros nuns troços de uns postes e deixou o Menino Deus sem luz. O Janjão jogou uns tijolos nas vidraças de duas agências bancárias lá na avenida, para distrair os ratos. Do guarda cuidei eu, mandei ele escolher ficar de mal comigo ou com a Caixa, adivinhe a sua escolha, só pediu que o amarrasse para enganar o chefe depois. Peguei o seu endereço e prometi que um pombo, daqui uma semana ou dois meses, ou meio ano, deixaria dois mil na sua caixa de correspondência. Sabendo que eu sei onde mora vai cuidar com o que vai dizer à justa. Menti, o pombo largou lá enquanto ele recém chamava a polícia. Sala, olha pra mim! Branco e um metro e noventa. Pois ele vai dizer à ratolândia que o assaltante era um negão violento, baixinho, coisa de um metro e sessenta.

Estou morto de vergonha, há dez anos não cometia um pequeno delito. Pequeninho, né, perto do que os políticos fazem em Brasília e em todo lugar é nada. Tomei trinta mil deles. Dei cinco para cada um dos companheiros, voltei lá na lotérica e paguei o homem, ora, sou um cara honesto, o sujeito é um trabalhador, não merece ficar no preju. Os documas eu recuperaria na hora que quisesse, nem precisaria de arma, bastaria dar uns cascudos no cara, mas não seria correto. Na volta passei na Mercearia Zaffurtari e comprei trinta - para homenagear os trinta deles - quilos de carne, uns sacos de carvão e estamos aí, bebida também por minha conta.

E olha só esta tripa (puxou de dentro do paletó) de Timemania, tem quase dois metros. Hoje eu pego eles, tá acumulada em quatro milhas. Há malas que vêm pelo trem! Hei de espantar o azar!”.

Como ele sabia que ando do mesmo jeito me emprestou três mil, eu insistindo que não precisava mas não adiantou, enfiou no meu bolso à força. E deu-me uma belíssima idéia, eu cercado de ladrões e falsos amigos, agora aprendi: também fiz uma fezinha.

Mordi a língua: andava falando dos filhos da puta que muito ajudei e que agora me dão as costas. Existe amigo, sim.
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