sábado, 3 de mayo de 2014

Maurício Chester de Aragão

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Conversando amigável e distraidamente com meu amigo Carlos Valle, na frente de uns vinhozinhos, discutimos futebol por um tempão, ele é gremista, eu colorado, enjoamos de falar mal dos nossos clubes, ele falando mal do dele e eu mal do meu, pois mesmo com amizade forte ninguém é louco de falar mal do time alheio, isso é prerrogativa de cada sofredor, individualmente, no máximo a gente se dá o direito de uma abaixadinha de cabeça, em ar de concordância, quando ele chama o seu time de podre e tu sabe que a podridão já secou, é muito pior, fora a gatunagem que ele atura, ahahah. Ele faz o mesmo. Fazer o quê? Somos amigos.

A seguir animados lembramos os papos do Nietzsche quando este andava bêbado e apaixonado, altas filosofias, e depois de sete garrafas já tínhamos falado até da calcinha da princesa Victoria da Suécia, ui, gostosa, 36 anos, ele insistia que ela usa azul e eu teimava com vermelha, ora azul para uma morenaça daquelas. Ele tornava a insistir: azul cai bem em morena; discordo, azul cai bem em alemoa, vermelho é lindo, sim, em corpo moreno, e fomos papeando numa boa, e de repente o assunto virou e chegamos numa encruzilhada, por causa de um bicho. Parece que a dúvida é antiga.

Saímos do bolicho Vinhos, Queijos & Etc. e fomos embora. Nunca vi chamar salame, massa, polenta e frango assado de & Etc, e tinha outras coisas também, mas cada louco com a sua mania, e nos custou trezentos paus a conta, para cada um, vinho carinho, um dia ainda capo aquele gringo, pensa que sou deputado? O Carlos prometeu pensar no assunto do bicho. Tiau, Carlito; tiau, Salito.

Em casa fiquei matutando, e me lembrei que tinha um garrafão de vinho que ganhei de presente do irmão de uma gringa de Nova Bassano. O irmãozinho, um metro e noventa e que dá dois de mim no tórax, e olha que sou forte, ele gente muito fina, foi muito gentil, mas nunca fui desarmado lá no mato onde moram, e a gringa, ai meu Deus, eu com um e oitenta e ela com um sessenta e nove, mas sai da frente, se a mãe nos visse apartava, diria: assim tu vai te matar guri. De fato, nunca vi cosa mais linda, rosada, carnuda, e loca, uuuui. Resolvi beber a gringa, digo, o vinho, na gringa Gema vou amanhã para fazermos uma gemada. Abri o garrafão, vinho jovem. E me pus a pensar no bicho. Encapinchei-me com o maldito bicho.

Alguém conhece o pai ou a mãe do "Chester", que é um bicho grande e molengão? Pelo nome, brasileiro não é. Tá, vá lá, temos muitos nomes estrangeiros, isso muda com o tempo, muitos anos atrás poderia ser um orgulhoso Albuquerque, esse já era, ou Aragão, e agora que estamos norte-americanos somos Deivid, não errei não, é assim mesmo. Bem, atualmente contamos com variações de muitos, por exemplo um em honra de um grande artista brasileiro que amava crianças e que foi sepultado em um caixão de ouro, como era mesmo? Rolo na busca da internet, mas... O quê? Não era brasileiro? Era o quê, pedóf... Tá, esqueçamos isto, não importa, são belos nomes, mas Chester não, deve ser sobrenome, quiçá Maurício Chester de Aragão, filho de pais ingleses com um pé na Espanha, que terminou seus estudos em Cambridge e veio explorar, ahn, trabalhar, no Brasil, muita bondade da parte dele. Mas não, são muitos, haja Maurícios. Ou não. O que tem de Mauricinhos... vou ver.

E tem um pequeno detalhe: Carlos e eu só vimos os bichos mortos. Brrr, ai meu deus, isto está virando filme de terror.

Alguém já viu um Chester vivo? Isto é muito importante, pois a nega Cristina, velha amiga, quando desci comprar cigarros, cabeça presa no bicho, e nos encontramos na saída da Mercearia, trocando papos e tal, me disse para evitar o bicho, é zumbi. Tá louca, Cris? Tou louca não, Sala, tudo zumbi, não teime, vai por mim e toma café com jasmim. Ahahah, aprendeu comigo essa do café com jasmim. Despedi-me da Cristina como sempre faço: Tu tá linda com esse bombrilzão preto na cabeça, nega! Ela lá de longe responde: Ahahah, vai-te deitar, cachorrão, tu quer ver é o bom-bril preto de baixo, não vai levar! Nega Cristina é a pessoa mais querida aqui de cima, cuida e olha por todo mundo, é mais braba que um diabo se alguém machucar um bicho. Ela gosta desta brincadeira, a gente faz para provocar os politicamente corretos. Mas... zumbi? Brrr.

Teimo não, a Cristina é mulher curtida, bate uns tambores e sabe tudo, ela, o Juraci e toda a moçada. Sei lá, batuqueira também pode se enganar.

Em casa, com um quarto de garrafão batido, fiquei pensando no que disse a Cris e a mente evoluiu: alguém já viu um Chester pintinho, ou pintinha, correndo alegre no pátio do galinheiro, digo, chesteiro, piu, piu, piu, vou brincar, iuú, piu, piu, piu, como sou feliiz... Alguém viu? Alguém já viu um ovo? Alguém presenciou o nascimento (créc no ovo) dessa avis rara, com médico e tapa na bundinha? Jamé, never, nunquinhas, que eu saiba. Tomei mais um quarto do garrafão, faço o quê agora?

Pá! Consultei o relógio, meia-noite em Porto Alegre, então onze da noite em Quebec, e telefonei para a minha filha canadense. Atendeu feliz, oi, paizinho, tava com saudades, desde 2004 tu não me liga. Respondi que andava ocupado, tudo bem e tal, e fui direto ao assunto, explicando a situação do Maurício Chester de Aragão.  

- Pai: não existe Maurício Chester de Aragão, que conversa de bêbado é essa, tu não cria juízo, já era. Olha pra ti, um cara novo, ainda namora a japonesa? 

- Esquece isso, pequena, fala do bicho.

- Okei. Te digo assim de cabeça. Pra mim Chester não se trata de uma espécie diferente, e sim do modo como o tadinho do frango é criado, numa desgraça do capeta, como tu diz, extremamente confinado, praticamente imobilizado, isto depois de selecionado, escolhem os maiores, a reprodução..., melhor tu não saber, e trabalham nele de modo a ter um peito cada vez maior, e maior, e maior, não sei como fazem, chest em inglês é peito, pai. Triste criação, são uns zumbis, como a maioria dos animais que tu come! Se quer saber mais fale com os caras que produzem, mas não te recomendo, periga tu ficar brabo.

Obrigado, fia. Como vai indo, Ná, ainda leciona? Sim, pai. Claro que leciono, como iria viver aqui?


A vaca da senhora tua mãe continua casada com aquele molengão puto? Sim, paizinho amado. Tu tá com saudades de mim? Tu sabe que tou, pai. Tá bom, vou em junho, mas mande a vaca e o veado sumirem do mapa se não quiserem falecer, ela responde que o Maurício vai sumir, sim, e que ela vai me esperar no aeroporto em junho, beijinhos e tiau.

Então é isso... nessas alturas precisei de dois copos de vinho de gute-gute, pois meu peito parecia que ia explodir, estava crescendo, fiquei imaginando o bicho ali, inerme, inchando, sentia dores de injeção, na asa não, dói!

Dê-lhe drogas na comida dos pobres bichos, pensei. E injeção! Não, injeção sairia caro, é na bóia mesmo. Salvo se o bicho estiver morto, aí só com injeção. Não é possível! A Cris matou: Maurício da Zumbilândia.

A Nadege poderia ter explicado melhor, mas agora recordo que meu amorzinho é vegetariana, pobre da guria, onde fui me meter. 

Bebi mais um quarto do garrafão. Às duas da matina telefonei para a casa da Cris e contei que o bicho se chamava mesmo Maurício Chester de Aragão, mas que era zumbi! Ela respondeu eu não te disse, guri.

Precisava de mais uma opinião. Pá, olhei para o relógio, aqui quatro da manhã, em Estocolmo nove, a princesa já acordou. Telefonei para a Suécia, levei meia-hora tentando me desvencilhar daqueles papos guturais, os nórdicos não falam português, eta país bem miserável, atrasado. Chamaram a embaixada brasileira a intervir, nesta os caras queriam que me identificasse, identidade, cpf, número do passaporte, respondi passaporte nada, otários, estou ligando do Brasil, mas me identifiquei, repassaram para o setor de espionagem da embaixada, imaginei como deve ser a espionagem brasileira e tive um ataque de riso, mas me coloquei em alerta quando disseram que iriam mandar a Polícia Federal me investigar. Babacas ao cubo.

No fim acabei não conseguindo falar com a princesa Victoria, azar o dela, mas deixei recado, todo galante, que por favor mandasse me dizer se o bicho que vestia entre suas lindas pernas, na hora me confundi, esqueci o Maurício Chester de Aragão e pedi que ela me confirmasse se a sua calcinha é vermelha!

Quem souber direitinho, aqui ou nos Esteites, ou na China, ou na Tonga, ou na Monsanto, por favor: mande mensagem para o correio eletrônico abaixo.

salamalaquis762360254230@gmail.com

Agora me deu um frio. Lembrei da conta telefônica. Vou dizer que eles se enganaram, que é o que sempre fazem, sempre a seu favor.

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