jueves, 29 de mayo de 2014

O Clubeco da Venâncio

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(Por favor, senhor dono, sei que todos morrem de medo do senhor e da PM, eu também, mas não mande me matar, pois fiz um contrato em Jacarepaguá, e estou ficando com raiva, um pecado)

Depois que a Rua Voluntários da Pátria - já sabemos que de voluntários não tinha nada, vai pelear na guerra ou morre, escravo, negro safado - e seus prostíbulos caíram em desuso, surgiu em Porto Alegre o Clubeco, não o antigo lá da esquina com a Getúlio Vargas, de onde foi expulso pelos moradores. Um pior. Mesmo dono, mesmos canalhas.

Com aparência de bar, ou dancing, vá saber, só entrei uma vez para tirar uma amiga que telefonou desesperada, tinha bebido demais e estava sendo fodida à força no banheiro. Cheguei tarde, e ainda tive que me incomodar com os armários da portaria. Odeio bar ou puteiro que tem armários na frente, gente de bem não entra. De outra vez, no Rio de Janeiro, matei os gorilas, um por um, ao cabo de um ano. Eram 12, no embalo levei mais 18. Deram-se mal porque mexeram com minha namorada baiana da Rua Tonelero, que foi acompanhar umas visitas.

Aquilo me tirou do sério. Seu nome era Rosália. nascida em Salvador. 26 anos. Ao final das suas cartas de amor enviadas a Porto Alegre, assinava com um desenho de uma rosa, emendando grudado "lia". 

Quando tentei argumentar com os armários, gorilas, meganhas, os chamo de muitas maneiras para definir gentalha tão violenta quanto os que os contratam, eu indo para cima, iria bater nos três sozinho, um outro deles, vindo de não sei onde, sacou uma arma e me atirou. Eu tinha saído de casa desarmado, nem sonhava com briga. Calibre grosso, um trovão e ela caiu de costas em mim, mole, olhar se desviando, ali vi que morrer parece prazer pelo olhar, mas sei que não é. Pegou-a em cheio no peito, ela que correu com as mãos para o ar vindo para o meu lado, gritando não, não... Ela tinha visto o movimento enquanto os outros vagabundos sujos me entretinham roncando grosso.

Esse matei por último, um tiro no ânus. Dizimei a todos os seus amigos depois, gente boa não era, conferi. Uns 30. Errei, acabei queimando meros conhecidos, eu estava nervoso apesar da aparência fria. Não errei não, não fizeram comigo mas fizeram com outros, as fichas de policiais deles, de abusos cometidos, impunes, iam daqui até a esquina.


É um puteiro da Avenida Venâncio Ayres, Cidade Baixa, Porto Alegre, onde a solidão fez casa, desgraça sem cama de aluguel que se saiba, que fica de alaúza até às cinco da madrugada, todos os dias, com berros e músicas de mau gosto, sons de garrafadas e palavrões nas brigas na saída. Famílias nos prédios ouvindo caladas tudo isso, tapando os ouvidos das criancinhas. É foda. A turma vai pra isso, pegar alguma bruxa ou bruxo da noite, melhor nem saber de onde vem, uma marginália dos infernos, uma foda, uma aids, uma enrabada. Bom isso.

Ao final da orgia, o dono do cabaré vai embora levando o dinheiro, escoltado por carro da Polícia Militar.

Moram longe, esses caras desse puteiro, a casa fica a cinco quadras de mim, felizmente para o dono da nojeira. O que não está certo é os outros bares serem forçados a fechar às dez ou meia-noite, só porque não pagam propina para a Prefeitura e para maus PMs.

A avenida inteira nem container de lixo tem: tudo para o cabaré.

A moçada da Venâncio está se organizando, viu, senhor Prefeito? Não sabia, mesmo sendo algo estampado aos berros? Acredito, se o senhor for mesmo um completo idiota, no que não creio.

Quando vou à mercearia lá longe, e preciso passar em frente, vejo os negão e brancão de preto, gordos, altos, ameaçadores, à porta do puteiro, então troco de calçada e vou pelo outro lado, olhando para o chão. Hoje não, estou desarmado. Tenho minhas razões.


Vai acontecer quando eu quiser.

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