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Por Janio de Freitas, na Folha
A revelação, feita pela Siemens, de um cartel de empresas para corrupção em
serviços na obra do metrô paulistano, traz, além de outros possíveis
sentimentos, um alívio para muitos. São as pessoas entre as quais é recorrente,
há tantos anos, a referência à corrupção nessa obra - sem sequer vislumbre de
denúncia ou de investigação dos que deveriam fazê-las.
Vem de longe. Do começo. No remoto e mal esquecido governo de Orestes
Quércia, tive uma experiência paralela de como as coisas se passavam e
continuaram a ser.
Muito feliz com o que o metrô em São Paulo proporcionava, Quércia quis fazer
mais um, este na Campinas de suas origens. À época administrada pelo braço
direito de Lula no PT e no sindicalismo, Jacob Bittar, e nem por isso Quércia
teve problema. Um acordo resolveu o conveniente. As condições para a obra é que
se mostraram problemáticas. Em termos, porque logo foi sugerida a solução do
metrô de superfície - de qualquer modo, uma boa obra nos sentidos mais
interessantes.
Feita a alegada licitação, a Folha demonstrou a publicação antecipada
do seu resultado. Quércia negou o conluio, claro, e ironizou o anúncio
classificado com a antecipação. Viria então a ser exibido, pelo governo e pela
empreiteira dada como vencedora, um anúncio publicado na própria Folha,
com o nome de outra empreiteira, como comprovação de que publiquei diferentes
resultados.
Ocorreu-me que talvez houvesse ainda a papeleta de entrada desse anúncio,
onde o responsável tivesse deixado alguma indicação sua. A ajuda de meu colega
(e amigo) Leão Serva, então na Folha, foi preciosa. Conseguiu encontrar a
papeleta. Nela, um nome e telefone.
Demorei muito até conseguir que atendessem a uma das ligações. É que o
sujeito do nome e seus companheiros estavam ocupados. Era trabalhador de uma
obra. Da empreiteira Mendes Jr.. A mesma que vencera a alegada licitação. A
contrarrevelação estava desmoralizada.
Os fatos foram noticiados em pormenores pela Folha. Nenhuma dúvida de
pé. Passamos a esperar, apenas, o inquérito, e a consequente anulação da obra,
pelo Ministério Público de São Paulo. Os que sobrevivemos ainda, estamos
esperando até hoje.
Lula disse à Folha, dias depois, em defesa de Jacob Bittar, que a
publicação da fraude "foi feita para prejudicar eleitoralmente o PT". Jacob
Bittar não tardou muito a dar as costas a Lula e ao PT, e aderir integral e
explicitamente a Quércia, bandeando-se para o PDT. Fui processado por Orestes
Quércia, que perdeu em quantas instâncias judiciais desejou.
Toninho Costa Santos, então vice-prefeito petista, foi dado por muitos dos
envolvidos, e por muitos outros, como origem da revelação de fraude. Mais tarde
eleito prefeito, foi assassinado, sem que a polícia paulista fosse capaz, ou por
algum outro motivo, de dizer algo convincente sobre autor ou mandante do crime.
Às vezes me ocorre a suspeita de que o íntegro Toninho começou a morrer na época
daquela fraude, quando muitos passaram a vê-lo como incorruptível, e portanto
perigoso, na sua carreira de ético entre interesses e interessados de todos os
tipos.
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