viernes, 16 de agosto de 2013

Matando banqueiros, n'A Charge do Dias

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Desde às cinco da tarde tem gente saindo pelo ladrão no Botequim do Terguino. Sexta-feira é sexta-feira. Bruno Contralouco reapareceu, depois de sua incursão por São Paulo. A pedido dos amigos, deixaremos de lado suas histórias como o Muralha Negra do Black Bloc. Os amigos avisam que as ocorrências não foram graves, pois as redes pilantras de tevê - ressaltam: todas - nada falaram sobre bancos dinamitados.

Lorildo de Guajuviras, sumido há mais tempo, foi quem puxou o assunto:

- Sabe, gente, eu tenho algo em comum com o Contra. Bem, o Contra não quer explodir apenas bancos, quer explodir tudo, mas sobre bancos também tenho problemas. Só que, diferentemente dele, não penso em explodir agências. Eu sonho é em matar um banqueiro.

Silêncio no bar.

- Tu está enganado a meu respeito. Temos mais em comum do que imagina - disse o Contra, enigmático.

- Ora, acordou mal, um pesadelo, só isso, toma umas fadas verdes que passa -, disse Jezebel do Cpers de chegada, pegando o bonde alguns metros já andado.

- O problema é um pouquinho maior, Jêze. Acordo todos os santos dias de supetão há 15 anos, com o mesmo pesadelo. Sinceridade, te conto, conto a todos: não sei como fui parar lá, até sei como fazer, mas já começo lá, estou encoberto abaixo de lençóis verdes e cinzentos que eu mesmo coloquei, sei que fui eu, no terraço de um prédio em São Paulo, roupa gelo-cinza, neutra, e determinado, com uma arma muito poderosa, aquela bazuca leve israelense, esperando o helicóptero do sujeito passar, ele vem vindo, será fácil... de repente outro helicóptero surge 50 metros atrás, na linha de tiro, se eu errar o intrometido é que vai para o beleléu...

Toma um gole do seu chope e segue:

- ... o certo seria abortar a operação, toca no bolso o aviso dos companheiros, eu mantenho a posição, não vou errar, não terei outra oportunidade, os caras me esperam lá embaixo para fugir, vão morrer junto, confiando em mim, atiro e desço pelo outro lado deslizando por roldanas como o planejado e num minuto caio dentro do furgão..., porém um detalhe errado e me fodo, estou me lixando se eu morrer, mas perco de fazer de novo, e o bom, a julgar pelos sentimentos dele, o banqueiro, é ficar vivo para gozar o prazer da destruição de seres humanos sem condições de se defenderem, no meu caso será da vingança, e o pessoal que me espera precisa de mim, sou o melhor deles, mais experimentado, e eles vem vindo, se aproximando lá ao lado, o outro besouro além, não sai da linha de tiro, flap-flap, flap-flap, aumentando, rindo lá dentro com meu sangue e o sanguinho da minha irmã, tenho mais dez segundos e perco o tiro, não quero que caia para a esquerda, tem muita gente naquele lado da Paulista, com calma aperto o olho e vejo o do banqueiro no centro da mira telescópica, quebro as regras e atiro, adeus filho da puta, minha visão se turva, um estrondo, depois a bola de fogo no ar, caindo em direção à avenida, aí acordo suado, nervoso, sem saber se acertei ou se a bola de fogo era do outro, dá uma agonia horrível, grito, custo a ver que estou em casa... 

- Se fosse do outro não seria tiro perdido; isso de santo, anjo, essas coisas, tem asinhas, não andam de helicóptero de quinze milhões afanados do povo... - falou o Contralouco.

- Tá certo, normal. Os rapazes e moças que hoje tem 17 anos possivelmente terão problemas semelhantes, com donos de empresas de ônibus, ou com políticos, ou mesmo com banqueiros..., bah, uma lista enorme - disse Clóvis Baixo.

- É, isso é muito mais que bullying, o trauma é para sempre - ponderou Aristarco de Serraria.

- Se Mr. Hyde estivesse ainda entre nós te receitaria mulher e bebida, cura tudo - lembrou o Contralouco. - Eu quero pegar esses filhos da puta só porque não gosto que me levem pra bobo, nada de trauma porra nenhuma.

- A receita do Hyde não poderia ser homem e bebida, ou mulher aqui não apita? - revoltou-se Silvana Maresia.

De lá detrás do balcão o Portuga pergunta:

- Mas sonha com todos os banqueiros, Lori, ou com algum em especial?

- Bem, depende. Tem épocas que com todos, mas ultimamente só com um - respondeu Lorildo.

- Qual, qual? Conta! Conta... - disse Jussara do Moscão.

- Melhor deixar assim, Ju, tem muita gente no bar, daqui a pouco algum maluco comete um crime e sobra pra mim - retorquiu o boêmio prudentemente. Ao dizer "algum maluco" olhou para o Contralouco.

De fato, naquele instante da pergunta o bar emudeceu para ouvir a resposta. Lori já tem problemas demais, não é de laçar com sovéu curto, o homem tem história, ninguém é doido de trombar com a figura. Maus presságios.

- Eu sei qual é o bancaralho e o magnata, disse o Contralouco - começa com a letra "i" e é cor de laranja!

- Itatiaia!, gritou Tigran Gdanski!

- Itapiruca!, gritou Gustavo Moscão.

- Itaí!, disse Terguino Ferro ao passar, chegando para dar uma mão ao Portuga, mesmo estando na sua folga.

E o bar, por alguma razão, foi abaixo em gargalhadas. Lori ficou frio, seguiu sério, foi lá para fora assistir a passagem das comerciárias que saíam do trabalho, tem uma branca que lhe deu nos nervos.

Bem, em seguida o tema que prendeu a atenção dos beberantes foi provocado pelo teatrólogo Nicolau Gaiola:

- O médico disse que tenho hiperfunção sexual, algo assim.

- Não é disfunção?, perguntou Jussara, marota.

- Sei lá, um treco desses, me disse por telefone. Ando chateado, depois que o bicho levanta não há santo que o faça baixar, vou até de manhã, as mulheres saem para o trabalho e fico lá, feito uma estaca, elas já andam me evitando - respondeu Nicolau.

- Se quiser se mudar hoje mesmo, dou casa, comida e roupa lavada. Fico duranga mas vai até trago e cigarrinho. Só não tem dinheiro porque o salário de professora que o Tarso me paga não dá pra nada - apressou-se Jezebel do Cpers, traquinas.

- E isso que é doutora, imagine as mocinhas que lecionam no fundamental... O salário de merda é culpa dos donos dos ônibus - disse Cícero do Pinho, o que provocou novos risos, o jovem boêmio pegou os caras para judas de tudo.

Nesse meio tempo já iam olhando as obras do dia, que logo seriam escolhidas.

- O Bandidowski quer soltar os malfeitores, mas o Joaquinzão marcou de cima, mandou à puta que o pariu - lembrou Tigran Gdanski.

- Pronto, já vão começar com politicagem, pra mim deu... - disse Nicolau, já saindo em direção ao salão de sinuca. Lá da porta gritou: - Prefiro que matem os filhos da puta dos banqueiros, palhaços!

Cícero do Pinho arranha o violão. De lá da mesa do fundão a Gracinha entoa: "Não quero mais, amar a ninguém, não fui feliz, o destino não quis, o meu primeiro amor, morreu como a flor, ainda em botão, deixando espinhos, que dilaceram, o meu coração...". Sim, os boêmios hoje recordam a partida de Carlos Cachaça.

Leilinha Ferro sai do caixa e os intima: antes de cantorias, as obras. Precisa enviá-las a este blog.

Abriram com o Nani.



 Newton Silva, o "caba" da peste de Fortaleza.



Nani. Epa, só dá Nani.



Boopo. Ain Cruz Alta, recém chegada, salientou que a obra alude a Porto Alegre e outras paragens de bundas-moles, mas não a Rio e São Paulo, onde tem uma mocidade que não se entrega; poucos, mas valiosos.



Newton Silva. Também só dá Newton Silva.




Zop. - Que não tem santo nesses antros todo mundo sabia, mas a que ponto... - lamentou Chupim da Tristeza ao anunciar a obra que propôs. - Esses são mais ladrões que os petistas, a raiva destes é que nos mentiram, dizendo ser diferentes, nos iludiram... Estes velhacos todo mundo sabia, e a gente vestiu a camisa para mudar... A dor é maior...

Foi interrompido com Pára, meu, O que é isso, chorar agora... Esquece.



Nicolielo. - Da série Os Filhos da Puta, anunciou Wilson Schu. - Todas são, Schu, todas são, disse o Portuga, que havia se aproximado das mesas do centro do bar.



Pelicano. Esta foi anunciada por Cícero do Pinho: - Dá-lhe, seu Joaquim!



Sponholz. Da série Os sem vergonhas na cara, anunciou Carlinhos Adeva, já entre os amigos.



Dálcio. Clóvis Baixo, que crê, pediu uma prece silenciosa pelas almas. Todos respeitaram um minuto de silêncio.



Jader. Aqui foi uma festa, todos quentinhos com as suas dyablas verdes, e bar cheio dá calorão. Aliás, melhorou, hoje a mínima em Porto Alegre foi 5 graus, muito quente.



Aqui Miss Leilinha os interrompeu. Deu, já recuperam a semana. Os empinantes ficaram com cinco obras na mão, reclamando. É do jogo.

A própria Leilinha, no seu direito como coordenadora, escolheu apenas duas.

Cazo.



E Aroeira. Opa, há tempos mestre Aroeira não aparecia. Essa menina é porreta. Com esta, Cícero torna a arranhar o pinho.



A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que.., bem..., se fundiram  no ano passado (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.
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