martes, 27 de agosto de 2013

Vão todos tomar no cu, n'A Charge do Dias

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Tarde cinzenta, fria e molhada na capital dos gaúchos. Os empinantes estiveram enfiados na sinuca desde às duas da tarde, quentinhos, jogando Vida com matada e bebericando. 

Para quem não sabe o que é a Vida, primeiro, lamentamos profundamente que o parceiro tenha perdido essa parte enquanto lia livros do Paulo Coelho ou de outros imbecis, que abusam do seu ínfimo..., nem é intelecto, é falta de "fragolino". Te flagra.

Esqueça isso, desculpe, mea culpa, mas a culpa não deve ser só minha, deve ser também do governo, dos teus deputados e senadores, afinal, se vocês comem merda ou andam de Mercedes comendo caviar, rindo dos vileiros, ô gente fina, dividem miséria, o cérebro é o mesmo, embora a barriga de uns se sintam melhores que outras. Afinal amam jornais e revistas de predadores, uns, o José Dirceu, outros, a Veja, a maioria. O que me move não é ideologia, parceiro, são meus olhos. O cenário está à vista de todos. Não vê quem não quer. O assalto, a empulhação, a falta de escolas para os teus filhos está à vista. A mentira, o engodo. A matança.

Os dos ladrões de grandes comissões de metrôs, os nossos diplomatas, filhos de canalhas, estudam em Harvard, como se aquela mentira tivesse o condão de tornar bons cérebros ruins.

Querem se libertar? O verbo no plural estende a questão, antes era só um leitor do Paulo Coelho ou aficionado da Globo Barbárie, agora senti que aumentou, sigo no plural, vai que sejam mesmo. Sugiro começarem por Aristarco, o de Samos, não o do bar, este Aristarco de Serraria, aludindo ao bairro onde morou em Porto Alegre, que vê tudo girar ao seu redor quando é desprezado ou não se acerta com este mundinho, ou simplesmente quando sonha, embora sejam poucas as diferenças que os separam, a maior a tecnologia, o nosso Aristarco possui armas de fogo, ainda que as deteste, e o de Samos tinha uma heliocêntrica. Os dois são inteligentes de nascença, e sofrem, o antigo acertou o tamanho da Lua há 2.177 anos, riram dele; o nosso enquanto gira sobre si mesmo sabe o tamanho do Futuro, e quem quer ouvi-lo? 

Mania de mudar de assunto... Ah.

Segundo, no jogo da Vida as bolas são de um a quinze, e se precisa atingir 80 pontos para vencer. Sorteia-se um papelucho enrolado com um número, de um a quinze, a cada um dos participantes. Nota-se aí que mais de quinze jogadores não pode, capiti? Se o amigo pegar o papel com o número 10, segredo só seu, precisará somar 70 pontos para ganhar o jogo, se alguém não ganhar primeiro. No quadro verde do botequim, as iniciais dos participantes, a cada um são atribuídas três vidas, representadas por três xis: XXX. Nada a ver com o grau da sífilis dos nossos deputados. A cada cesta que o amigo sofrer de estouro no canto, adeus uma Vida. Se alguém chegar aos 80 na soma do papel e das bolas que fizer, bate a Vida, matando todo mundo, se estiverem por uma. Complicou? Estou sem saco de explicar, mas é fácil. Mais tarde, se o sujeito "morrer", foram-se as três, mas se um ou outros sobreviverem, além do ganhador, ele pode reentrar com as vidas do que tiver menos, pagando o dobro, normalmente é uminha, mas a paixão pela vida faz com que pague e entre de novo, todos queremos viver, um sobressalto, uma morte, não nos assusta. No jogo, temos uma segunda chance, uma terceira, sabe-se lá quantas, a depender dos fados e da gente mesmo. A depender da habilidade com um taco, todos sabem pegar, ou da loucura do momento, numa dessas a gente pensa "Tenho 72, meu segredo é 1, vou atirar a sete de fiapo no fundo, daqui de longe, com força, se eu errar vai que caia de gato noutra caçapa, mas vou fazer e faço".

O jogo da Vida é para quem não tem medo de morrer. E gente que não tem medo de morrer não anda agredindo seus semelhantes. Não anda roubando desavergonhadamente, como no Planalto Central do Brasil. O jogo de Vida é outro, para seres de amor.

Se morrer e entrar novamente, paga o triplo, depois o quádruplo e assim vai. A parada acaba indo aos céus, começa-se com 20 reais por cabeça e quando se vê o acumulado está em 5 mil ou mais, se a luta for sofrida. Ganha mesmo quando o sujeito vencer e não restar ninguém com vida, ou seja, os demais só tinham uma, de modo que não há como reentrar. Verbo mudado, eu deveria ter pedido a um dos boêmios para explicar, o fariam mais facilmente, pois não entro em jogatina há muito tempo, me basta esta outra vida de carnes e sangues, lágrimas e ódio. Ódio porque não é certo crianças morrerem de fome, aqui ou na Etiópia, fronteiras não existem, é mentira que os bandidos impuseram.



Ah, se precisa de 80, e já tem na pedra 72 de bolas que encestou, todos os espertos saberão que precisa de 8, que é uma bola somada ao papel que só tu sabe, se este papel for 3, está pifado pela 5. Eles te cuidam, são maus, sabem que menor que 8 será, aí escondem de ti essas pequenas, para fazer a 5 só de bolaço, e bola é como mulher, só pára a feição dos outros, estes adoçantes, aquele papo de te amo querida e de olho no teu cu, o gosto delas, enfim alguém a quem mandar com fingimentos de unhas pintadas, aos seus bichos, seus homens, percepção que te desasa ao perceber o passado da tianga, vendo-a de longe, perto nunca. Paulo Coelho, a falsidade é mútua, pare de mentir a si mesmo. Bruxo?, mas crie vergonha, pare de causar dano aos miseráveis. O dinheiro você entende, já não chega? Que prazer é esse de sentir-se, tomando de analfabetos? Não sente vergonha? O Brasil está cheio de pessoas de amor, sem colar escritores de mil anos... Acha que pessoas cultas, se tivessem estômago, não enriqueceriam mentindo? Acha mesmo? Coitado. Nunca pegou num taco mano a mano, mas um dia verá a febre gelada nos olhos da bruxa que veio te buscar, com métodos rasteiros, idênticos aos teus. 

Ah, eu era muito moça. Mas fica lá longe, eu hein. Vai atrás. Nem morto. 

Amor?


Se fizer a bola 10 por acidente, ao abrir com força as bolas concentradas no canto ou no meio, toda vestida de azul, perde a vida. Marcha, soldado.

No rolar das bolas, andando em torno de uma mesa sem demonstrar quais queremos a partir de certo momento crucial, mirando aquele quadro verde com escritos em giz branco, aprende-se filosofia, covardia, matemática, psicologia, coragem, comete-se erros, arrependimentos, ganha-se amigos, respeito... uma Vida. Mas deixa assim. Vida com "matada" é mais complicada, outro dia explicamos.


Jogo encerrado, às cinco os boêmios vêm lá dos fundos e se instalam nas mesas centrais do botequim, para a escolha das obras do dia. O Contralouco conta o bolo de notas que faturou na Vida, para variar. Bateu três vezes seguidas, daí que durou pouco. É mágico com um taco na mão, a turma de amigos só joga para acompanhar, uma vidinha sem reentrada, os estranhos é que marcham forte, depois de bem temperados. Hoje havia somente dois estranhos, um saltou fora e não reentrou, e o outro era pouco para engordar o tejo, de modo que o boêmio ganhou logo para não judiar dos amigos.

Luciano Peregrino lê as notícias do notibuc: 

- Gente, o Sindicato dos Professores a esta hora deve ter invadido o Palácio do Governo ali na Duque. A Jezebel deve estar no meio.

- Os meganhas que ousem bater nela - falou sério o Contralouco, levantando os olhos da grana.

- Se baterem depois não é só contigo o enrosco, vão ter que se ver com todos nós. Eu ando querendo mesmo dar uns croques num filho da puta desses - falou o próprio Luciano.

- Ô gente pessimista, não vai dar nada, Jezebel tem mais de setenta anos, não vai se jogar a socos nos milicos, segue aí com as notícias - disse Carlinhos Adeva.

- Você parece que não conhece a Jezebel..., disse Tigran Gdanski.

- Mais um senador gatuno sendo investigado, apareceu um caminhão de grana nas contas dos seus parentes. Gente, vamos adotar a idéia do João da Noite: fazer um abaixo assinado propondo que se transforme o Congresso Nacional em presídio, dividido em pavilhões, de acordo com a periculosidade dos indivíduos. Quatro pavilhões para os ladrões, um para os assassinos, acho que a proporção é essa, 4 por 1. Que esse bordel seja trancado e a chave jogada fora, que comam ratos.

- Quanta maldade, tadinhos dos ratos, diz Marquito Açafrão. 

Perdeu de goleada, os boêmios trocam impressões e optam por propor o "paredón".

-  Não adianta, esse povinho covarde não assina, morre de medo, o jeito é passar fogo por conta própria, se cada um de nós pegar uns cinco..., diz Gustavo Moscão.

- Mas essa Dilma tá vulgar e arrogante... foi picada, agora se acha grande coisa. Aquilo que o João falou: se prestando a atacar um funcionário subalterno da embaixada em La Paz. Alguém precisa explicar pra ela que o povo da escuridão, bem conversadinho pelos ricaços, já amou o Collor e o Sarney..., segue Luciano.

- Ei, Dilma! Vai à merda!, grita o Contralouco a plenos pulmões.

- Fica xingando a pobre da Dilma..., e os Malufs, Serras, PTB, PR, a Veja, os predadores chamados grandes empresários por atolar sem cuspe no povinho, toda a extrema-direita, os nazistas, não vai nada?, disse Wilson Schu.

- Esses quero trancafiados, com a Dilma só estou discutindo, para abrir os seus olhos, amiguinha de mensaleiros comigo não forma, mas ainda estou lhe dando uma última chance, respondeu o Contralouco.

- Este cara só pode ser amiguinho de alguém... O Banco Nacional de Desenvolvimento entregou 6 bilhões do nosso para o Eike Batista...

- Ei, Eike Batista, vai tomar no cu!, berra de novo o Contralouco, alcançado pelos demais na altura do "vai tomar", o clamor chama a atenção das pessoas que passam na rua. Um velhinho, dobrado pela idade, enfia a cara na janela do bar e, com a voz fraquinha, repete a saudação.

Jussara do Moscão e Silvana Maresia, chegando ao bar, sorriem enquanto fecham os guarda-chuvas lá na porta. Estavam na Praça defronte ao Palácio do Governo. O Contralouco as olha com uma ruga de preocupação, a Jezebel não veio. Elas dizem que não viram a companheira.

Nicolau Gaiola faz o de sempre: aguenta um pouco e depois reclama das notícias do notibuc:

- Se continuarem com esses assuntos eu vou embora...

- Gente, há muitas charges boas, vamos ao que interessa. Algumas falam dos discípulos de Hipócrates, os médicos estrangeiros, e dos hipócritas daqui, hipócritas é pouco: egoístas, ladrões e desequilibrados, disse Luciano. Opa, só mais uma: - No Rio de Janeiro fecha o tempo, os milicos agredindo os manifestantes em frente à Assembléia...

- Ei, Lula, vai tomar no cu!, Fernando Henrique, vai tomar no cu!, Fortunati, vai tomar no cu!, Cabral, vai tomar no cu!, vão todos tomar no cu!, berra o Contralouco repentinamente. O velhinho novamente o acompanha lá da janela, empolgado, óculos caindo.

Todos olham espantados para o Contra.

- Não foi nada, pessoal, só me deu vontade de desopilar, esclarece risonho, e acrescenta: - Portuga, pode servir a todos, vinho tinto e dyabla verde, o trago é por minha conta, a Vida deu 400 paus! O senhor aí da janela, entre, meu vô, hoje vamos tomar todas, por favor, a porta é ali...

E caminhou para pegar o ancião à entrada.

- Pronto, vai matar o véio - murmurou Jussara.

- Para o meu querido convidado, um cafezinho, Portuga!, disse Bruno Contralouco, emocionado. 

O velho avô lembrou-o de alguém mais novo.


Ficaram com:

Ikenga. Outro clamor, agora puxado por Gustavo Moscão, mandando os que estão a pé tomarem naquele lugar.



Duke. De novo, mandando os médicos brasileiros.


Leilinha Ferro ficou com o Nani. Os personagens, homenageados anteriormente, o foram novamente.




A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que.., bem..., se fundiram  no ano passado (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.

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