domingo, 20 de diciembre de 2015

Yo tengo tantos hermanos, que no los puedo contar

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Falei antes da repugnância que me causa a grande imprensa brasileira com essa história de rivalidade com los hermanos argentinos. Pombas, no futebol a rivalidade sempre haverá, vejam grenal, flaflu, etc., mas a "briga" é dentro de campo, acabou vamos todos - salvo alguns pobres coitados - tomar chopes juntos.

Só que eles, quanto aos argentinos, tentam usar o futebol para criar animosidade entre as nações irmãs, levando o "conflito" das quatro linhas para outros setores. Subliminarmente algumas vezes, noutras nem tanto, é na carinha mesmo.

O narrador-mor da Plim-Plim, aquele imbecil, e comentaristas em geral de todas as redes, vivem fazendo isso. São ordens superiores que eles cumprem. Nada é por acaso. Interessa aos donos da porcaria, estes que são mandaletes do Tio Sam, que nosotros sul-americanos sejamos desunidos.

Hoje o tal narrador, um burro ao cubo, chegou ao ponto de ironizar a torcida argentina na decisão River x Barcelona. Trinta mil argentinos (segundo a PM de São Paulo, seis pessoas), dizendo: "Vieram aqui pra cantar", ao sentir o estádio inundado de cânticos apesar da derrota. Um canalha.

Nunca fui tão bem tratado como na Argentina. Entre muitas lembro de que certa vez à meia-noite desci de um ônibus na estação rodoviária de Posadas e saí perguntando onde acharia um hotelzinho barato. Como não sabia dizer barato em espanhol esfregava o polegar e o indicador, significando dinheiro, e dizia "poquito".

Eu trabalhava como asponezinho numa companhia de seguros, e o Instituto de Resseguros do Brasil vinha há seis anos negando pagar o resseguro, grana alta, de um seguro de vida, acidente ocorrido na Argentina, por falta de um documento das autoridades de lá. Não tinha jeito, meus diretores desacorçoados pela companhia, que já andava malecha das pernas, perder um montão de dinheiro. Minha função era outra, mas me levantei na reunião e disse: "Me dá aqui esse processo, eu vou lá na Argentina buscar esse papel, pra mim eles vão dar".

Acharam que eu estava louco, pois tinham tentado, via advogados de Buenos Ayres, todos os recursos. E fui. O acidente, de carro, que suspeitou-se assassinato, ocorreu em Nieves, pequena comunidade próxima à capital da Província de Misiones, esta Posadas.

Um mocinha me ajudou, em tal lugar tem esse hotelzinho, mas pera aí. E chamou o seu tio. Conversaram e logo me disseram que eu ficaria melhor na casa deles, é casa simples, mas ficariam honrados em me hospedar, e eu não tinha ares de rico não, como não era nem sou. Então soube que ela era argentina, como o tio e o seu falecido pai, mas de mãe brasileira.

Foi um parto para me negar sem ofender o lindo gesto. Ali comecei a conhecer os argentinos. Na volta de Nieves almoçaria com eles antes de voltar a Porto Alegre.

No outro dia fui para Nieves. Um fim de mundo, fui de táxi. Acabei achando o pequeno prédio da sua polícia militar. Como não sou bobo não fui na Justiça, conheço os entraves burocráticos e tal. Pois os humildes policiais vasculharam velhos arquivos por horas, enquanto tomávamos mate e conversávamos sobre futebol e tudo, eles encantados se perguntando como um brasileiro tão jovem conhecia tantas letras de tango, e acharam os documas do acidente.

Deram-me cópia dos documentos que pedi, e ainda, também a meu pedido, uma declaração assinada por todos os presentes, com carimbos oficiais e tudo, de que de fato, em tal data, na curva da estradinha tal, ocorreu o sinistro, etc.

Saí de lá noite fechada, como não tinha condução eles me arranjaram carona, se não iriam me levar a Posadas na sua única viatura. Muitos abraços na saída.

Esses são os nossos irmãos argentinos. Seres humanos como os há em todo o planeta.

Entrei na sala dos meus diretores e joguei os papéis na mesa, rindo e dizendo: "Quero aumento!".


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