domingo, 20 de diciembre de 2015

Yira, Yira

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A primeira vez em que me enfiei nos lençóis de uma argentina foi no bairro Menino Deus de Porto Alegre. Um loura bonairense esplendorosa, linda de rosto, de corpo, que seios! E doce e querida.

A conheci dentro de um ônibus na volta de uma viagem à Argentina. O seu marido dormia, enquanto a mulher ficava de joelhos no seu banco e conversava comigo que estava no banco de trás. Falando baixinho, era madrugada e as pessoas dormiam. Estou dizendo: os hermanos gostam de brasileiros, como nós gostamos deles. Somos gente, ora.

Na revista da fronteira abri a minha sacola para mostrar aos policiais o conteúdo e me cortei com um aparelho de barbear solto, ela que estancou o sangue.

- Conheces o tango Yira, Yira, rubia?

- No me acuerdo...

Então cantarolei: “Verás que todo es mentira, verás que nada es amor, que al mundo nada le importa, yira, yira...”, aí de pronto ela reconheceu. Segui:

- Tem uma passagem que diz: “Cuando estes bién em la vía, sin rumbo, desesperao...”, sabe o que significa “la vía”?

- No, no sé.

- Era um beco sem saida escondido lá atrás das baias nos fundos do antigo jockey de Buenos Ayres, onde os viciados que perdiam o pouco que lhes restava em patas de cavalos, tentando uma sorte que nunca viria, iam para para se matar. Tantos suicídios se deram en la vía...

Assim conversando, vidas, tangos e milongas, que ao amanhecer chegamos em Porto Alegre. Por alguma razão que não entendi o marido dela ao acordar me olhou feio. Na época eu era um perigo, mas aguentei no osso. Adeus, muito prazer e tal.

Um dia, na churrascaria que tinha na frente onde eu morava – 24h aberta – na Av. Getúlio Vargas, o encontrei sozinho e me fez cara feia, não deixei para amanhã:

- O que te fiz, paisano, que não gostas de mim?

- No sé, pero no me gusta.

Eu morava sozinho ali em frente, então peguei as garrafas que o querido garçom Lua me alcançava, fui lá para isso, comprar cervejas, e saí pensando: se não tem motivo para não me gostar, vou-lhe dar.

E dei, fiz da sua amada esposa a minha amante. Tratei-a inicialmente como piranha, só baixaria, taradices e algumas perversões. O resultado saiu ao contrário: apaixonou-se, agora perdidamente, pelo gauchinho boêmio.

Só não gostei de ela insistir para que eu usasse o roupão do cara na casa deles, ele viajando para Buenos Aires, tenho pudor, né.

Histórias assim, de paixões e erros humanos, sempre terminam mal, e com esta não foi diferente.

(segue)

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