jueves, 24 de marzo de 2011

Capricho

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Pelo interior do Paraná. Hoje em Maringá. Bela Maria, do Ingá, a cidade verde. Deu samba, a ver. Plana, ruas largas. Foi planejada, tem apenas sessenta e poucos anos. 

O centro  da cidade a esta hora parece um cemitério, ninguém na rua. A igreja em forma de foguete, sob chuva e luz artificial, parece que a qualquer momento vai arrancar em direção ao espaço. Povoação ainda sem sinais - cinturões - de miséria. Mas tristemente observo movimentos de alphaviles em construção. Eles vão conseguir.
O motorista de táxi oferece mulheres, novinhas, diz ele, vindas do interior. A profissão de caftaxi, um misto de cáften e taxista, disseminou-se pelo Brasil. O sujeito acha muito normal. Estamos bem arrumados: são tantas as exceções que daqui a pouco isso vira regra, como no caso dos políticos, banqueiros e policiais.

Outono. Chuva.

No quarto de hotel, desinteressado rodo os canais de tevê, gesto raro. O arrependimento vem rápido: de repente surge um camarada gesticulando e rindo, repugnante de tão vulgar. Uma baba escorre da sua boca, sinal do prazer que alguma grosseria lhe causou. O seu nome é um insulto ao bicho, sempre tão tímido: Ratinho. Apago. Deus meu. De nada adianta esquentar a cabeça com as concessões dos canais pelo governo, com o mal que fazem, um acinte ao artigo da Constituição que regula o tema, pois os animais, Sarney e todos os outros, jamais irão presos.

Preciso fugir.

O silêncio e a chuva, neste ambiente, sei lá por que, lembro Menuhin às voltas com Ravi Shankar.

Shankar virá outro dia.

Ouço-o interpretando uma das peças mais difíceis para violino solo, o Caprice 24 em Lá Menor, do Paganini.



Niccolò Paganini (Gênova, 27/10/1782 - Nice, 27/05/1840) foi um compositor e violinista que revolucionou a arte de tocar violino, e deixou a sua marca como um dos pilares da moderna técnica de violino. O seu Caprice em Lá menor, Op. 1 Nº 24 está entre suas composições mais conhecidas, e serve de inspiração para outros proeminentes artistas como Johannes Brahms e Sergei Rachmaninoff. (Fonte: Wikipédia).

Yehudi Menuhin, Barão Menuhin de Stoke d'Abernon, (Nova Iorque, 22/04/1916 – Berlim, 12/03/1999) foi um violinista e maestro que passou a maior parte de sua carreira no Reino Unido. Naturalizado suíço em 1970 e britânico em 1985. É considerado um dos maiores virtuoses do violino do século XX.

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