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Estrela do Mar foi um dos maiores sucessos dos anos 50. Ainda é. Mesmo o Brasil, pelos seus "empresários", seja uma colônia dos Estados Unidos, tem coisas que não se arranca assim tão fácil da alma do povo. Um dia talvez consigam, quando a turma do FHC-DEM retomar o poder, pois na falta de outros ativos venderão as nossas almas, com humilhante deságio. Talvez isso seja bom, vai que aí a massa destrua tudo, para recomeçar.
Composição de Paulo Soledade (Paulo Gurgel Valente do Amaral Soledade, Paranaguá, PR, 29/06/1919 - Rio de Janeiro 27/10/1999) e Marino Pinto (Marino do Espírito Santo Pinto, Rio de Janeiro, 18/07/1916 - 28/01/1965).
Paulo Soledade tem outros grandes sucessos, o que mais amo é Estão Voltando as Flores, que compôs solito. Com Antonio Maria tem Insensato coração. Já é noite, com Fernando Lobo e Sonho desfeito com Tom Jobim.
Marino Pinto tem entre sua grande obra: Aos pés da cruz, com Zé da Zilda, Cabelos brancos, com Herivelto Martins, Chega mais, com Pernambuco, Cuidado com o andor, com Mário Lago, Nós os carecas, com Arlindo Marques Jr. e Alberto Ribeiro e Teleco-teco, com Murilo Caldas.
Estrela do Mar foi lançada por uma moça que havia escolhido como nome artístico o nome (um dos muitos nomes da Estrela da Manhã) de Dalva de Oliveira (Vicentina de Paula Oliveira, Rio Claro - SP - 05/05/1917 - Rio de Janeiro, 31/08/1972) no sagrado ano de 1952.
Pastorinhas é de 1934, quando João de Barro, ou Braguinha (Carlos Alberto Ferreira Braga, Rio de Janeiro, 29/03/1907 - 24/12/2006) propôs a Noel Rosa (biografia à parte...) numa mesa de bar: "Noel, vamos fazer uma música com aquele ritmo das pastorinhas da Vila Isabel na noite de Santos Reis?". Noel topou e a fizeram ali mesmo, em meia hora compuseram "Linda Pequena", mais tarde com alterações feitas por Braguinha, no título e na letra.
Marchando... lembro que eu não gostava da Maria Betânia, como também sempre desconfiei da original, a Maria de Betânia, bem diferente daquela que o Nelson Gonçalves gravou.
Ainda não gosto.
A mulher me perguntou naquele quartinho:
- Mas por quê não gosta dela, se todo mundo gosta, as marchinhas sei que tu ama...
- Por isso mesmo, todo mundo gosta. Veio cantar marchinha agora. Antes eram esquerda. Acorda, Alice: artista não tem lado, salvo poucos, e estes criticados pelo seu proceder, ora misturar arte com salvar o povo; artista canta até para o Médici, o negócio deles é dinheiro, tomado das massas como a turma do Delfim Netto toma, sempre foi assim, sempre será assim. Lições de ré-fá-sol-lá-si não ensinam a viver e ser gente, ensinam apenas a saber tocar.
- Não entendo. Me diz, por quê ela?
- Não é só ela, aquele aleijado mental do Roberto Carlos não consigo ouvir que me dá um nojo, e tem mais um monte. Ela até que eu aguento bem. Pegue o irmão dela pra ti, pra ver. Intelectual. Com um ano dos doze de colégio dele, com comida, pai, amigos... Tá cheio de guri assim aí fora. O mesmo serve para jornalistas, para políticos, pra puta que pariu.
- Mas por que, moço? Nós aqui, pelados, falando nisso? Tu tem até o fim do mês, a dona foi bem clara, até o fim do mês e fim, tem tempo, quinze dias. Já sabe para onde vai?
- Não sei ainda, mas vou para algum lugar. Ela que enfie este puteiro naquele lugar, um dia eu volto.
- Tomara que tu não volte, aqui é só azar, esquece isso de voltar. Tou aqui há 12 anos, já tenho 32, e quando puder sair me sumo. Tu tem só 20, suma, não aceite a proposta dos caras dos assaltos, faça um concurso, tu leu toda essa pilha de coisas que eu e as meninas trouxemos.
- Vou sair, sem caras de assalto. Depois de amanhã.
- Vem aqui, pega nos peitos. Me diz, porque não gosta da Maria Betânia?
- Porque beija todo mundo e nunca veio me dar um abraço.
- Mas tu foi procurar por ela, pediu?
- Está louca, mulher? A Bahia é longe pra caralho. Essa gente é como falei, julga o cara pela grana no bolso, a menos que seja mais um músico de merda.
- Foi assistir a show dela?
- Está louca de novo, mulher? A grana de um show desses palhaços dá para comprar uma arma boa.
- Então queria o quê, sem procurar porque não podia, sem gastar uma para assistir a dona, sem se mostrar?
- Queria o mesmo que me deste, Marina. Que ela viesse. Um abraço, um beijo na face. Bom seria na boca, ensinaria a tianga a trepar. Como não veio, essa gente não vem para ninguém, é tudo igual, como os bandidos ali da Praça, mas estes tiveram estudo que ainda não tive, e quando vêm é para arrancar do povo idiota, como aquele irmão dela. Tudo igual, jornalista, advogado, cientista, tudo merda, só são o que são pela oportunidade, com direito a carinhos de dinheiros roubados um dia, décadas ou séculos antes. Eu vou fazer meus filhos noutro lugar. Serei feliz.
E fui. Meu Deus do céu, não merecia tanto.
O que começou a me dar nos nervos foi uma cartinha de uma moça, coisa que nunca ousei por saber o resultado, a cara de nojo, talvez, dos artistas para ignorantes. Ela dizendo que estava triste porque nunca a olhei como ela gostaria. Pensei em responder: moça, não sou artista de nada, jamais imaginei que alguém que não conheço viesse a gostar de mim. E olha que nada tenho, passei a vida distribuindo abraços e trocos que ganhei.
Vou lá dar-lhe um abraço, em particular, só um abraço apertado, algumas palavras de consolo, o momento certamente é ruim. Vai que meu erro tenha sido esse, não saber pedir.
Mas não gosto dela e dos amigos dela. O correto seria pegar um presidente da república e tentar explicar-lhe o significado de dispor na escola pública opções, artes em geral, com instrumental adequado, como nas ciências também. Meninos, eu hesitaria entre bandolim e violino, mas ficaria com o último, sei que daria certo, sinto.
O presidente não pode, só matando os gatos que o cercam e que o elegeram. O sistema de 500 anos é terrível.
A Maria Betânia não sabe o que perdeu, por nunca ter-me dado um abraço. Todos eles, quando fazem seus shows a preços inacessíveis a quem realmente os paga, não sabem.
Salito... A puxadinha do acordeão, já no início... Ai Deus.
ResponderBorrarViver logo que logo acaba
Feliz por ti. Muitomuitomuito.