Astro dos loucos,
sol da demência,
Vaga, noctâmbula aparição! sol da demência,
Quantos, bebendo-te a refulgência,
Quantos por isso, sol da demência,
Lua dos loucos, loucos estão!
(Raimundo Correia)
Se algum dos milhares de terráqueos amigos deste bloguinho olhar para o céu, na noite deste sábado, verá a Lua, ó Lua, que no céu flutua. Deslumbrante, gigantesca, festejando a oportunidade de passar se esfregando na gente.
Dá o que refletir, amores e sortilégios, para nós que não mais pensamos em realidades (um segredo: as realidades são irreais, tudo mentira...).
Há quem diga da sua influência em plantações, cortes de cabelos, até em tragédias (uns otários já estão sugerindo que o terremoto no Japão...) e em muitas coisas.
Mas também há quem diga, e aqui decidimos que isso é verdade, que a Lua é um dos principais símbolos do princípio feminino, que biologicamente a mulher segue as fases lunares, que o espelho prateado reflete sonhos, percepções, visões e fertiliza as sementes da criatividade incubadas durante a escuridão.
O primeiro dia deste perigeu lunar, o Plenilúnio, desta vez a trará mais majestosa do que em muitos anos anteriores. O Apogeu se dá quando a Lua está mais distante da Terra, o Perigeu quando mais próxima, vá entender, no apogeu estará pequenina... Pois hoje se dará o maior e melhor plenilúnio das últimas décadas.
Bem, deixando a ciência para lá, importa que hoje é o dia para fugirmos para um local sem luz artificial, para melhor apreciar o fenômeno.
Os boêmios, tão cheios de sonhos, estes que muitas vezes são julgados uns lunáticos, têm muitas razões para admirar a formosa dama. Afinal, muito trago rolou em homenagem a essa mulher sempre tão fria conosco, tão longe...
Aos lunáticos: a superlua!
Aos boêmios: idem, é todinha nossa!
Plenilúnio
(Raimundo Correia)
Além nos ares, tremulamente,
Que visão branca das nuvens sai!
Luz entre as franças, fria e silente;
Assim nos ares, tremulamente,
Balão aceso subindo vai...
Há tantos olhos nela arroubados,
No magnetismo do seu fulgor!
Lua dos tristes e enamorados,
Golfão de cismas fascinador!
Astro dos loucos, sol da demência,
Vaga, noctâmbula aparição!
Quantos, bebendo-te a refulgência,
Quantos por isso, sol da demência,
Lua dos loucos, loucos estão!
Quantos à noite, de alva sereia
O falaz canto na febre a ouvir,
No argênteo fluxo da lua cheia,
Alucinados se deixam ir...
Também outrora, num mar de lua,
Voguei na esteira de um louco ideal;
Exposta aos euros a fronte nua,
Dei-me ao relento, num mar de lua,
Banhos de lua que fazem mal.
Ah! quantas vezes, absorto nela,
Por horas mortas postar-me vim
Cogitabundo, triste, à janela,
Tardas vigílias passando assim!
E assim, fitando-a noites inteiras,
Seu disco argênteo n'alma imprimi;
Olhos pisados, fundas olheiras,
Passei fitando-a noites inteiras,
Fitei-a tanto que enlouqueci!
Tantos serenos tão doentios,
Friagens tantas padeci eu;
Chuva de raios de prata frios
A fronte em brasa me arrefeceu!
Lunárias flores, ao feral lume,
Caçoilas de ópio, de embriaguez-
Evaporavam letal perfume...
E os lençóis d'água, do feral lume
Se amortalhavam na lividez...
Fúlgida névoa vem-me ofuscante
De um pesadelo de luz encher,
E a tudo em roda, desde esse instante,
Da cor da lua começo a ver.
E erguem por vias enluaradas
Minhas sandálias chispas a flux...
Há pó de estrelas pelas estradas...
E por estradas enluaradas
Eu sigo às tontas, cego de luz...
Um luar amplo me inunda, e eu ando
Em visionária luz a nadar.
Por toda parte louco arrastando
O largo manto do meu luar...
Raimundo Correia
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