martes, 1 de octubre de 2013

Para me irritar, a insânia, n'A Charge do Dias

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- Hoje o Salito me disse que quando quer se irritar lê o Ruy Castro. Eu sou mais ortodoxo, para me incomodar e estragar o meu dia leio o Delfim Netto, o Luiz Pondé, o Juremir, o Arnaldo Jabor e todos os políticos que escrevem em jornais. Aliás, quanto ao Delfim, em meio à leitura sou tomado de recordações da ditadura e o jornalão que o publica me desperta náuseas, disse Aristarco de Serraria.

Como se vê, hoje um dos assuntos do botequim foi sobre métodos de autoaporrinhação, com o filósofo Aristarco me botando no meio. Defendo-me à distância: falei em me irritar somente, companheiro Aristarco, por isso pego leve, pois se fosse ler as pessoas que citaste eu cortaria os pulsos. Quanto ao cidadão mencionado, não sei quem é, mas as duas ou três vezes em que me caiu às mãos uns bilhetes que escreve o sujeito estava em cruzada contra os Black Blocs, intolerância pura, raivosa, a pretexto de fazer gracinhas com coisa séria, não sei se é a idade, é um homem velho, talvez insatisfeito pelas insondáveis reflexões da velhice, como lembranças de coisas que poderia ter feito e não fez, mas, ainda que a sua especialidade seja falar da vida alheia, afinal quer o quê? Que os meninos aguentem quietos esse estado de coisas? Por que tanto lhe dói a revolta da juventude? Ou é para puxar o saco do dono do jornal, pois não é o único dos empregados da Folha que está em campanha contra os moços de preto. Outro reparo é sobre os garranchos dos políticos: essa raça não sabe escrever um parágrafo, meu amigo, são bons é de conversa, afinal passaram a vida treinando mentiralhas em frente ao espelho. Tente imaginar o Lula externando pensamentos numa A4, não dá, né, seja pela falta de pensamentos ou por meios de externá-los, ou, o que é mais provável, por ambos, e que não me venham chamar verdades de preconceito. Quem escreve as matérias dos politicalhos é o "escritor fantasma", o "ghost writer" tupiniquim. Por fim, lembrem os amigos do nosso trato: incluam-me fora das discussões.

- Eu, quando quero me irritar, perco a parada do ônibus, aí tenho que descer e pegar outro de volta, disse Clóvis Baixo.

Odoacro (sei, mas não me culpem pelos nomes das figuras), primo do Aristarco, de visita ao bar, foi mais simples:

- Eu assisto ao Jornal Nacional. Depois vejo o boquinha de chupar ovo aquele no outro noticiário, me falta o nome agora, um que acusavam de ser do Comando de Caça aos Comunistas, aliás acho que morreu, nunca mais o vi.

Depois Aristarco esclareceu que o primão leva o nome de Odoacro em homenagem ao cara que destruiu o Império Romano. Os velhos eram cultos. Interessante... só se fala, com quilômetros de filmes, do Império Romano, mas nada se diz sobre quem venceu aos valentões; pior, insinuam que eles perderam para si mesmos. Por que será?

- Eu começo a fazer carreteiro e saio, deixando a panela no fogo. Só volto horas depois, na última vez os bombeiros tiveram que arrombar o apartamento, os otários não viram que deixei a janela dos fundos aberta, disse Bruno Contralouco.

- Eu assisto cinco minutos do programa Manhattan Connection, mais não aguento, disse Jezebel do Cpers.

- Que programa é esse?, perguntou Clóvis.

- Ah, uns almofadinhas do Brasil que ficam falando de lá dos Estados Unidos, ela respondeu.

- Eu leio o lambe do Collor, disse Marquito Açafrão.

- Lambe do Collor?, hesitou Jezebel.

- Sim, aquele Cláudio Humberto, é batata, arruina o dia definitivamente.

- Eu boto uma música countrymexicaneja, chamar de sertaneja não dá, disse Chupim da Tristeza.

- Eu procuro uma música do Roberto Carlos, falou a professora Jussara do Moscão. - Aquela do entro no  meu carro e a solidão me dói nem o Papa aguenta, sabem, né, o importado dele tava com uma mola solta.

- Eu puxo assunto com uma petarrenta, disse Luciano Peregrino, hoje de poucas palavras. (O boêmio chama de petesudas às petistas fanáticas que são gostosas, raras, aliás; as demais são petarrentas, isso é coisa dele, eu fora)

- Eu entro num templo do Edir Macedo e ouço a pregação de algum viado daqueles, pra mim faz um bem danado, cresce a vontade de enchê-los de porrada, disse Gustavo Moscão.

Bruno Contralouco, que já cometeu a loucura de entrar num templo na Av. Mauá, ficou bem quietinho, pois naquela vez não se aguentou e começou um baile lá dentro. Saiu todo quebrado, mas se vangloriando de ter surrado dez gorilas mãos de gato, como falou à época.

- Eu vejo uma charge do Imbessinha, declarou Freddy Lorpa, referindo-se, o malvado, ao Bessinha.

Um por um os boêmios foram discorrendo sobre as suas manias. Algumas me surpreenderam, mas, enfim. Omitimos outras, o blog é familiar.

Com a professorada já presente em peso, o assunto mudou, de repente o bar inteiro estava na Cinelândia, vendo os meganhas espancarem modestos professores cariocas. Os trilhões de leitores podem imaginar a indignação, o governador Cabral Delta Guardanapo e o prefeito Paespalhão só não foram chamados de filhos da puta em respeito às suas genitoras, mas saiu de assassinos covardes para cima. Vão acabar no Guinness pelo recorde mundial de truculenta burrice, conforme disse a professora Ain. 

Silvana prenunciou que logo até os seus comparsas da imprensa se sentirão obrigados pela opinião pública a cair de pau na insânia de ambos. Depois leu o desabafo, de hoje, de sua colega Luiza Debritz, do Rio de Janeiro:

Hoje nos enfiaram goela abaixo um plano de cargos e salários cretino, balas de borracha, coquetéis molotov, bandidos fardados, bombas de gás lacrimogênio, professores feridos, lágrimas nos olhos, cães em cima do acampamento dos professores resistentes.

Em algum momento vimos um cidadão sendo preso porque se pronunciou contra a ação truculenta da polícia, perguntamos: preso por quê? Tá preso porque tá preso. E o comandante dizia para os outros condicionados: não fala nada, não tem diálogo, tá preso porque tá preso. Sabe por que não é pra falar nada? Porque não há o que dizer, não sabem, uma cambada de pau mandado, cachorrinhos do Cabral. 

Quando a greve começou e houve as primeiras manifestações dos professores eu pensava "que orgulho dessa classe", é uma luta que me preenche, que me representa, que me move, os professores municipais são exemplares, foi sempre tudo pacífico e animado, com tom de luta sem agressividade. Não consigo ligar a luta que já dura quase dois meses de diálogo aberto e pacífico com o campo de guerra que se tornou a Cinelândia hoje. Não desce, é uma sensação horrível.

Silêncio no botequim.

- Insânia... sem-vergonhice agora trocou de nome, sussurra Tigran Gdanski.

Logo todos estavam elogiando novamente os governantes, em altos brados, com repertório inadequado até para a mansão que havia em Brasília, onde o Palocci se reunia com amigos, ladrões e prostitutas, se é que dá para diferenciar os primeiros uns dos outros. Fecha-se uma mansão, abre-se outra.

Instados pela Leilinha, renovaram os aperitivos e partiram para a escolha das charges.

A primeira obra alude a esses elementos, com o mestre Nani.




Aroeira.



S. Salvador.




Deram uma maneirada, com o Sinovaldo. Não há no bar, salvo o Portuga, que torce pela permanência, quem não queira a caveira do Dunga.




Leilinha resolveu fazer um agrado ao Portuga, que acha que ainda é possível levar o título. Com o Jader.



A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que.., bem..., se fundiram  no ano passado (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.

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