domingo, 21 de septiembre de 2014

Aos madrugantes de Madre Teresa

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Por gentileza, eventual madrugador de noite perdida, ao voltar para casa de porre e desacompanhado pela manhã, avise a Sra. Ana Amélia e seus aspones, chefes, da judéia, se tiver a infelicidade de topar com um deles pedindo votos no Brique da Redenção, que não esperem uma cartinha aqui deste bloguinho. A propósito, se encontrar o Padilhão ou outro grandudo de malas do pmdb, fuja em disparada, segurando os bolsos para evitar que a carteira caia em alta velocidade, ainda que lhe prometam cargo em comissão, como o daquela, para não fazer nada. Vai por mim, um dia dá cadeia.

Recomendo umas derradeiras cervejinhas ao chegar ao lar, janelas abertas e disco do Waldir Azevedo no som. Na falta do Waldir, pode ser Elizeth e Jacob do Bandolim, outros chorinhos ou samba bom, e se também estes faltarem, então o amigo não tem discos em casa, tente ligar na Rádio Clube de Canela, FM 88.5, do meu camarada Pedro Dias, em música a melhor do mundo, isolada desde que os pastores destruíram a música da Guaíba, que empatava, abstraída a preponderância dos gêneros. Considere a nossa amizade abalada se colocar no prato pagodaços e sertanojos.

Depois dê uns telefonemas, combinando o churrasco mais tarde com a turma, não há nada melhor que vozes amigas em situações assim, de bebedeira, de volto para casa abatido, apartamento vazio, e de encontrar logo quem pelo caminho. Derruba qualquer um.

E relaxe, estique as pernas no sofá, beba, ouça a música, pense com esperanças, fervor, naquela mulher, a ideal, que nunca aparece mas que um dia vai aparecer, ah, vai, linda, com olhos só para ti.

Esse ritual muitas vezes já me salvou o dia, afinal é sábado, à noite tem mais, e há que se compensar o desgosto do encontro matinal, já experimentei em eleições passadas.

E nada de brigar! Vamos em paz.

Ainda criança aprendi com a minha bugra velha, sabedoria vinda da taba, que a gente só briga, consciente ou inconscientemente, e só de boca - arma é uma desgraça para defesa em último caso - com quem a gente gosta. A variável é se pouco ou muito, mas gosta. Como familiares e amigos, uns mais próximos, outros menos, cada um com seus defeitos, como todos nós filhos de Deus, mas com inegáveis pontos positivos. Gente que, ao nosso ver, sempre tem chances de recuperação por méritos próprios. Gente que não erra por querer errar.

Eu não gosto daquela outra gente, nunca gostei. Recalque, oba, que bom. Poesia a turma do bonfa inventou, felicidade de meia-dúzia de ricos, com professor de música e tal. Era um inferno. E atrapalhavam a gente, chamando a atenção da polícia, se injetando sei lá o que nas veias ou dando a bunda, bem na hora, a única hora, de poucos guardas, em que podiámos pescar um peixe do lago da Redenção, às 4 da matina para matar a fome.

Está certo, não fizeram por mal, mas pensando em seu bem estar fiquei mais dois dias com fome, ao ponto de desmaiar. Não fizeram por mal mas me controlei para não dar um facada na goela daqueles merdas eleitores do fogaço. Não dei porque não sou hijito de pápi como eles, eles me dariam, vindo de turma porque sozinhos são nada. Então não adianta escola boa, caríssinha, pura picaretagem, se a educação não vir de casa.


Aliás, sobre o assunto de não querer errar, creio que terei de conversar com certas pessoas que nem me conhecem. Sei não, mas tem gente em Brasília que não entende. Eu jurava, e a carioca Doramaria Tavares de Lima Kramer me ouviu naquele sábado em que bebemos todo o bar Carpe Diem em Brasília, que ele, sinistro desde menino (sinistro de canhoto, amigos da Patagônia, o contrário de destro, esquerda como eu, nada a ver com vampiro) ia ao menos centro-endireitar aqueles que chamo de nazis - que bobinho eu, como diz a modelito Anahí - mas temo que eles o estejam extrema-nazistando. Depois de deixar entrar a cabeça, bem, meu, azar é no teu.

Que pena, cantei, José Serra, em poucos anos serás um morto. Bem, estás podre de rico, e se assim deseja que seja, que seja, Saravá. Quatro anos se passaram?

Onde andará a Dorucha, escrevendo em jornal, certamente, é boa de pena. Que figuraça, outro dia contarei do suco de laranja que ela tomou com as amigas na Bahia, sem açúcar.

A gente briga sim, por vezes no calor da discussão diz coisas que não quer dizer, mas um dia passa, o mundo lá fora, o sofrimento, a condição humana, reduz a pó as nossas pobres vaidades. Disso entendo um pouco, muito brigaram e brigam comigo, pela extensa lista de mancadas. Sem querer. Eles guardam rancor, talvez pelo medo de que não tivéssemos dito tudo, o pior ainda por vir, é defesa prévia, e maldosa. Eu sempre disse tudo.

Pera...

(...)

O telefone. Gonzalo Matabanquero de lá do Ecuador, depois de me perguntar sobre uma cantante uruguaya, de passagem me disse que fedeu no Rio Grande, um negócio no banco estatal. Estranhei, anos atrás li sobre um estouro que levaria a todos para o xilindró. Creio que equivocou-se, ele entende mal o português, deve ser no Rio Grande do Norte, ou o rolo é nacional. Mas também já houve nacional. Ué. O quê, Gonzalo, a privataria? Tá louco, meu, quase me assustou, isso tem mais de dez anos, olhe a data do jornal que estás lendo na prisão. E ainda não deu nada.

Toda publicidade estatal é pilhagem explícita, divisão pelo sistema árabe rachid, palavra que todos sabem que significa honesto, bem aplicada no caso, uma divisão honesta do butim: meio a meio. Falei para o Lula em 1988, expliquei como funcionam os esquemas, até nomes dei. O que ele fez? Tornou-se fã dos caras.

No Brasil não é nada, não prendem os pilantras por que não querem, pior os que não são estelionatários declarados, como aquele colombiano, o Augusto Monteblanco, do Instituto Bol Pitón, el Ibopi, dá de mil a zero no baiano ladravaz que o elegeu Lulinha Paz e Amor.

Mas hoje não quero pensar nisso, Gonzalo fica na dele, aqui o sábado está lindo, faremos churrasco, vou tentar aprender com Juanito o assado à moda da terra.

Deixa ver... Ah, tem a convivência: a gente passa a amar até gatos, imagine pessoas com quem se dividiu pão seco em trincheira molhada, inverno gelado. Gatos, esclareço, refiro-me ao animalzinho doméstico, não aos caras do Itaú, hoje irmãos de sangue da Marina você se pintou.

Até a distância nos une, saudade da língua. Certa vez, fugindo de Mr. F. Febraban e seus mercenários, encontrei um morador de Horizontina no centro de Cracóvia (na Polônia, para evitar trabalho de pesquisa à rapaziada do Chaco). Nunca tinha visto o cara mais gordo, mas ficamos 15 minutos nos abraçando, depois nos encharcamos de wino proste e nos tornamos amigos para sempre. Grande cara, o Tigran Gdanski. Logo que chegar em Porto Alegre darei um jeito de tomar uma dúzia de pré-sal com ele e Walter Schumacher no antigo Pampulha, hoje boteco O Porto. Mesmo sem divulgar a data do encontro, meus seguranças de arremetida terão de fechar o Beco do Oitavo, a rua André da Rocha, mas o que fazer, com Febraban e Daniel Mendes, ou Dantas, não dá para descuidar. Pensando bem, melhor levar o bar inteiro para o bunker. A ver.

E tem aqueles de quem se gosta mesmo de longe. Podem ter um trapo de vida pessoal, traços de loucura, fobias, não importa. Possuem virtudes que justificam o fato de termos vindo ao mundo. Madre Teresa, Mandela, Muhammad Ali, para ficar só em três na letra eme, sem fobias e loucuras, que eu saiba. Coragem e despreendimento. Se formos lembrar dos admiráveis beberrões, faltará espaço.

Morro de medo de quem não bebe, não transa (lembram da pesquisa sobre os políticos e outros bichos? Pois é...), não isso, não aquilo, não mais aquilo, olhares repreensivos e orelhas de abano do bicho que mal sabe o que faz neste mundo. Interminável sequência de não. A Agnes Gonxha Bojaxhiu (agora entendi a mudança de nome, Madre Teresa) era uma dessas que não bebia e não transava, ao que tudo indica, mas parava por aí a negação, consciente de si mesma a ninguém repreendia, só auxiliava, linda, todos conhecem essa história.

Se os políticos lembrassem dela num sábado pela manhã, de coração, uma vez por ano, não teríamos essa mortandade em porta de hospital.

Ah, dizia que meus amigos e eu não somos de sair esbravejando com aquele paraguayo que vai passando no outro lado da rua, não conhecemos o sujeito. A gente não briga com quem não conhece.

E, principalmente, a gente nunca briga com quem sinceramente a gente não gosta, destes dicen que la distancia es el olvido.

Y así pasan los dias.

Me voy a la carnicería.

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