Que
sina, meu Deus do céu. Lembro do samba do seu Ary Barroso que terminava dizendo
"Oh, Deus, como sou infeliz". Começou comigo andando abaixo de chuva,
chapéu virado em calha, derramando rios, em direção ao xópin da João Pessoa, lá
tem uma lotérica que fica aberta até às seis, as demais não abrem sábado à
tarde, medo de assalto, como se os putos não tivessem seguro da mamãe Caixa.
Uma pernada e tanto, saindo da Rua da República.
Chego
lá e falta a porra da luz, um cabo sifu na esquina da Ipiranga com Getúlio
Vargas, fiquei zanzando pelas lojas por uma hora, de lero com as vendedoras no escuro,
conheci a Marta, cliente que andava por lá meio solta, comprando calcinhas,
sugeri vermelha, combina com sua pele morena. Calcinha azul cai bem em alemoa.
Voltou
a luz. Fui à lotérica e fiz uns joguinhos, não quero muito, nada de Mega Sena,
finquei cinquenta paus na tal de Lotofácil, às brincas, sonhei com essa droga,
deve pagar duzentos mil se pegar na pinha, vamos ver se é fácil mesmo, pra mim,
pois para os larápios do governo com certeza.
Aí
que eu digo, Oh Deus, Estamos voltando pra casa, eu e a Marta, ela topou
tudinho, louca pra conhecer minhas gurias, a tarada, a cama de 40 metros
quadrados e tal, e na esquina da Rua Olavo Bilac encontro a Márcia, de pronto
saltou à mente a calcinha marrom, que vinha arrastando uma mala e outros
badulaques. Não a via há quatro anos. A Márcia morava com a gente, mas apareceu
um zé-bonito, boa conversa, carro do ano, era cliente do cabaré, ela ficou
encantada com a promessa de casamento, de lua-de-mel numa praia de Porto Rico e
nos abandonou. Eu deixo ir, por mim... Filha da mãe, marquei na paleta.
O
cara usou e abusou, logo ela estava pendurada no pincel. Eu não dei guarida,
nem me pediu. Desde que o mundo é mundo é assim, mas soque na cabeça das
tantãs, nem Jesus consegue. Putinha é foda, meu.
Ela
trabalhava numa boate ali adiante, mas por alguma razão se desentendeu com a
testa-de-ferro do lugar, pois o dono é finório e nunca aparece, e saiu de mala
e cuia, ela sempre foi brabinha. Bateu os olhos em mim e caiu de joelhos:
"Me perdoe, Salito, como fui burra, me perdoe, deixe eu voltar pra nossa
casa, meu amor". Cortei os choramingos: tá em boca de rua? Levante,
mulher. Caiu de joelhos logo sobre uma poça dágua, a abobada.
Nossa
casa um caralho, pensei, mas fiquei frio.
Não
sei dizer não pra mulher chorando. Disse bora mulher, vem comigo, ora se
rebaixando na rua, parece puta fingida, levante, machucou os joelhos. E
seguimos, a Marta, a Márcia e eu. A chuva engrossou. Eu com os cartões da
Lotofácil no bolso, a Marta ajudando a nova amiga a carregar seus trastes,
ambas se esforçando para me acompanhar. A pedra que ela me deve vai pagar com
juros, um milhão por cento.
Ontem postei no feicebuc que estava em um relacionamento sério com vinte mulheres, a amiga Silvana me ajudou com o cartaz com os dizeres (ela botou 20 "muié", pra me sacanear), mas arrisco: daria muito
trabalho, Sil, mudar pra vinte e duas?
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