Ah, esta cervejinha sim, gelada, obrigado, Mariana.
Mariana hoje está de folga, passando umas camisas pra mim, sou bom de lavar, na máquina, mas passar...
Larga o ferro e vai pentear o Gatolino no sofá grande da sala, procurando pulga que ele não tem. E se tiver azar. As outras estão trabalhando no
cabaré da Olavo Bilac. Se não quer que eu saia, não saio. Tudo bem, sei que se revezam agora pra mim não
ficar sozinho depois que atirei o dono da boate, errei mas arranquei
uma orelha do sem-vergonha, mas ainda não estou contente, tem uma coisa me
incomodando.
- É isso que estou pensando, mulher?
- É, mas também não quero que tu faça bobagem.
Só olhei pra ela e envermelhou, ora fazer bobagem, a gente faz o que é preciso. Elas andam encucadas pelo tiro que dei no patrão. E o jurei, vai levar mais se demitir ou tratar mal as minhas mulheres. Ele levantou um monte de negão bandido, mas eu trouxe cinquenta ex-moradores do presídio central, tudo gente fina. Então as mulheres trabalham e ele não mexe com elas.
O gestor da empresa, como ele se diz, igualzinho às múltis que exploram o Brasil, diz que a firma é boa, lenocínio é melhor que investir na Bolsa, alega que ofendeu a Sibylle em briguinha caseira, não foi por mal, a haitiana foi pro salão com uma camiseta da Dilma, e se a Dilma perder ficarão mais ricos, e me pede desculpas, o sem-orelha, todo santo dia, perdão e mais perdão. Menti que perdoei, não se preocupe, orelha só, tá perdoado, esqueci aquele assunto. Ele morre antes da eleição. Como se eu não soubesse que estão me caçando, o brabo é passar pelos meus negos lá na frente do prédio.
- Marianita, não te ocorre nada melhor pra fazer do que ficar penteando esse gato de merda?
- Ai, o que houve, meu amor, só tou...
- Tá nada, me dá esse gato aqui, vou atirar na rua!
Aí foi aquele puxa, larga e pega o Gatolino. A abobada achou que eu ia atirar mesmo o Gatolino aqui de cima. Mais fácil atirar a ela, que Deus me livre. Mas nesse larga e puxa saiu um calor, terminamos em beijinhos, digamos assim, ela pedindo tapa na cara e na bunda, ai meu Deus.
Agora, toda molinha, está penteando o LF, o gatinho novo, batizado por uma amiga assim para minimizar o impacto do nome por extenso, Louco de Fome, o magricelo é um funil.
- Tu me mentiu, morena, no que eu estava pensando antes. Não era no dono do puteiro.
- Eu quis falar daquele aqui do prédio, achei que era isso que tu tava pensando, disse miudinho, olhos pregados no pentinho do gato.
Enjoei da cara da Mariana e dos gatos, vou descer, vai que de repente encontre o vizinho do 309, um andar abaixo, ando doido pra dar um tiro no todo metido a fortão, outro dia deu um tapa no moleque guardador de carros que mora na rua, já arrumei pouso e dentista pra ele. O bem-bom foi educado demais com Dolores Sierra, e pelo que sente Mariana de Rosário o filho da puta foi mais longe. Inventou de dizer que Mariana de Rosário, a minha índia da Serra do Caverá, vai mudar de dono.
- Hoje não, Salito, mas mate ele.
Adoro a Mariana, que além de ler pensamentos tem um bom coração. Ela pediu pra deixar pra outro dia e saiu para o quarto juntar suas coisas, a pequena me conhece.
Desço as escadas pedindo a Deus que ele saia também. Pensando melhor, vou tocar a campainha da casa dele e elogiar o bucho que tem como mulher, oi, gostosa, pra ele ver como é bom elogiar a mulher dos outros. Não, isso não, a sua senhora não tem nada a ver com isso. Que nada, duvido que um bosta desses tenha mulher.
Volto para o meu apê. Telefono para a moçada lá de frente: vai sujar, subam quatro. Já com eles em casa dou breves instruções: um acompanha a mulher e os gatos, os demais levarão os objetos pequenos e apagarão as digitais, o aluguel é com nome falso mesmo, é só sair, limpem direito, precisarão ser rápidos, não esqueçam de levar junto o lixo. Falei por falar, a turma conhece o ritual.
Botei as luvinhas de cirurgião, acho ridículo isto, mas é preciso. Abro uma cervejinha e espero duas horas, até a operação terminar. Saem todos, o apartamento se transformou num esqueleto, só restaram os móveis. Espero mais meia hora.
Com a turma já longe, enrosco o silenciador na Magnum, desço pelas escadas e toco a campainha do indivíduo. Não se pode ter 22 mulheres que os caras ficam se escalando. Vou descarregar a arma na cara dele, sem papo.
Mariana hoje está de folga, passando umas camisas pra mim, sou bom de lavar, na máquina, mas passar...
De
modo que, como ela está ocupada, eu mesmo vou comprar mais umas cervejinhas.
- Leve a arma, ela diz.
- Ora, mulher, tenho amigos lá embaixo.
- Leve, ela insiste.
Sentei de novo.
- Que medo é esse, guria? Não vou morrer por andar na rua.
- Nunca se sabe, Salito, na rua não, mas de repente no elevador, nas escadas, a gente nem conhece os vizinhos...
Acendeu o alarme.
Acendeu o alarme.
- É isso que estou pensando, mulher?
- É, mas também não quero que tu faça bobagem.
Só olhei pra ela e envermelhou, ora fazer bobagem, a gente faz o que é preciso. Elas andam encucadas pelo tiro que dei no patrão. E o jurei, vai levar mais se demitir ou tratar mal as minhas mulheres. Ele levantou um monte de negão bandido, mas eu trouxe cinquenta ex-moradores do presídio central, tudo gente fina. Então as mulheres trabalham e ele não mexe com elas.
O gestor da empresa, como ele se diz, igualzinho às múltis que exploram o Brasil, diz que a firma é boa, lenocínio é melhor que investir na Bolsa, alega que ofendeu a Sibylle em briguinha caseira, não foi por mal, a haitiana foi pro salão com uma camiseta da Dilma, e se a Dilma perder ficarão mais ricos, e me pede desculpas, o sem-orelha, todo santo dia, perdão e mais perdão. Menti que perdoei, não se preocupe, orelha só, tá perdoado, esqueci aquele assunto. Ele morre antes da eleição. Como se eu não soubesse que estão me caçando, o brabo é passar pelos meus negos lá na frente do prédio.
- Marianita, não te ocorre nada melhor pra fazer do que ficar penteando esse gato de merda?
- Ai, o que houve, meu amor, só tou...
- Tá nada, me dá esse gato aqui, vou atirar na rua!
Aí foi aquele puxa, larga e pega o Gatolino. A abobada achou que eu ia atirar mesmo o Gatolino aqui de cima. Mais fácil atirar a ela, que Deus me livre. Mas nesse larga e puxa saiu um calor, terminamos em beijinhos, digamos assim, ela pedindo tapa na cara e na bunda, ai meu Deus.
Agora, toda molinha, está penteando o LF, o gatinho novo, batizado por uma amiga assim para minimizar o impacto do nome por extenso, Louco de Fome, o magricelo é um funil.
- Tu me mentiu, morena, no que eu estava pensando antes. Não era no dono do puteiro.
- Eu quis falar daquele aqui do prédio, achei que era isso que tu tava pensando, disse miudinho, olhos pregados no pentinho do gato.
Enjoei da cara da Mariana e dos gatos, vou descer, vai que de repente encontre o vizinho do 309, um andar abaixo, ando doido pra dar um tiro no todo metido a fortão, outro dia deu um tapa no moleque guardador de carros que mora na rua, já arrumei pouso e dentista pra ele. O bem-bom foi educado demais com Dolores Sierra, e pelo que sente Mariana de Rosário o filho da puta foi mais longe. Inventou de dizer que Mariana de Rosário, a minha índia da Serra do Caverá, vai mudar de dono.
- Hoje não, Salito, mas mate ele.
Adoro a Mariana, que além de ler pensamentos tem um bom coração. Ela pediu pra deixar pra outro dia e saiu para o quarto juntar suas coisas, a pequena me conhece.
Desço as escadas pedindo a Deus que ele saia também. Pensando melhor, vou tocar a campainha da casa dele e elogiar o bucho que tem como mulher, oi, gostosa, pra ele ver como é bom elogiar a mulher dos outros. Não, isso não, a sua senhora não tem nada a ver com isso. Que nada, duvido que um bosta desses tenha mulher.
Volto para o meu apê. Telefono para a moçada lá de frente: vai sujar, subam quatro. Já com eles em casa dou breves instruções: um acompanha a mulher e os gatos, os demais levarão os objetos pequenos e apagarão as digitais, o aluguel é com nome falso mesmo, é só sair, limpem direito, precisarão ser rápidos, não esqueçam de levar junto o lixo. Falei por falar, a turma conhece o ritual.
Botei as luvinhas de cirurgião, acho ridículo isto, mas é preciso. Abro uma cervejinha e espero duas horas, até a operação terminar. Saem todos, o apartamento se transformou num esqueleto, só restaram os móveis. Espero mais meia hora.
Com a turma já longe, enrosco o silenciador na Magnum, desço pelas escadas e toco a campainha do indivíduo. Não se pode ter 22 mulheres que os caras ficam se escalando. Vou descarregar a arma na cara dele, sem papo.
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