martes, 26 de julio de 2011

À parte, amigo Nicolau, caro Olívio

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Um telefonema para o Rio de Janeiro e um milhão de autocríticas me convenceram a separar os desabafos. O Dr. Nicolau não quer nem vai matar ninguém. Destruiram ilusões, mas não lhe tiraram comida das crianças. Assim, o que escrevi antes vai aqui, saído de lá, em separado, para não comprometer o amigo, que só sei que é meu conterrâneo (nasci em trânsito, próximo à Palmeira das Missões) e o chamo de amigo por passarmos um pelo outro na rua e tocarmos o chapéu em respeitoso reconhecimento.


Uma parte eu vi, Nicolau. Certa vez me bateu à porta o Procurador Geral do Estado, via um amigo comum, para me pedir colaboração. Precisavam de um homem sério, disse-me. Perguntei porque não mandavam um dos quadros do Partido dos Trabalhadores (hoje dos Trabolas), na época uma esperança. Respondeu que não eram de confiança/competência tanta (isto é, para as boas, ser diretor, ganhar sem trabalhar, são ótimos; já para encarar as ruins, ter respeito e credibilidade, aí a minha porta serve), e a Dilminha precisava. Pedi um dia para pensar e no outro respondi que iria até de graça, se fosse para ajudar o meu estado, não a um partido político. E fui, morto na guerra sete vezes, um jesus às avessas, mas ainda iludido. Bem feito. Ante minha dolorida aversão a dinheiros mal havidos, inspirado nas palavras Daquele que passou antes em minúsculas, por referir a nosotros, pobres mortais que não voltam da tumba, e dada a personalidade e às promessas que fiz nos verdes anos, uma delas de jamais ser mandado por gatos políticos, convenceram-me, pelo bem do RS, e me lotaram no Gabinete do Governador, ganhando 5 mil e picos (eu estava como hoje estou e sempre estive, sem um pila no bolso, mas isso aqui é de teimosia, outra forma de mostrar a coragem que não é tanta, que eles fingem não notar, de repente nem notam mesmo, dada a sanguinária ambição, que é o horroroso medo de viver mal traduzido), o que eu ganharia por semana, se quisesse, ao olhar para as pretinhas amadas do vale de miséria que circunda Brasília.

Nunca vi o governador, depois de elegê-lo, mesmo tendo incontáveis amigos comuns. Amigos é força de expressão: conhecidos. Vi muito canalha o cercando, ele os escolheu, imagino indo na certa. Bem, na política é assim. De repente o bigode passou a ser amigo de todos, precisamos compreender, apostamos nisso, embora quem tenha gasto a grana para colocá-lo lá tenha sido Pato, Verinha e muitos outros, que como eu tiravam de uma roupinha para as crianças, um lanche melhor, para impulsioná-lo como nossa voz, voz dos pobres, voz da decência, voz do Brasil. O cara até passou a ter o direito de escolher, depois, se concorria a alguma coisa, o "lado pessoal" que tínhamos que respeitar. Antes, sem nome e sem grana, dizia que a gente é que mandava, era um quadro do partido. Era. Errou. Mas foi o melhor que tivemos até então, pero passou a churrasquear em casa de riquinhos lalaus, o deslumbrado. Acabou sendo espantado, enxotado, pelos seus chefes nas maquinações - com as quais jamais compactuaria, é um homem honesto, por isso o afastamento - do Ministério das Cidades, este um tumor maligno que a Dilminha terá que lidar cedo ou tarde, tomara cedo.

E vi coisas que prefiro contar em livro, um dia. Processamos uma múlti, resgatando 40 milhões, e isso foi um nada perto da obra toda que eles cometeram. Provei, contra tudo e todos, que as cisões da CEEE foram no vão da escada (com a cumplicidade da Junta Comercial), y otras cositas más. As gurias advogadas da PGE, relembro desmaiado de carinho, queriam o mesmo que eu, justiça, acreditaram (idem o Procurador, mui digno varão), entenderam o complexo esquema,  e tocaram fogo, cadeia para todos.

Deu em nada. Tive que contratar bandidos em Jacarepaguá (a que ponto me levaram), naquela de se me matarem, morrem. Isso só hoje conto, como poderia antes?, para preocupar os camaradas? A lei do machado. Não posso esquecer de colocar um lembrete ao final deste texto.

Mas quem terminou de arrebentar a CEEE foi outro, como bem disseste. Esse de antes, de que falas, não passa de um sujeito que em vez de envelhecer envileceu, sujando uma linda trajetória, se de verdade fosse. Como morei em prostíbulo, por necessidade, quando menino, jamais entenderei como o cara conseguiu se lambusar assim por uma xexeca (Brizola chamou a atenção dele, eu ouvi, mas ao referir xexeca disse outra palavra, B em vez de X, que não cai bem aqui no blog lido por crianças, no terrível tom de voz com que foi pronunciada: "misturando Bu com política, negrão!"). Aquele tom de voz gaudério do grande Leonel, percutindo nossas almas, ao perceber o desmerecimento das nossas mães e namoradas queridas.

Quem liquidou de vez a CEEE, a pá de cal, foi aquele outro moleque despreparado. E não foi sozinho, eram muitos. Hoje alguns fingem esquecer. O seu Simon dá discursos moralizantes no Congresso, ao tempo em que chama o Palocci de amigo. Mas o chefe de estado, colocado pela RBS, arrogante, enrustido, bigodinho de gato, que sumiu do mapa para evitar o desprezo público e a cadeia, foi escolhido por pessoas como o Simon. Destino: cadeia. Eu cuidei disso, auxiliado por bons companheiros, de metê-lo na cadeia. Os Trabolas mostraram a ele e guardaram as provas, desde que sumisse. 

Sumiu, foi ser diretor de empresas a quem deu a bunda (as nossas) usando o cargo. Com essa, sumi também, esperava que enviassem os quilos de provas ao ministério público, mas "esqueceram". Perdi cinco quilos, e passei a imitar o goleiro Manga, que a cada vez que via um gerente de banco gritava Ladrão! (um dia te conto essa, o seu Chico Anísio era o fiador): a cada vez que vejo um Trabola (não o povo trabalhador nem os estudantes, mas... eles), grito: Covarde! Lalau! Se algum parar para me olhar, prometi esbofetear. Nunca param. Se fazem de surdos.

E como acontece sempre nessas estórias, o pior estava por vir. E veio quando botei o pé na CRT, rosto em pedra, nem doce nem amargo: sereno, e óculos escuros, não tardariam a olhar meus olhos castanhos, e pedi para falar com os "donos". Quem deseja? Represento o Estado do Rio Grande do Sul, moça, me anuncie, por favor. 

Ladrão ali era pouco. Tal a vulgaridade, punguistas de feira, para tomar a graninha de quem ganha pouco, comedores de suicidas frequentadoras de bingo no salão paroquial, só falta o chapeuzinho com peninha verde atrás, malandros daqueles que a gente usa para mandar comprar cigarros e que só retorna de medo, asquerosos. Nojeira igual a CEEE, com o conluio de vendilhões gaúchos, riquinhos pelo roubo de séculos.

Não demorou muito e eu disse Não! e eles correram para a Dilma, então Secretária de Estado, ameaçando com toda a sorte de represálias econômicas por trás da conversa "amistosa", afinal as múltis fariam "doações" de campanha para muitos hijos de puta do PT. Amanhã ou depois darei os nomes dos cidadãos, são muitos. O vice-governador soube, e ficou bem quietinho, aquele merda. Eu estava torcendo para que ele abrisse a boca, mas esse sabe ser político, o raposão, hoje dirige petróleos, deve entender muito do assunto. Sei lá, a cada vez que vejo os vilaverdes falando me vem à cabeça uma estátua hipócrita, repetitiva, dá sono. Na semana seguinte à Assembléia Geral onde o Rio Grande do Sul votou contra a incorporação da CRT, voto vencido, uma das maiores empresas de advocacia da América dispensou os meus serviços, sob a sincera alegação de que era eu ou a multinacional sua cliente, que me marcou para matar de fome, visto que Jacarepaguá impedia a morte de outra maneira.

E foi caindo tudo, quando vi não tinha como comprar comida, minhas filhas vendo a decadência inexorável, de quebra arranjei um câncer agressivo, matador. Todos os "amigos" sumiram. Espantado, dei até de beber mais do que a boemia de nascença, fiquei nervoso, um ruído ocasional do apartamento de cima me fazia voar e pegar a arma no roupeiro.

Minha irmã carioca (Mangueira, onde é que estão seus tamborins, ó nega... viver só de cartaz não chega), ajudou-me a salvar a minha vida, das doenças e de tudo por consequência. Mas raiva não tem cura, e a memória não perdi quando me cortaram ao meio. Recebi algum auxílio de parentes, de um primo amado, meu retrato transversal, ou eu o dele, e de mulheres de quem não esperava, de quem poderia esperar nada veio. O restante não vale a pena contar, dói demais. 

Não esqueço do "amigo" escravo da múlti (por ter sido o primeiro o cito, pois não esqueço de nenhum), leviano, traiçoeiro, covarde, que vai me pagar, pois sobrevivi, renasci das cinzas e aqui estou. Aguarde-me, com a dúvida e o medo por saber que chegarei numa noite qualquer, mas sem saber quando. O advogadinho da Tozzini, é um morto em vida.

Voltando: ela, atenciosa, com aquela sua famosa mirada congelante, um forno por dentro, pediu para repetirem. Os coitados, eufóricos de tão burros, repetiram as queixas a respeito do auditor que não sorria, que não tinha ouvidos para as facilidades que ofereciam, honrarias, festas... Os javalis selvagens não acreditavam que tinham topado com um bicho honesto (e ligeiro, jogava cartas com as velhas do cabaré enquanto eles dormiam com um ursinho de pelúcia), dentro de um terno azul de três anos. Não deitei na cama da mãe dos filhos da puta porque eram feias de alma.

Ela então os mirou bem e desfechou: se aquele moço disse não, é NÃO! E encerrou a reunião.

Nesse meio tempo, sem sonhar o que poderia fazer a brasileira, tratei de terminar a minha parte: avisei o pelego chefe do Sindicato dos telefônicos que as demissões viriam em massa, era tudo mentira das múltis, vai por mim. Como eu imaginava, ele já estava comprado.

Ela mal me conhecia. Uma semana depois, foi lá em Assembléia pública, lotada de imprensa e de inimigos, no salão nobre da esquina da Borges de Medeiros com Salgado Filho, leu exatamente o que escrevi: NÃO! Os estrangeiros ficaram calados, tinham maioria dos votos dados pelo Antonio Britto. O pelego vendilhão dos funcionários calou mesmo quando ela exclamou que as provas estavam em cima da mesa, uma pilha que coloquei a pau neles. Esperei que dissesse quero ver, era só o que queríamos. Nada.

Saímos abraçados, ela e eu, com todo o mundo bandido contra a gente, mas felizes, tínhamos feito a coisa certa.

A Dilminha é séria. Valha-me Deus, espero que o filho da mãe do Lula, o erro dos erros da esquerda brasileira, não tenha mandado lhe tirar o cérebro e o coração. O Lula, sozinho, contra sua catrefa, que talvez tenha cometido a histórica façanha de colocar à frente do País alguém de fora do círculo vicioso, da quadrilha cujo comandante e maior velhaco foi ele, por não ter sabido esperar só mais um pouquinho e pelo que, ainda incrédulos, hoje sabemos. O Lula que um dia eu amei, mas que é apenas um homem de nenhuma cultura, um sem vergonha comum, que achou de errar logo quando não podia. Resta a Dilma, que quiçá o redima de tudo, oxalá.



PS: Que eu saiba o diretor-presidente (brasileiro) da Brasil Telecom daquela sujeira hoje está preso (se não foi solto pelo Gilmar Mendes), por ladrão, falso, e mais meio código penal nas costas, mas não custa aqui declarar, a ele e a toda a quadrilha, que o meu contrato em Jacarepaguá vence em 2.020, e vou renovar. E os cariocas cumprem o contrato, mesmo tendo de viajar ao exterior. Para seus palacetes em Santa Teresa com o dinheiro do povo, eu tenho uma palafita em Bujumbura.

2 comentarios:

  1. O meu tu me chama de burro mas peguei essa. Caraio, purisso nao voto. machado de que, negão, me conta, nao podia ser espingarda, faca.
    HANS, o macho da GUARITA

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  2. Prezado Hans
    Para a publicação do seu livro "Afundação Roberto Marinho", o autor precisou fazer um contrato para garantir a sua vida. E no livro avisa que se um familiar seu se descuidasse e fosse atropelado no trânsito, por exemplo, ele iria pensar que foi cobra mandada e o contrato seria executado. O autor se chama Roméro MACHADO. Ninguém se feriu. Acredita-se que alguém teve que pagar proteção para que nunca nada de mal acontecesse com sua família.
    Abraço.

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