1984. As nossas instituições
ainda precárias, com o fétido cheiro da ditadura ainda impregnado. A Arena. A
puta que os pariu.
Entro no Cartório, espero na fila, minha vez: quero registrar uma menina. Pois não, cadê o papel, tá aqui, mas... esse nome não pode, é estrangeiro. Como não pode, seu, é um nome do mundo, no caso espanhol, e remete ao nascimento de Jesus. Dá não, a lei proíbe. Vai dar sim, moleque, e subi nos sapatos.
O sujeito avermelhou e se veio, e quando pensou em vir eu estava em cima dele: se não der, tu morre, bobalhão.
Eles podiam batizar os filhotes da ditadura de tudo que é nome, eu não, eu hein? A lei proibia estrangeirismos, para os pobres, os viados dos filhos deles tudo americano.
Veio o dono do Cartório, quis maneirar as coisas me sugerindo botar a letra "e" no final. Emputeci de novo, mas assim vai me descaracterizar o nome da menina!
Até ali em discussão que não dá nada, mas me toquei que ia enveredar para conversa de homem. Ali serenizei, é comigo. Eu chapéu na mão, botei na cabeça em desafio, e calmo medi as palavras ao dono: olha seu, o futuro que se avizinha, pelo nome da menina, não será bom para ninguém, vim desarmado, coisa que amanhã não farei, por isso lhe peço por favor, registre!
O homem finalmente me entendeu. Por bem a gente consegue tudo com esses patifes, basta ter calma e bom senso.
Entro no Cartório, espero na fila, minha vez: quero registrar uma menina. Pois não, cadê o papel, tá aqui, mas... esse nome não pode, é estrangeiro. Como não pode, seu, é um nome do mundo, no caso espanhol, e remete ao nascimento de Jesus. Dá não, a lei proíbe. Vai dar sim, moleque, e subi nos sapatos.
O sujeito avermelhou e se veio, e quando pensou em vir eu estava em cima dele: se não der, tu morre, bobalhão.
Eles podiam batizar os filhotes da ditadura de tudo que é nome, eu não, eu hein? A lei proibia estrangeirismos, para os pobres, os viados dos filhos deles tudo americano.
Veio o dono do Cartório, quis maneirar as coisas me sugerindo botar a letra "e" no final. Emputeci de novo, mas assim vai me descaracterizar o nome da menina!
Até ali em discussão que não dá nada, mas me toquei que ia enveredar para conversa de homem. Ali serenizei, é comigo. Eu chapéu na mão, botei na cabeça em desafio, e calmo medi as palavras ao dono: olha seu, o futuro que se avizinha, pelo nome da menina, não será bom para ninguém, vim desarmado, coisa que amanhã não farei, por isso lhe peço por favor, registre!
O homem finalmente me entendeu. Por bem a gente consegue tudo com esses patifes, basta ter calma e bom senso.
O nome não era apenas pelo meu
sangue, parte dele, espanhol, nada a ver, sangue é igual em todos. É que ela me deu
um susto ao nascer, temi que fosse perdê-la. Malei gritava alucinada perdi a
menina, perdi a menina, fica quieta guria, não perdeu nada, não tenha medo, estou aqui, já quieta!, eu sem carro, noite alta, cidade vazia, mas a pau a levei para o
hospital, atacando os carros que nunca paravam, os poucos que passavam, e surgiu
um táxi milagroso, eu e Malei banhados em sangue, e viveu. Nascida Viva, o significado real.
Voltei pra casa com o papel na mão. A mulher havia sugerido Jurema ou Margarida, algo assim, não recordo. Jurema é lindo, Margarida também. Mas fui por mim, a guria é minha e eu boto o nome, pensei naqueles tempos sofridos.
Achei que a Malei iria cair para trás, reclamando, quando lhe mostrei o papel do registro, mas ela amou. Lá estava, bem grande:
NATIVIDAD
Hoje Doutora Natividad (defendeu ontem, com brilhantismo, a sua tese).
Salve, pequena, meu doce encanto, amor da minha vida.
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