Três da madrugada em
Copacabana. Outono, eu de terno simples, camisa, gravata e paletó, no Rio são as roupas mais pesadas que uso, mesmo no inverno, onde sempre tomei banho de mar. O La Maison, antigo bar e restaurante da esquina da Santa Clara com Avenida Atlântica
praticamente vazio.
Lá dentro ninguém além dos funcionários. Na calçada apenas duas mesas ocupadas, uma com quatro caras, e eu sozinho em outra tomando um chope. Eles discutiam suas vidas, e eu fazia hora para pegar uma mineira às cinco num bar da Sá Ferreira, não fui pra lá porque não gostava do dono nem dos leões de chácara.
Copacabana é linda vazia, o frescor da madrugada pegando a gente, o som do mar, nada de ônibus passando, carro um que outro. Tirei o chapéu, botei na mesa de plástico e pedi outro chope, acendi um cigarro e fiquei também eu remoendo a minha vida, sozinho com meu coração. Estava nem feliz nem infeliz, mas com um bicho dentro reclamando de algo que eu não sabia o quê.
Na mesa dos caras as vozes se avolumaram. Prestei atenção. Três deles reclamavam do seu amigo homossexual por ligar tarde da noite, acordando as pessoas.
Aí o homem, da opção sexual diferente da dos seus amigos de infância, disse o seguinte:
- Se numa hora de horrível
desespero, às cinco da manhã, eu não tiver para quem ligar, e se ligar me atenderão
de má vontade, então nunca tive amigos!
Matou, por dentro fechei
inteiro com o cara. Fez-se um silêncio na mesa, depois o mais velho disse me
desculpa, tu tem razão. Os três encabularam pela covardia, mas reconheceram.
Mudaram de assunto e seguiu o papo feliz. Amigos felizes.
Eu fiquei lá, mirando luzes amarelas do prédio lá adiante, absorto, bebendo e fumando, até a hora de encontrar a mulher, sem saber que bicho era o que me mordia.
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