Hoje
cedo eu estava em frente à banca 38 do Mercado Público de Porto Alegre, namorando os vinhos e
uísques expostos, quando levei um tapinha nas costas e ouvi vozes me
festejando.
Eles, os boêmios Wilson Schu e Gustavo Moscão, abraços e tal. No rodízio de assadores,
são os encarregados do churrasco no botequim, previsto para sair depois do jogo
do Brasil e antes do jogo do Uruguay, no meio da rua. Lá é assim, se chover a
turma improvisa cobertura para os barris de latão cortados que lhes servem de
churrasqueira. Vieram comprar a carne.
Contaram-me que antes passaram na Mercearia Zaffurtari, lá na Cidade Baixa, mas
o gringo está impossível, ninguém mais agüenta os seus preços.
- Sala, o sujeito quer R$ 24,90 o quilo de ripa da chuleta, disse Gustavo.
- A picanha é cinqüenta contos!, esbravejou Schu.
Enquanto conversávamos comprei meus vinhozinhos, em seguida acompanhei-os até
as bancas de carnes. Na que paramos deu para ver, bem em nossa frente, que a
ripa está a R$ 11,90 o quilo.
- Viu? Como vamos comprar dez quilos de ripa, fora outras coisas, só aí a
economia será de... deixa ver, hummm, dá treze, vezes dez: 130 paus, falou o
Mosca.
Nesse ponto, enquanto aguardavam a chamada da sua senha de atendimento, com
muita gente na frente, me contaram que o Bruno Contralouco, que tinha ido junto
à Zaffurtari, armou um banzé por lá. Exigia falar com o dono, que não estava,
obviamente, então encheu de osso o pobre do gerente, em altos brados:
- Quer dizer que aqui vocês tem o Bezerro de Ouro, é? Pegaram aquele dos
crentes, cresceu, virou touro e botaram a cruzar com a Bezerra de Diamante do
Boifrio, e agora estão vendendo os descendentes, novilhos castrados entupidos
de veneno, mas com pedigree de meio ouro e meio diamante?
O Contra lembrou do Bezerro de Ouro bíblico porque em outros tempos andou se
informando, para conhecer o inimigo, como dizia, pois tem bronca de uns tais
bispos e pastores que andam de preto por aí. Em frente ao botequim eles não
passam mais, ali é certo que apanham, agora quando ele quer se divertir sai
caçá-los por outros bairros, nas proximidades dos seus templos, que chama de
agências de picaretagem. Certa vez entrou numa, lá perto da Rodoviária, e foi
um escândalo, o sujeito lá na frente gritava Aleluia e ele berrava Saravá.
Acabou saindo no braço com os gorilas, que não contavam que o Contra é bom de boxe, jiu-jitsu e savate, deu neles lá dentro.
Quando apelou para adjetivos impublicáveis a respeito do gringo da Zaffurtari a
turma o arrastou de lá, antes que a polícia chegasse. Uma barbaridade. Não quis
vir com os amigos ao Mercado Público porque resolveu se meter na sua gráfica,
disse que ia imprimir cinco mil panfletos para distribuir em toda a Cidade
Baixa, “dizendo umas verdades e propondo boicote ao filho da mãe”, como disse.
Cá comigo penso que isso não vai acabar bem, o gringo não conhece o Bruno, não
sabe com quem está lidando.
Pedi aos amigos que me considerem entre os que estarão no churrasco, o rachid
da despesa é depois, e me fui para as bancas de legumes, carne já comprei
ontem.
Tomara que o Brasil vença, assim talvez o Bruno esqueça o dono da mercearia ao
menos por hoje.
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