Agora é oficial. Convidados que fomos para uma coletiva de imprensa pela presidência da Agência Espacial Gaúcha, vestimos as pilchas e se fumos, para tomar ciência de a quantas andamos na corrida espacial.
Já se sabia que a tecnologia espacial estava bem avançada na República Riograndense, mas agora o projeto vai deslanchar, vamos passar por cima de quem atravancar a picada. Saímos de lá mais felizes que genro com a sogra morrendo.
Segundo a Agência Espacial Gaúcha, o representante de um grupo de cem empresas de diversas localidades, desde Santa Vitória do Palmar até a Barra do Guarita, passando por Santa Maria, assinou um contrato com o Governo dos Pampas para construir a primeira nave gaúcha.
A espaçonave terá lugar para 10 viventes e contará com churrasqueira, fogão de campanha, despensa com 14 tulhas, bagageiro, quarto de banho, uma latrina de assento e duas de cagar "acocado".
Vamos para Marte, passando pelo lado escuro da Lua num upa. A Lua conhecemos demais, useira e vezeira na noite do pampa, quantas promessas de amor que não cumpriu. Perto demais, conhece todas as nossas cantigas de amor. Vamos passar direto, pelos fundos, pois se passarmos pela frente... ai, mi corazón, periga a gente parar e não sair mais dali. Na volta paramos, não saia daí, vai flutuando, só vamos espiar o que tem mais adiante.
Vamos para Marte, passando pelo lado escuro da Lua num upa. A Lua conhecemos demais, useira e vezeira na noite do pampa, quantas promessas de amor que não cumpriu. Perto demais, conhece todas as nossas cantigas de amor. Vamos passar direto, pelos fundos, pois se passarmos pela frente... ai, mi corazón, periga a gente parar e não sair mais dali. Na volta paramos, não saia daí, vai flutuando, só vamos espiar o que tem mais adiante.
Já estão confirmados na viagem o gaiteiro E. X., vulgo Porca Véia, e o tocador de bombo leguero E. V. F. , do Alegrete (vem a ser um dos fiinhos do Bagre), que têm os nomes preservados por razões de segurança. Pela mesma razão, mais não dizemos.
Vai também o grande trovador Neco Bigode, de Palmeira das Missões, para o caso de haver marcianos com ímpetos ianques por lá. Somos pacíficos, antes de pegar nos ferros tentaremos resolver a pendenga numa trova. Este não quis anonimato, diz que tá louco pra trovar com o espaço inteiro. Neco é o homem mais famoso da Palmeira, pois tem um bolicho ali perto dos matinhos na subida de quem vai pra zona, com a sua prole de 46 filhas, tudo guria de fino trato, e diz que seguirá fincando até conseguir dez piazitos, nem que seja com uma marciana.
Vai também o grande trovador Neco Bigode, de Palmeira das Missões, para o caso de haver marcianos com ímpetos ianques por lá. Somos pacíficos, antes de pegar nos ferros tentaremos resolver a pendenga numa trova. Este não quis anonimato, diz que tá louco pra trovar com o espaço inteiro. Neco é o homem mais famoso da Palmeira, pois tem um bolicho ali perto dos matinhos na subida de quem vai pra zona, com a sua prole de 46 filhas, tudo guria de fino trato, e diz que seguirá fincando até conseguir dez piazitos, nem que seja com uma marciana.
As tulhas de mantimentos estarão sortidas com de tudo um pouco: erva-mate, bergamota, rapadura, charque, banha, cebola, linguiça, banana-de-bugre, torresmo, arroz, feijão preto e de cor e até bolacha. O principal vai em separado: cem metros de fumo em rolo, do amarelinho, e miles de litros de canha.
Segundo o chefe da Agência Espacial e responsável pelos estudos, Anphilóquio Licurgo Fagundes, taura mui inteligente, "crânio" em matemática, física e exímio no jogo de osso, os americanos jogaram a toalha na corrida espacial porque não tinham a tecnologia para revestimento da nave, já que esta é uma patente gaúcha.
Trata-se de uma combinação de casca de cana, gordura de capivara, barro vermelho de Santo Ângelo e pedra moura moída (aquela lá das quebradas do Nhanduí) que, segundo os cientistas, gera um material resistente a altíssimas temperaturas, além de também servir para curar bicheira e sarar cobreiro.
A propulsão do foguete será à base de uma mistura de cachaça marisqueira de Osório com graspa fina de Ana Rech (temperada com folhinhas tenras de hortelã), mais esterco de ovelha, que os pesquisadores gaúchos afirmam ser milhares de vezes mais potente do que o combustível atualmente utilizado pela NASA.
Há décadas que esta tecnologia vem sendo desenvolvida - em segredo - na Estância Porteira Fechada (perto da estação do Guaçu-boi, no Alegrete).
Dizem que o primeiro momento tenso do projeto foi quando uma chinezada, quatro chinos e quatro chinas, andou por lá para espionar, mas os chinos foram corridos no laço pelo capataz da estância e seus quatro cachorros ovelheiros. As chinas ficaram porque se agradaram da gauchada, mas lá atrás das moitas, longe das instalações atômicas.
Os americanos - que tentavam desenvolver um trabalho parecido na Área 51 - foram convidados a visitar o projeto. Confidencialmente soubemos: foram convidados porque ficaram meses pedinchando para a Dilma. Por causa dela demos uma colher pra eles. Pero já deu encrenca na entrada da estância, além dos seus cientistas tinha um monte de rambo que queria entrar também, uns bundinhas de preto. O nego Bastião quebrou sozinho a cara de todos, sem tocar na carneadeira que tinha atravessada das costas até abaixo da bunda. Aí entraram só os entendidos de aviação, os outros foram mandados levar as vacas para o campo.
Foram recebidos e aprenderam como se mata ovelha, era uma bela manhã, cosa más buena, tchê, aparando o sangue na gamela, elas penduradas ali nas arve, depois riscando o pelo pela pata com o bichinho meio-vivo, uns deles correram pro banheiro, y después se deliciaram com um assado de costela no fogo de chão, mais meio boi que o Bastião espetou, churrasco de salgar com avião agrícola, tomaram uns mates e gostaram do que viram, mas saíram mais perdidos que leitão sem teta, quietos como guri cagado.
Em nota hoje distribuída à imprensa os nossos cientistas disseram:
"Mostramos tudo a eles, mas desde o começo ficaram desacorçoados, de boca-aberta. Não entenderam bosta nenhuma. É uma tecnologia anos-luz na frente da deles. Vieram buscar lã e saíram tosquiados".
A última frase e as caras quebradas dos de preto da CIA geraram pequeno incidente diplomático. A Dilma, loca de feliz porque fudemos com eles, reclamou só pra manter as aparências. No outro dia o nosso governador consertou as coisas, com calma: em entrevista mandou-os todos tomar no fiote. Oigalê!
A última frase e as caras quebradas dos de preto da CIA geraram pequeno incidente diplomático. A Dilma, loca de feliz porque fudemos com eles, reclamou só pra manter as aparências. No outro dia o nosso governador consertou as coisas, com calma: em entrevista mandou-os todos tomar no fiote. Oigalê!
Anphilóquio Licurgo Fagundes acrescentou:
"Estamos a passos largos para a conquista de Marte. Não vai cinco anos e teremos gente apeando por lá. Pelo menos uma prenda já vai junto, na missão, para organizar o primeiro CTG espacial. Prenda daquelas de se apresentar pra mãe, finura. Vamos em paz, mas pelo sim, pelo não, levaremos na mala de garupa duas facas carneadeiras marca Coqueiro deitado, cinco relhos trançados de 8 e nove garruchas de cano duplo."
Y se vamo, indiada!
N. E.: A ilustração é uma aquarela de Joseph Franz Seraph Lutzenberger (Altötting, Baviera, Alemanha, 13 de janeiro de 1882 — Porto Alegre, RS, 2 de agosto de 1951), artista plástico, arquiteto e professor teuto-brasileiro, visionário do bem, como o foi seu filho José Antônio Lutzenberger, um gaúcho a quem nós e o mundo tanto devemos. A obra provoca múltiplas interpretações. João da Noite a concebe como a gente saindo de si mesmo, deixando o mundo que nos aplicaram para trás, para Marte ou para outro lugar. Um lugar mais feliz. O paraíso, onde quer que esteja. Aqui, que Deus nos ajude.
N.E. 2 - O autor da idéia e da maior parte do texto é anônimo (assim o recebemos por e-mail). João da Noite tratou de "melhorá-lo", piorando.
N. E.: A ilustração é uma aquarela de Joseph Franz Seraph Lutzenberger (Altötting, Baviera, Alemanha, 13 de janeiro de 1882 — Porto Alegre, RS, 2 de agosto de 1951), artista plástico, arquiteto e professor teuto-brasileiro, visionário do bem, como o foi seu filho José Antônio Lutzenberger, um gaúcho a quem nós e o mundo tanto devemos. A obra provoca múltiplas interpretações. João da Noite a concebe como a gente saindo de si mesmo, deixando o mundo que nos aplicaram para trás, para Marte ou para outro lugar. Um lugar mais feliz. O paraíso, onde quer que esteja. Aqui, que Deus nos ajude.
N.E. 2 - O autor da idéia e da maior parte do texto é anônimo (assim o recebemos por e-mail). João da Noite tratou de "melhorá-lo", piorando.
essa lenga é da gurizada do bairrista, mas o joao piorou bem, tiro o chapeu.
ResponderBorrarSensacional! Quando escrevi o Fagundaço, faz uns três meses, não sabia desse texto "anônimo" (kkk). São diferentes, coincidentes somente na ideia da gauchada ir a Marte. Boas festas. Grande abraço.
ResponderBorrarNeco bigode e meu pai e amo muito ele mesmo ele estando trovavando em outros pagos no lado de Deus
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