jueves, 4 de abril de 2013

A extrema-direita do século 21 no Brasil

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No aeroporto, aguardando o embarque, quase caí de costas. Aí está o PSDB e seus companheiros de hoje, nesta salada de acordos entre inimigos viscerais que tomou o Brasil. Mário Covas e outros que lutaram pela redemocratização devem estremecer no túmulo. 

No Brasil não tivemos julgamentos dos crimes da ditadura. Na Argentina os há, e a matéria da jornalista Marta Platía, de ontem no Página/12, dá uma boa idéia de como foram as coisas, AQUI.

O texto que segue, autoexplicativo, é do Ricardo Kotscho.

Causou alguma estranheza, e logo foi esquecida, a nomeação do advogado Ricardo Salles, em março, como novo secretário particular do governador Geraldo Alckmin.

Fundador de um movimento que tem o sugestivo nome de "Endireita Brasil", Salles é um dos expoentes dos "neocons" brasileiros, que vêm-se multiplicando e já criaram várias entidades _ entre elas, o Instituto Millenium, reduto dos grandes orgãos de imprensa contrariados com a presença do PT há 12 anos no poder central.

A presença de Ricardo Salles no governo estadual só seria descoberta esta semana quando acompanhou Alckmin justamente na cerimônia de entrega de parte dos arquivos do DOPS, em São Paulo, o que pareceu uma provocação, já que estavam presentes integrantes da Comissão da Verdade e vítimas da repressão.

Salles, que já foi candidato a deputado pelo PFL e pelo DEM, duas vezes derrotado, é radicalmente contrário a esta comissão, criada pelo governo de Dilma Rousseff para apurar os crimes da ditadura militar. E já chegou a afirmar num evento no Clube Militar, no ano passado: "Não vamos ver generais e coronéis, acima de 80 anos, presos por causa dos crimes de 64. Se é que esse crimes ocorreram...".

Tucanos que combateram o regime militar ficaram constrangidos com a presença do secretário particular no evento, para quem "felizmente, já tivemos uma ditadura de direita no Brasil".

"Discordo quando se tenta negar a existência de violações aos direitos humanos", declarou o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, segundo reportagem de Julia Duailibi e Bruno Lupion, publicada nesta quinta-feira no "Estadão".

Para Alberto Goldman, ex-comunista nos tempos da clandestinidade e ex-governador de São Paulo, "no mínimo, ele (Ricardo Salles) desconhece a história brasileira".

O primeiro a protestar contra a presença de Salles, que é responsável pela agenda do governador paulista, foi o escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado Rubens Paiva, assassinado sob tortura pelo governo militar em 1971.

Marcelo exigiu uma retratação pública de Geraldo Alckmin pelas declarações feitas por Ricardo Salles, que é o responsável por sua agenda, mas o governo paulista já informou que não vai comentar as declarações do funcionário.

"Sou testemunha viva. Eu e minhas irmãs. Vimos nossa casa no Rio de Janeiro ser invadida por policiais militares com metralhadoras em 20 de janeiro de 1971. Vimos meu pai, minha mãe e irmã Eliana serem levados. Meu pai entrou no quartel do Exército e não saiu vivo de lá", escreveu Marcelo Paiva em seu blog no "Estadão".

O advogado Belisário dos Santos Júnior, que foi da Comissão de Justiça e Paz, nos tempos de D. Paulo Arns, e secretário da Justiça, no governo Mário Covas, vê nas manifestações de Ricardo Salles o objetivo de negar os crimes da ditadura, enquanto o da Comissão da Verdade é justamente apurar estes fatos.

"Respeito a opinião dele, mas sei aonde isso leva e tenho medo de aonde isso leva. As pessoas que negavam a tortura passam a admití-la e a justificá-la. Mas a tortura é injustificável".

Já em plena campanha para mais uma reeleição ao governo do Estado, Alckmin começa a enfrentar problemas dentro do seu próprio partido por conta de uma nomeação bastante polemica, digamos, que até hoje não justificou, mas pode dar uma pista do seu real pensamento político.




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