viernes, 5 de abril de 2013

Agora preciso ir

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Ufa, enfim cheguei ao destino. Abro o computador e acolho de Leilinha a curta narrativa, dela, pessoal, de ontem no bar, e a fita, bem como as charges escolhidas pelos boêmios do Botequim do Terguino.

Melhor não dizer nada. Salvo que Luciano Peregrino resolveu dar a volta por cima, isso de se matar não é bom, menos ainda por ingratidão de alguém. 

Ele disse isso cantando, numa boa, e o pessoal respirou feliz, aliviado, já na primeira frase, e pelo seu sorriso. Começou assim:

"Chorei, não procurei esconder, todos viram... fingiram, pena de mim não precisava..."

Quando chegou no ali onde eu chorei qualquer um chorava,  dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava, o Botequim inteiro o abraçava, aquele monte de homens e mulheres no meio do bar.

É o "velho" peregrinante de volta. E foi tanta felicidade que ele esqueceu das Notícias do Notibuc, o notibuc ficou num canto, perdido, o Portuga depois o guardou debaixo do caixa.

Nicolau Gaiola era o mais satisfeito, ele que odeia notícias dos criminosos da nação, os coisos.

Leilinha Ferro voltou da facul e o viu, outra cena de amor.

O Contralouco e o Gustavo seguem na sina de fazer espera para pastores, mas estes são gatos escaldados. Sem ofensa aos gatos, o gatil ali é outro, desalojante, ou aiatogélicos, na sacada do seu Nani. Não passa um no Beco do Oitavo, uma tristeza para ambos. O Gustavo, o ex-boxedor da turma, só quer dar um soquinho num. Agora que nunca mais passam na rua, o Contralouco pensa em duelo, carrega dois punhais: "Vou dar um pro bandidão, se defenda". Sonha com um imaginário pastor que persiga minorias, só louco.

- E depois eu é que sou tantã - diz João da Noite entrando no bar.

O bar se iluminou.

João sorrindo, mas todos conhecem aquele sorriso:

- Já cansei de dizer, Contra, Mosca... homem não briga de mão, punhal até passa, mas pra quê? Feito vagabundos brigando na rua, se agredindo, se cortando?

Jucão e Silvana Maresia pularam em João, em abraços. Logo todos. O Contralouco o abraçou apertado, e ainda com a mão apertada na do João, disse:

- Pera aí, Prefeito João, eu não falei em brigar, eu falei em atolar o punhal na goela, se o cara se viesse.

João, encaminhando-se para o seu lugar da mesa do Centro, com todos caminhando juntos, respondeu:

- Homem, vocês sabem bem, se tiver que brigar, longe de nós uma desgraça assim, mas se tiver mesmo, briga de tiro, a ferro, a matar ou morrer, isso de briga de mão não serve, periga perder para um anão bom de jiu-jitsu ou para um merda de UFC que nunca leu um livro, mas tiro só em último caso, se levantarem a voz ou jogarem pedra na casa da gente, então parem com isso, parecem meninos.

O prefeito disse isso com carinho, difícil explicar, com amor e autoridade, o pessoal o conhece e o ouve. Ele com aquele punhal branco nas costas da cintura, que vai de lado até embaixo do joelho.

Luciano ri sozinho, em seguida pede ao Portuga uma dyablita para o Prefeito de Porto Alegre, Juán de la Noche. Futuro prefeito, o Partido dos Boêmios ainda está em Constituição. 

O Contralouco sorve um copo de cerveja, pernas cruzadas, pés noutra cadeira, feliz. 

Jussara do Moscão olha para o Mosca com ar de eu te disse, chega de socos. Esquece esses pilantras evangélicos ladrões, nem todos são ruins.

Gustavo Moscão toma um golão da sua caipirinha, olha para o seu amor com ar de sim, ai Jussara, e pensa que ela tem razão, de cada cem tem um que pode prestar, se tanto, pobre Ju, não sabe, não quero deixá-la triste, e decide comprar uma arma, já que de mão não vale, falou certo, o João, tem cada moleque avião aí, se me pegam mal, mas só se largarem na frente e eu estiver bêbedo demais nesta vida... Uma arma, tá certo o João. Será que um silenciador está muito caro?

João afagado por Jezebel do Cpers, não quer vir no colo, Joãozinho?, vem, amado... Ele ri. Ela também.

Ninguém ousa perguntar pela mulher de pra lá do Espinilho.

João chegou sem camisa, sinal de que o seu coração está lá, no fundo da mata onde a deusa mora. Choveu muito aqui, sem raios, mas João teme raios por lá, pois aí ela sai, é irmã dos raios, atração, com seu punhal branco, doce rainha da selva correndo nua por entre as árvores até matar alguém, em substituição aos que a machucaram numa terrível noite de raios e chuva. João pensa em voltar amanhã.

Logo entoam a música que Luciano usou para dar o seu recado:

"Chorei, não procurei esconder, todos viram..."

E assim seguiram.

O final da carta eletrônica da Leilinha:

"Tio salito, tanta charge linda e inteligente, e os doidos escolheram de novo só aquelas falando do diabo dos direitos humanos, um moleque sujo, tio, compreendo, mas não suporto mais. Hoje foi bom aqui, a volta do tio Luciano, a surpresa do seu João da Noite que tanto amamos (o pai ligou para o Carlinhos, Chupim, Wilson, todo mundo, D. Zilá, seu Açafrão, Tigran, Clóvis, todos estão vindo), se tu puder não misture o animal com um dia tão bom. Choveu tanto, tanto, em Porto Alegre, tanto, que lavou tudo, o trânsito está horrível, parou a cidade, mas valeu a pena, agora preciso ir. Aos poucos tudo ficará bem, o tio Luciano realmente melhorou, agora é ele".



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