A
cada vez que ouço Piazzolla recordo de uma mulher, linda morena, índia de um
metro e sessenta e cinco, a Mauda. Eu já com a vida melhorada, terno e gravata,
apartamento pago, chapéu na cabeça, viagens pelo país, muita mulher, música... e ela me
achou.
Eu
morava no Alto da Bronze e ela, depois de anos me procurando arrependida,
conseguiu me encontrar. Fui doce inicialmente, mas ela encontrou outro, não
mais aquele menino que morava numa pensão e não tinha o que comer.
Para
me agradar, depois de passar a noite me tirando o leite de todas as maneiras, como se fosse a última vez,
comprou dois ingressos para um show. Ingressos disputadíssimos, custando os
olhos da cara, para vermos o argentino e seus homens de preto no Teatro São
Pedro, em Porto Alegre, na época lá só entrava abonados, selecionados pelo
preço. Fui lá algumas vezes, mas detesto aquele lugar.
Não
gosta por recalcado, me disse certa vez uma cantora, ao que tranquilamente
concordei. Acrescentei: neste mundo de mentira e morte o sujeito que não é
recalcado é muito burro ou filho da puta.
Um
ano depois, ou dois, ou algo assim, no inverno austral de 1992, ele morreria, não tive segunda chance de
assisti-lo ao vivo.
Briguei
com ela por uma antiquíssima peça teatral que me aprontou, quando eu era um mulambo de
rua e ela, cheia de posses e pretendentes, me mentiu, eu, hein? Disse-lhe
algumas verdades, controlei-me para não enforcá-la no varal do pátio, e rasguei o meu ingresso.
Até hoje não sei se ela foi ao show, no seu ingresso não toquei, só cuspi.
Saí,
me bebi e acordei pela manhã lá longe no bairro Cristal, nos braços de uma nega
que nunca tinha visto na vida.
Que
pecado. E não um só, tremo por dentro ao dizer com todas as forças da minha
alma, que desejo que ela, a querida mulher da minha vida, morra sarnenta e fedida,
eu sabendo que dentro do meu coração jamais consegui me libertar do seu amor.
Maldita, me mentiu, e me ensinou que não sei perdoar.
*
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