domingo, 12 de junio de 2011

Adiós

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Milhares de reclamações... Este bloguinho não toca música do colonizador, o chefão das redes de televisões, dos políticos, das rádios, das músicas norte-americanas que encantam incessantemente o dia-a-dia dos brasileiros, uma atrás da outra, do manda-chuva herói... Lavagem gostosa. Jamais esquecerei a genialidade de Philadelfo Menezes: "Clichets, goma de mascarar, sabor mental", junto a uma caixinha de chiclé Adams. Eu era criança mas vi. 

Os heróis das músicas, dos filmes, desprezados por um bloguinho lido somente por 50 mil pessoas, ah, é demais. O Tio Sam das bombas mortais, do Rambo valentão.

Cá entre nós, amigos de Bagé, de Mendoza, de Santa Maria, de Cachoeiro do Itapemirim, de Maringá, de Livramento, de Belém, da Palmeira, de Ijuí, Santiago e Récife, de... de todos os lugares, o americano especialista em cortar gente em Guantánamo é bambizinho, nada contra ser homo, tudo a favor da liberdade, mas detesto isso de fortão, machão, roupa preta, malvadão, para depois... É o horror!

Salito e toda a sua catrefa não prestam, disseram algumas mensagens, são maus e recalcados.

É um orgulho ser chamado de recalcado, desde menino. Quem vê a judiaria, promovida por incompetentes, sobre gente de valor cuja única culpa é ter tido boa mãe, gente que não sabe roubar, nem conseguiria se tentasse, gente que ao se ver sem nada, sem dinheiro, anda de cabeça erguida... e grita, é chamado de recalcado. Mas, quem os chama assim?

Ah, é uma honra ser recalcado. Tenho muito medo de quem não é, ou diz que não. "Neste mundo de mortes, de fome, crianças em esqueleto, o sujeito, para não ser recalcado, deve ser muito insensível, muito ruim ou muito burro" (João da Noite).

É pior, João.

Pois isso acabou. Curvo-me.

Submeto-me a Síndrome de Estocolmo. Amados.

Começo a pedir perdão, com música. Hei de conseguir ser como a maioria, hei de vender meu país. Serei político impotente. Terei dinheiros, muitos, mal havidos, falarei bem em discursos, emocionarei gentes em vilas, serei vereador, deputado. Ficarei tonto ao receber elogios de seres como serei. Serei rico.

Serei admirado pelos pobres escravos de má escola, judiarei professores, e na conversa os manterei assim, inertes, desarmados, como eles, os "ricos" do Brasil sempre fizeram e farão. Comerei todas as lindas mulheres, com o carro de um milhão, com o papo adoçante, sincero... Serei um deles. Hei de me redimir. Serei melhor que os humanos com fome, os que me sustentam e a todos os meus iguais quando serei.

Música norte-americana, hábitos, roupas, sons, que sempre amei e passo a adorar. Morte aos muçulmanos, do outro lado do mundo, onde invadimos para buscar petróleo. Morte às bananas da América Central. Morte a... todos que tenham recursos naturais.

Assumi, curvo-me. Minha vida, única, é deles.
E passo a tocar músicas dos Estados Unidos. 

Então, em 1931, no mesmo ano em que Ira e George Gershwin compunham Somebody from Somewhere, Blá blá blá e mais uns três sucessos, para revigorar com amor La Gran Manzana, e Seymour Simons e Gerald Marks se saíam com All of Me, e Herman Hupfeld com As Time Goes By, enquanto Isahm Jones também explodia nas paradas com Stardust, enquanto os Estados Unidos tentavam sair do atoleiro dos seus partidos corruptos, mafiosos, como o nosso Brazil de agora, 80 anos depois, enquanto isso...

No mesmo ano de 1931, o espanhol Enric Madriguera (Rodon, Barcelona, Cataluña, España, 17/2/1904 - Danbury, Connecticut, EUA, 7/9/1973), compôs um mambo com um letrista chamado Eddie Woods (não achamos referência na rede mundial, aliás, achamos muitos Eddies Woods, mas não ele, a quem souber rogamos que nos envie). Ia passando nas nuvens, na cabeça a música com o singelo e direto título: Adiós.

Um mambo, pode?

Que naquele ano bateu a tudo e a todos em todas as paradas dos Estados Unidos.

Não precisava, mas é mais uma prova cabal que de música até bandido gosta, quando é boa.

Meninos... gurias.

Como falamos sobre o bolero argentino Vete de Mi em relação a Cuba, onde até os recém-nascidos sabem cantarolar e assoviar, a composição de Madriguera e Woods, Adiós... não há em todo o mundo quem nunca tenha ouvido. Most Famous Song na terra do Tio Sam.

Adiós já foi gravada como fox-trot, rumba, bolero, cha-cha-cha, salsa, rancheira, tango... rock pauleira duvido, é coisa que jamais vi alguém assoviando.

Mas é mambo en su origen.

Madriguera aos 20 anos, em 1924, era o principal violinista da Sinfônica de Boston. Logo, logo, grande maestro. Soltou-se. Em 1946 liderou a Sinfônica de Cuba, viajou pelo mundo, fez o diabo, sendo o Embaixador da Música para as Américas. É dele a melodia de Adiós.

Não há músico, que mereça esse nome, em Nova Iorque que não chore em fim de noite, bebendo com os amigos, ao lembrar Enric Madriguera, por ver, ouvir ou ouvir falar. Amigo e confidente da "doida" Anaís Nin, por toda a vida.

Cumpre-me informa-los, queridos amigos do blog, da má notícia: Caetano não gravou (que eu saiba), milagre. 

O mundo não o esquece. E à sua orquestra, onde sua mulher Patricia Gilmore era uma das cantantes. Olhem só a composição: Nilo Menéndez (pianista), Carmen Cavallaro (pianista), Helen Ward (1933, cantante), Tito Rodríguez (cantó y tocó los bongos en 1941), Jane Greer (1943, cantó en una temporada que la Orquesta estuvo en el Club del Río de Washington), Joe Loco (pianista, este dos nossos), René Touzet (1945-1946, pianista). René é o autor de Me Contaran de ti e de La noche de Anoche. E muitos mais, tantos...um melhor que o outro.

Com a sua Enric Madriguera and his Orchestra, naqueles anos somente competiam a Orquestra Siboney e a de Xavier Cugat. Competiam, bem entendido, pois Xavier Cugat era seu grande amigo, se não o melhor dos poucos que tinha.

Lalia Madriguera, sua filha, anda ainda pelo mundo, centelha impagável de amor, saiu ao pai.

A melodia embalou muitos filmes, etc, e tal, e fim.

Mas fico com a consciência pesada, e o letrista (letra ao final), cadê Woods?

Letra curtinha, simples, mas que Madriguera aceitou porque tinha o espírito do que o impeliu ao elaborar a música.

Onde quer que esteja, saiba que diria de ti igual que falei de Enric. Eterno.

Preferiria colocar como mambo mui caliente, mas, neste Dia dos Namorados, vai com a famosa pianista, única, Carmen Cavallaro (Nova Iorque, 06 de maio de 1913 - 12 de outubro de 1989), que abrilhantou, como todos os demais músicos, a orquestra de Madriguera em certo momento de sua vida.

Adiós. Dá o que pensar. Pensemos muito, mas muito, pesemos nossos atos,  antes de dizer essa palavra, ela no Brasil tem ares de nunca mais.

Na letra do Woods, é um Até já, meu amor, me vou, aos pedaços de saudade, e temeroso.

Adiós. 




Me voy linda morena lejos de ti,
el alma hecha una pena porque al partir
temo que tú olvides nuestro amor;
hermosa flor, mi alma cautivaste
con la fragancia de tu candor.

Tú eres toda mi ilusión
tú eres mi dulce canción.

Adiós,
me voy linda morena lejos de aquí,
a llorar mi tristeza lejos de ti.

Mais uma...




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2 comentarios:

  1. Agora tu te superou nesse acalorado discurso verborrágico. Muito bom mesmo. Mas o caetaninho, mesmo riquinho... muita coisa boa por ele feita. Mas... opinião é opinião. besos.

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  2. Oba. Anita
    Sim, tens razão. Opinião mutante têm moleques volúveis, hijitos de mami, com o conselho da conta bancária. Num país de indigentes. Enfim... que ele se foda como melhor lhe aprouver, a nosotros não gruda nem de bunda.
    Grato pelo recadinho.
    Tu é super tri, profa.
    Salito

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