“Por menor que seja o vestígio da crença antiga, tende de fato o homem a aceitar que não é mais que a encarnação, o porta voz, o médium de poderes superiores. A idéia de revelação, com o sentido de que subitamente se patenteia ao nosso olhar ou ao nosso ouvido alguma coisa de inelutavelmente seguro e inefável, alguma coisa que nos abala e nos transmuda até o mais fundo do nosso ser, exprime com simples rigor uma situação real. Ouve-se sem se procurar, alcança-se sem se pedir. Como o relâmpago surge então o pensamento com necessidade absoluta, na forma que lhe corresponde, sem tateio, sem escolha. É exaltação, cujo excesso muitas vezes a nossa alma alivia como uma torrente de lágrimas; caminho ignorado em que os nossos passos, alheios à nossa vontade, ora se apressam, ora se suspendem, êxtase que por completo nos subjuga, repercutindo num estremecimento que nos percorre todo, desde a cabeça aos pés; plenitude de alegria em que as formas extremas do sofrimento e do terror não contam já como contraste mas aparecem como partes integrantes e indispensáveis, como tons necessários no seio daquele extraordinário manancial de luz; impulso rítmico que abrange, em suas relações, um vasto mundo de formas – pois a necessidade de ritmo largo constitui quase só por si a medida do poder de inspiração e é uma forma de alívio para a alma opressa e para a tensão imcomportável”.
(...)
Nietzsche (Friedrich Wilhelm Nietzsche – Röcken, 15 de Outubro de 1844 – Weimar, 25 de Agosto de 1900), o louco, descomunal cérebro, a caminho do inferno aqui mesmo.
In Ecce Homo.
Jesus bleibet meine Freude, coral final da cantata Herz und Mund und Tat und Leben, de Johann Sebastian Bach.
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