jueves, 21 de abril de 2011

Pedacinho do céu

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O céu, um pedaço, pelo melhor cavaquinho do mundo.

Waldir Azevedo, nascido no Rio em 27 de janeiro de 1923, era um menininho pobretãozinho do Engenho Novo, que tinha um cavaquinho, comprado com o suor de horrores de trabalhinhos. Quando criança eu imaginava que era torcedor do Peñarol de Montevideo, e do Internacional de Porto Alegre, quem sabe? Universal.

Foi e foi e foi (leia-se vinte páginas sintéticas), e um dia montou o seu Regional.

Em 1951 começou a honra ao mérito: com o seu baião "Delicado", hoje um clássico da música popular brasileira, tornou-se recordista de tudo, entrando nas listas de "hit parade"  dos "irmãos" da América do Norte (a invasão ainda não era terrível) como uma das músicas mais tocadas de todos os tempos.

Às vésperas da entrada do sagrado ano de 1952, como que prenunciando algo, veio com seu "Pedacinho do céu", que por sua escolha foi seu réquiem em 1980, quando Canhoto interpretou enquanto descia o caixão, lá emocionados os melhores bêbedos de tudo, e estavam cheios de trago mesmo, mas, nesse dia, quebrados de tristeza.

Em 1953 os lares do Brasil emudeceram, ouvindo-o com Ave Maria, de Gounod e Bach. Um cavaquinho fazer aquilo...

Em 1979, prenúncio, foi homenageado com um espetáculo fantástico, comemorativo aos seus 30 anos de carreira numa grande roda de choro que contou com a presença de Paulinho da Viola; César Farias (pai do Paulinho); Raphael Rabelo (uma tragédia ir-se tão cedo, ainda choramos); Ademilde Fonseca; Arthur Moreira Lima (encontrei este doido num hotel no interior do Brasil, semana passada. Ainda anda pelo mundo, pelo sertão, mostrando música clássica ao povão, pensei em dizer que não adianta, Arthur, mas fiquei quieto, ele pelo menos salva a si mesmo); Copinha; Carlos Poyares; Isaías e seus chorões; Paulo Moura; Osmar Macedo e Celso Machado, além de João de Barro, o Braguinha. No mesmo ano, realizou show no Teatro Municipal de São Paulo do qual resultou um LP gravado ao vivo no qual interpretou obras de sua autoria como "Mágoas de um cavaquinho" e "Pedacinho do céu", e de outros compositores como "Vassourinhas", de Capiba e "Carinhoso", de Pixinguinha. (fonte: principalmente Cravo Albin, e eu).

Puxa vida, preciso falar dessa gente toda, a Ademilde, o Rafael, o Copinha, todos... Há tempo.

Mas tem uma história que poucos sabem ou lembram.

Certa vez o Brasil invadiu a França. Alguns malucos, mais Baden, Elizeth, Vinícius...

Em certo momento entra no palco do lindo e lotado teatro aquele homenzarrão, óculos semi-escuros, com um instrumentinho desconhecido na mão. Silêncio nos tambores. Ele desajeitado caminhando à procura do banco. Os franceses acharam que era um palhaço, e riram muito, uma festa de gargalhadas e aplausos.

Waldir acenou, sorriu, sóbrio como era, sentou na banqueta. E começou a tocar... Um silêncio de céu desabou sobre a França, cortado apenas pelo sublime cavaquinho, com... Pedacinho de Céu. A França foi para o céu. O teatro inteiro chorava enquanto aplaudia em pé, a fina flor da sensibilidade.

Depois daquilo (Elizeth veio em seguida e nem preciso dizer), a parte boa da França é brasileira. Como veremos ao final.  





E um tiquito de céu com o maior flautista do mundo (prestigiando as meninas, nesta), veja aí, Jota Pagliosa de Bagé, sublime, não é?
Do Altamiro falaremos outro dia, hoje dizemos apenas que será homenageado neste sábado, na França.
Se alguém comparecer, abrace um a um, brasileiros e franceses, com carinho, por mim também, digam que não pude ir por causa do aniversário de Natividad, amada filha que deu de estranhar as viagens dos mais velhos. Informações Aqui.





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