domingo, 17 de abril de 2011

Amor, é o que somos. Nós somos de rancho!

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João da Noite é apaixonado por marcha-rancho, e reclama do blog.

Injustiça, João, volta e meia rodamos uma, também amo.

Mas, já que é assim, falemos um pouquinho sobre o mais lírico dos gêneros carnavalescos.

Rancho, como todos sabemos, significa grupo folclórico. Pois é, assim que um dia os ranchos dos nordestinos que habitavam a zona portuária carioca tiveram a idéia de se meter no carnaval, e lá se foram, cantando marchas e fazendo encenações pela rua.

Com o passar do tempo as coisas foram se organizando. Lá por 1910, noticiou-se num jornalzinho de um dos grupos: “Mário Cardoso externou o desejo de fundar-se um grêmio carnavalesco cheio de originalidade, diferente dos grupos barulhentos de batuque e berreiro. Um grêmio onde a beleza e elegância das vestes se harmonizassem com a sublimidade de cantares impecáveis, e cuja música fosse da lavra de verdadeiros musicistas. O batuque, a pandeirada e os urros seriam banidos por serem antiestéticos”.
Pobre do Seu Mário, se ligasse o rádio hoje...

E aos poucos vieram as mudanças. A melodia passou a ser muito importante, os sopros tomaram lugar de destaque nas orquestras de rancho. A marcha de rancho tornou-se um gênero.
A valorização da melodia e os desfiles de lindos trajes coloridos impressionaram as rádios, que passaram a explorar comercialmente o filão. Logo tornou-se conhecida em todo o país, graças a composições como “As Pastorinhas” (Noel Rosa/João de Barro), de 1938.
Gênero à parte, foi rebatizada de marcha-rancho. Incontáveis foram gravadas, lindas. Ainda hoje ao passar por um jardim lembramos: “Eu perguntei a um mal-me-quer, se meu bem ainda me quer, ela então me respondeu, que não...”.

Mas veio o samba do crioulo doido e a marcha-rancho foi meio que colocada de lado. Sem blocos de rua, de bairros, e com os salões definhando... O carnaval de mentira da plim-plim se impondo, com cordão de isolamento...

O violento marketing em cima dos sambas-de-enredo, quilométricos e confusos que nem os próprios integrantes das escolas de samba conseguiam entender e decorar a letra, depois os ritmos ditos carnavalescos se fundindo com afro-reggae, lambada, rock demência, country terrorista, rinoceronte, caturrita e avelã, acabaram com a essência do carnaval. Adeus, tia Chica.

Já em 1968 o inesquecível jornalista, compositor e escritor Sérgio Porto, (Sérgio Marcus Rangel Porto, o Stanislaw Ponte Preta, Rio, 11/1/1923 – 30/9/1968), autor do famoso FEBEAPÁ – Festival de Besteiras que Assola o País, extravasava sua perplexidade com o seu “Samba do Crioulo Doido”, gravado pelo Quarteto em Cy, ironia demolidora sobre os sambas de enredo que tinham virado livros mal contados de história: “Foi em diamantina onde nasceu j.k. / E a princesa leopoldina lá resolveu se casar / Mas chica da silva tinha outros pretendentes / E obrigou a princesa a se casar com tiradentes / Laiá, laiá, laiá, o bode que deu vou te contar”. Mas esta é outra história.

Entretanto a marcha-rancho resistiu, e resiste, muitos seguiram compondo. Vez em quando, uma explosão de pura poesia no Brasil.

Em 1961 Paulo Soledade repetiu o amor de 1952, quando encantou o país com “Estrela do Mar”, agora com Marino Pinto, um hino de esperança: “Estão Voltando as Flores”.

Teve um dia de 1959 em que Antonio Maria e Luís Bonfá deixaram, e ainda deixam, a aldeia trêmula com “Manhã de Carnaval”.

Vinícius de Moraes, apaixonado pelo gênero, exclamava: “Marcha-rancho é covardia!”, para em seguida compor, com Carlos Lyra, a “Marcha da Quarta-feira de Cinzas” (1963), e depois, adaptando sua letra à música de Bach (Jesus, Alegria dos Homens): “Rancho das Flores”.

Em 1967 Hildebrando de Matos (com letra de Zé Keti) se superou, com a magnífica e eterna “Máscara Negra”. Chico compareceu em cima, ainda em 1967, com “Noite dos Mascarados”.

Quem se habilita em 2011?

Como se disse no início, falamos um pouquinho, viu, João?

E marcha-rancho tem uma coisa que muitos gêneros não tem: é algo sublime que se pode dançar. Ah...

E pode-se ouvir de muitas maneiras.




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