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Após uma parada forçada, a coluna A Charge do Dias retoma seu árduo trabalho, para alegria geral dos boêmios do Botequim do Terguino, que continuam na Praia do Quintão, tomando todas as geladas do Bar dos Amigos, do Joel, nestas alturas já "velho" amigo Joel, o proprietário.
O dia foi de Carlinhos Adeva, os empinantes se curvaram e a palafita também se curva ante a sabedoria do nobre causídico.
Deu-se que Carlinhos leu não sei onde que a empresa de um ricaço foi multada em alguns bilhões, por ganhos de capital não submetidos à tributação segundo as leis do Brasil. Só a notícia do auto de infração, o imposto devido mais multa e juros, e a quem foi imputado, já causou um rebuliço no Bar dos Amigos, alegria e abraços. Muitos brindes aos fiscais do Leão.
- Deus existe -, suspirou Jezebel do Cpers.
- Deus existe -, suspirou Jezebel do Cpers.
- Taí - disse Aristarco de Serraria -, além do negócio ter começado com maracutaias, no passado, é assim que eles aumentam a riqueza. Quantos hospitais daria para construir com esses bilhões, quantas escolas, alguém tem uma idéia?
- Se eu pego um cara desses -, disse o Contralouco.
Aí o Carlinhos meteu-se a falar de tecnicalidades, a turma ficou boiando, nós idem, mas vale resumir:
- Foi um amigo meu que inventou o planejamento tributário utilizado pelos mandriões, há uns 30 anos, só que aquilo é para quem sabe fazer, não é para qualquer consultoria multinacional, estas só têm nome, no fundo não surfam nada. Consiste em transformar em não tributáveis lucros pela venda de ativos. Isso mesmo: puros lucros, que mereceriam até alíquota de tributação maior, podem ser transformados em resultados não tributáveis, através de operações de cisão e incorporação de empresas y otras cositas más. No fundo, o velho ganho de capital por variação no percentual de participação, ou seja, equivalência patrimonial. É possível ainda, mas há que se tomar precauções, uma delas é diminuir a ambição, e é aqui que em geral eles capotam na curva.
- Pára de falar aramaico, Carlinhos, não pode explicar isso em português que se entenda? -, reclamou Nicolau Gaiola, o nosso ator e teatrólogo.
- Infelizmente não dá, Nico.
Lúcio Peregrino, o homem das notícias do notibuc (notícias populares, esse papo do Carlinhos ele nem viu), muda o rumo da conversa:
- Viram o monstro que descobriram, a lula que...
Clóvis Baixo voltava do banheiro e pegou o bonde andando:
- Puta que pariu, não me estraga o dia, meu, ora falar de chefe de quadrilha... Cada vez que ouço o nome desse elemento lembro que o SUS é de primeiro mundo, claro, no Sírio Libanês os corredores não estão superlotados de pessoas morrendo. O que é dele está guardado...
- Se eu pego um cara desses -, diz o Contralouco.
- Gente, eu só ia dizer que cientistas japoneses conseguiram filmar uma lula gigante, outro animal, o do mar, a 630 metros de profundidade. O bicho tem três metros de comprimento, é muito misterioso, gosta de ficar nas profundezas, no escuro, mexendo seus enormes tentáculos.
- Igual o outro -, disse Mr. Hyde.
Com essa, Miss Leilinha exige o envio imediato das obras do dia, antes que o blog estrague novamente.
Ela deu o exemplo, escolhendo a sua: Amarildo, da Gazeta Online (Vitória, ES).
Os boêmios quase perderam o bom-humor, com o Enio, da Gazeta de Alagoas (Maceió, AL). Gustavo Moscão e Contralouco proferiram adjetivos impublicáveis sobre a justiça em geral, em especial a um tal de tourinho. Jucão da Maresia matou:
- O Brasil, amigos, segue sendo o bordel dos larápios.
- Bordel de oitava catega -, apressa-se a esclarecer Jucão.
- Como toda a América Latrina - diz Jussara.
Silvana Maresia faz um ar patético, de tristeza impotente, pega a menina pela mão e diz: - Vamos ao mar, Camila, vamos, Juca; gente, vamos todos desopilar no Atlântico?
- O Brasil, amigos, segue sendo o bordel dos larápios.
- Bordel de oitava catega -, apressa-se a esclarecer Jucão.
- Como toda a América Latrina - diz Jussara.
Silvana Maresia faz um ar patético, de tristeza impotente, pega a menina pela mão e diz: - Vamos ao mar, Camila, vamos, Juca; gente, vamos todos desopilar no Atlântico?
E chegaram na obra do Nani. Por esta, por alguma razão, desde às nove da manhã, quando voltou do mar, Carlinhos Adeva estava em campanha, imprimiu e mostrava a todo mundo. Tigran Gdanski reclamou que ele escolheu logo uma que não precisaria de campanha alguma, e a turma foi unânime na escolha, vai para a parede do bar, com moldura doirada. Mas Carlinhos tinha algo em mente, advogado é bicho estranho...
- Sei não, vai que o artista esteja dizendo o mesmo que disse Carlinhos antes -, falou Aristarco de Serraria.
Vá entender.
Com a anuência da Leilinha, os beberantes cederam ao Joel do Bar dos Amigos o direito de escolher uma. Ele emocionou-se com o que chamou de honraria, e chamou a mulher e as filhas para ajudar. Ficaram com o Paixão, da Gazeta do Povo (Curitiba, PR).
- Olhaí, a Dilmeca Pagã! -, exclamou o Contralouco.
- Tu entendeu mal antes, Contra, é Apagã - corrigiu Wilson Schu.
Sai todo mundo voando para o mar do Quintão. Crianças pela mão, bonecos para nadar, nada muito rico, mas que mar, uma beleza. Todos empacam ao grito do Contralouco:
- Pára! Alguém viu o meu Gatolino?
De fato, chegou no bar, de volta do banho, sem o gato no ombro (nunca ninguém na Praia do Quintão tinha visto coisa igual, um gato que anda no ombro do dono, feito pássaro).
Pararam de chofre.
Jezebel do Cpers, a mais velha:
- Contrinha querido, lembra de quando viu o Gatolino pela última vez?
- Quando entramos no mar, furamos onda e tudo, fui até depois de rebentação.
- Ai, ai, ai, então vamos já ao mar - disse ela.
*
(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos meses se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)
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