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Por Mauro Santayana, no JB
Há, na ilha de Cuba, um campo de concentração que lembra os montados pelos
nazistas na Europa de Hitler. Mais de uma centena de prisioneiros sem julgamento
— já que não há nas leis nada que dê suporte legal para tal ato — se encontram
confinados desde 2002, em instalações precárias e provisórias, submetidos desde
então a maus-tratos e tortura, física e psicológica. Quase todos eles se
encontram há meses em greve de fome. Depois da morte de nove deles, passaram a
alimentá-los à força, prática condenada pela Comissão de Direitos Humanos da
ONU.
É bom explicar que não é um presídio do governo de Cuba mas, sim,
estadunidense. Trata-se de parte da base naval de Guantánamo, ali instalada pelo
governo dos Estados Unidos, depois da guerra vitoriosa contra a Espanha, em
1901. A partir de então, Cuba deixou de ser colônia de Madri para tornar-se
dependência política de Washington.
A instalação formal da base e a assinatura de um tratado para a sua
manutenção ocorreram em consequência da Emenda Platt, em 1903, pela qual Cuba
perdia toda a sua soberania — imposta pela força. Ainda que Roosevelt, em 1934,
tenha formalmente abolido a Emenda, o Tratado de cessão da base foi mantido.
Pelo documento, a ocupação militar de Guantánamo durará enquanto isso for do
interesse de Washington.
Logo depois da Revolução Cubana, quando se iniciaram os desentendimentos com
as empresas de petróleo americanas, mas ainda em 1959, Havana denunciou
formalmente o Tratado: os Estados Unidos deviam retirar-se da base. No entanto,
eles, além de não tomarem conhecimento da decisão de Fidel, intensificaram sua
ação diplomática contra Cuba, e a clandestina, a cargo da CIA e
contrarrevolucionários cubanos — que levou à frustrada tentativa de invasão da
Baía dos Porcos.
“Mais de 160 homens, que nunca foram acusados de nenhum crime, e menos ainda
condenados por crimes de guerra, permanecem em Guantánamo, sem um fim à
vista” — argumenta o coronel Morris Davis, que foi o chefe dos promotores das
comissões militares que julgaram (ilegalmente) os prisioneiros de Guantánamo,
entre 2005 e 2007, durante o governo de Bush II.
Davis lidera um movimento nos Estados Unidos que recolheu 190 mil assinaturas
de seus concidadãos, em uma petição para fechar a base e libertar os
prisioneiros, e a encaminhou ao Congresso. Há mais de três anos que 86
prisioneiros de Guantánamo receberam — por falta absoluta de evidências de sua
participação em atos de terrorismo — autorização para regressarem a seus países.
Têm medo de soltá-los: onde quer que estejam, os prisioneiros de Guantánamo
contarão ao mundo sua história e, tendo sido tão vilipendiados, estarão
disponíveis contra os EUA.
Sequestrados, enjaulados, torturados, humilhados, estão moralmente
autorizados a dar o troco.
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