domingo, 15 de septiembre de 2013

A calma do mongol, n'A Charge do Dias

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Há tempos não acontecia. Hoje Marquito Açafrão entrou no botequim ainda durante o horário do chimarrão dominical, que vai das 8 às 9 h, e gritou: 

- Salta um rabinho, Portuga!

Pronto, adeus chimarrão, os demais pediram a famosa caipirinha que só o Portuga sabe fazer, com vodka, limão siciliano e uma folhinha de hortelã. Bruno Contralouco foi o único a seguir o Marquito, indo também de rabo-de-galo. O lusitano olhou preocupado para o lado de ambos, murmurando "Ai-ai-ai, cachaça com vermute, hoje loguinho teremos dois gajos bêbados".

A turma segue chegando, cada um largando na mesa do Wilson Schu o seu meio quilo de carne. Schu é doido pela lida, se alguém se escalar de assador ele fica beiçudo o resto do dia. O Clóvis Baixo, que assa tão bem quanto o Schu, é um dos poucos que se habilita, mas contorna os sentimentos do amigo se escalando como seu auxiliar.

Jezebel do Cpers chega, larga sua maminha, depois aperta uma cadeira na mesa principal, pede seu martini seco e passa a seguir a história que Aristarco de Serraria conta:

- ... ao amanhecer a sua predileta havia feito beicinho por uma bobagem de ciúmes, furiosa quase derrubou a enorme tenda de campanha, em seguida a carne que lhe serviram de desjejum estava sem sal. Ainda assim o mongol aparentemente manteve a serenidade. Não iria mudar seu proceder por causa da chinoca, os homens conheciam seus hábitos de guerra, qualquer mudança seria mostra de fraqueza. Parou de chofre em frente à fortaleza sitiada. Ergueu-se no cavalo e olhou atrás de si, aos 200.000 cavaleiros que se estendiam pelas coxilhas, ansiosos pelo saque e pelas mulheres do inimigo. Depois de vencer ao exército adversário no dia anterior, agora estava a 200 metros dos portões da cidade persa. Ríspido disse ao seu segundo: "Mande homens avisar que seu exército neste momento é comida de abutres e hienas. Se entregarem a cidade sem reação, levarei somente um de cada dez homens como escravo, destruirei suas imagens e trocarei seus cânticos, matarei somente os chefes e suas famílias, pela fome dos campônios que vi pelo caminho. Levarei duas de cada dez mulheres jovens, as princesas que não quiserem morrer irão para meus guerreiros mais modestos. Nada mais, viveremos em paz, logo partiremos. Que a mensagem seja levada pelos 50 prisioneiros, libertem-os, que entrem na cidade e gritem ao povo para que a nobreza não esconda a minha intenção de paz. Se reagirem, morrerão todos e suas crianças queimarão ao sol com os corpos cobertos de sal. Aqui ninguém apeia, compañeros, eles têm uma hora para decidir!". Seu último grito foi respondido por um urro que ecoou a cinco léguas. Cada chefe de horda foi gritando aos comandados a mensagem enviada pelo Temujin, concatenados, sem se mexerem a não ser por dar voltas com o cavalo e passar adiante, até que o último soubesse. O tempo foi passando, sumiram os flecheiros, nas muralhas surgiram algumas mulheres de branco, algodão, por dentro nuas, erguendo nenês lá em cima, aumentou, outras vieram, agora nuas sem crianças... A horda inteira esperava que saísse o rei, para ajoelhar diante do conquistador, e aí...

Luciano Peregrino vem chegando com jeitão de estar de noite atravessada, ouve a última frase, já conhece a história e exclama:

- Aí o mongol mandou o seu bruxo se enganar com o relógio de areia e passados cinquenta minutos invadiu e matou todo mundo. Estupraram, jogaram criancinhas no fogo, espetaram. Pra verem o que faz uma mulher, raça maldita...

- Pronto, aí chegou um borracho a quem já contei e me estragou a história, piorando irremediavelmente, disse o filósofo Aristarco. - Não mandou nada, o bruxo que se enganou, e nem era bruxo. Vamos falar de futebol.

- Tá bom, mas se não foi o mongol foi a mulher, vingativa como todas, que corrompeu o bruxo do relógio, mulher é bicho ruim, insiste Luciano.

Aristarco não perde a calma:

- De onde está vindo bêbado assim, meu amigo?

Luciano olha as bebidas dos amigos, pára na do Contralouco e diz:

- Bêbado nada, tava com uma tianga que me tirou do sério, não pude dormir e tomei uns tragos de leve. Ahahah de leve. Ei, Contra: Gengis Khan, além de ter muitas mulheres, era chegado num rabinho como esse que tu tá tomando, bebeu cinco depois que a princesa lhe encheu o saco, essa mistura enlouquece qualquer um.

- Vai ver se estou lá na esquina, Luciano, diz o Contralouco.

- Vai à merda, Lú, disse Jussara do Moscão, ainda indignada com a tirada de que as mulheres são vingativas.

- Bah, bom seria um mongol parar o cavalo na frente do Congresso Nacional, ansioso por sal, depois de um dia de luta horrível atrás de um salário mínimo, depois de uma noite que deveria ser para descanso e que foi de recriminações e que acabou em estranhamento com uma putianga, disse Chupim da Tristeza, no que foi aplaudido efusivamente pelos boêmios.


Assim começou o domingo no Beco do Oitavo.


Leilinha Ferro propõe que as obras do dia sejam escolhidas logo, depois ficarão livres para o que quiserem. Essa é uma tarefa que todos gostam, mãos à obra.

Ficaram com as seguintes.

S. Salvador.



Marco Aurélio.



Gustavo Moscão diz que encheu o saco de política e convenceu os amigos a votarem no futebol. Por alguma razão todos são torcedores do Galo neste domingo, aniversário do Grêmio. Jussara (do Moscão) disse, bem-humorada, que desconfiava que não é bem de futebol que o Gustavo gosta. Com o Duke.



Durou pouco a recaída. Vieram com o Nani.



J. Lima.



Miss Leilinha Ferro, a gatinha do PSOL, ficou com o Sinfrônio.



A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que.., bem..., se fundiram  no ano passado (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.
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