jueves, 12 de septiembre de 2013

Ódio de impotência, n'A Charge do Dias

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Desde o botequim do Beco do Oitavo, alimento o blog pela tábua de Leilinha Ferro, não sem a sua ajuda. Cheguei de chinelos de dedo, bermuda e camisa regata do Peñarol. Uma festa, a recepção, a turma é carinhosa. 

Essa do amado Peñarol, que adoro, depois de longos, demasiados, anos sem interlocução consegui contar à moçada, apareceram Alex, Bruna/o, Carlo/s, Juans, Jus, Luciano, Lori, Maga, Mareu, Natividad,... Zuz, sempre em ordem alfabética porque coração não tem ordem, a não ser a da precisão, outros ficam para outro dia porque agora bem não lhes faria. Vai um abraço ao pessoal do Armênia, em San Pablo.

O Peñarol é o único clube do mundo que dispensa títulos, dispensa dinheiro, a idéia é ajudar meninas e meninos. Quanto aos meninos, ah, milhares de meninos, por causa do futebol, paixão das massas. O Peñarol é o oposto de gentalhas como Ronaldão Traveco da CBF e da Globo, de Corinthians, Flamengos, Inter ou Grêmio, drogas onde assaltantes se fartam. Brutal oposto, que não contamina o nosso doce carvão de pedra. A história é muito mais longa, mas está explicado, para quem estranha, se alguma vez estranhou, afinal nasci em trânsito e fui registrado em Carazinho, RS, que não conheço. Poderia ter sido em Montevideo, foi lá, em um local que só eu sei.

Não sou santo, andei transando com mulheres, uuui, coisa que santos de asas não fazem, segundo a lenda, mas sou Peñarol até morrer. 

Dale, Carbonero! Olho para as minhas costas, asas que é bom... Gostei do jeito de caminhar daquela alemoa que vai passando no outro lado da rua.




Um completo desânimo no botequim. Assistiram pela tevê aos debates do Supremo Tribunal Federal, 6 a 5 a favor dos mensaleiros.

- Hoje o Barrosão vai tomar champanhe de dez mil contos com o José Dirceu, disse Carlinhos Adeva, o diretor jurídico do Partido dos Boêmios. 

- Animais de vaselina na cara!, exclamou Clóvis Baixo.

- Quem é esse Barrosão?, perguntou Jezebel do Cpers, recém chegada.

- Um dos ministros que a Dilma botou lá de encomenda para reforçar o time do Complikowski. E veio com um papinho de que ele é que é honesto, um pedante rico do papai por advogar pelos ricos, só ele é homem, nós aqui somos tudo povinho, restos sombrios da sociedade, a sociedadezinha dele, qualquer neguinho de rua, tivesse a oportunidade que ele teve, não teria aquela cara de... Ele que vá tomar bem dentro, o abobado da punheta, que se viu um prostíbulo foi pagando, se viu miséria foi pela CBS americana, não tem um por cento do mundo do Negrote que vive debaixo da ponte, ora, homem honesto..., respondeu Carlinhos, ressentido.

- O cara é isso tudo, Salito?, me pergunta o Portuga.

- Pergunta besta, meu mano, respondo. Abstraídos os exageros, o desabafo, concordo com as manifestações de desagrado, não é para menos. Vou adiantar uma coisa: esse tal de Barrosão não conheço, mas o cenário onde somos atores que ninguém vê, eu vi, e é muito pior.

Um estranho, que depois eu soube ser o Renato de São Gabriel, em pé no balcão, não se aguentou e disse "Me desculpem a intromissão, amigos, desde que o mundo é mundo é assim, ainda bem que a ditadura dos criminosos se foi".

Clóvis levantou a cabeça, olhou com seus olhos vermelhos para o Renato, e disse alto no silêncio do bar:

- Presidente Salvador Allende!

O bar inteiro respondeu: "Presente!".

- Gente, vamos esquecer isso, hoje até eu estou com vontade de cortar os pulsos, não adianta a gente se iludir, ninguém nunca irá preso, salvo algum merdinha do baixo clero que roubou miséria de dez milhões, disse Nicolau Gaiola, O Desencantado, que tem ojeriza aos papos sobre dominação de brutos sobre cordeiros.

- É, só dez, mas que seja cinco, amanhã ou depois os filhos deles vão esfregar na cara do meu guri o carro estrangeiro, o meu  guri que tenta ser direito como eu, vão rir dos meus no colégio, vão tentar comer a minha menina só para se divertir, zombando da sua roupa simples. Acham que são deuses. Com dinheiro roubado... eu também quero matar esses caras, desabafou Freddy Lorpa.

- Hoje fez 40 graus em Porto Alegre, falou Tigran Gdanski, tentando mudar de assunto.

Boa tentativa, ainda está um calor dos infernos, mas frustrada porque nesse momento o Contralouco, outro ausente à sessão da tarde, entrou a mil no bar, aos gritos:

- Vocês viram!? Eu vou matar aqueles filhos da puta! 

Silêncio no bar. Alguém liga a televisão (sem som, ninguém suporta os narradores e comentaristas), o Inter enfrenta ao glorioso Vitória da Bahia em Novo Hamburgo.

- Quem, os ministros do Supremo? - ouve-se a voz de Jussara do Moscão.

- Todo mundo! Ministros, mensaleiros, políticos, aspones, o caralho! Se esse povo de merda não sair às ruas amanhã e quebrar tudo tem que se fuder mesmo! São tudo cuzão esses ministros, vaidade, estudam, estudam, os merdas ricos, e não lhes entra na cabeça que estão mortos! Vamos todos morrer! Não existe Deus! Ninguém vai ler seus garranchos mentindo que sem compromisso! Filhos da puta, são compromissados sim. Ninguém vai ler! O povinho nem sabe quem foi Alvares de Azevedo, que ontem morreu aos 20 anos! Malditos que subtraem escola e tudo, para roubar... Por dinheiro! Covardes!

- Então tem que matar a todos, desde 198..., perguntava Jezebel quando foi cortada abruptamente.

- Calma!, tu é um cara gentil, singelo, Contra, o que é isso, falou Ain Cruz Alta.

- Mas é isso que estou dizendo, Ain, Jêze, a todos! A turma do Sarney, do Collor, do Fernando Henrique, do Lula, todos! Estão mortos e não se flagram! Ninguém no futuro vai ler esses animais! É tudo ladrão!, exasperou-se Bruno Contralouco, com o rosto cortado de amargura e ódio de impotência, olhos brilhando de água que teimava em não cair. Todos viram, ninguém deu um pio, até porque alguns seguravam as suas.

- A Dilma também?, pergunta Aristarco de Serraria, com um sorriso cínico.

- Bem, a Dilma ainda não -, responde o Contralouco, recuperando-se depois de pensar um instante com as mãos na cabeça, cotovelos fincados na mesa, quando aproveitou para secar as lágrimas na manga escondido para ninguém ver.

- Foi ela quem botou o Barrosão e o outro, aquele advogadinho do PT, no Supremo, ela é mandalete do Lulaluf..., insiste Aristarco, implacável, sem tirar a máscara de asco do sorriso triste, pensando longe.

- Ela que escolheu o Palocci e outros ladrões..., diz Chupim da Tristeza, entrando no jogo do Aristarco.

Aristarco subitamente se mexe nervoso, põe o corpo ereto, passa a mão nos cabelos arrumando, concentra-se e prossegue, voz forte, revigorado pelos pensamentos, agora sem o sorriso que lhe doía, encerrando o assunto: 

- Desculpem-me. Gente, vamos deixar para lá. Vamos esquecer essas pessoas, Bruno querido, são pobres almas, entendam, pobres. Vivamos! Que tal churrasco hoje?

(Esse é o Aristarco que conheço e amo)

- É, são todos uns broxas desalmados mesmo, acham que dinheiro substitui..., disse Jezebel.

- Alguém trouxe carne?, pergunta vivamente Wilson Schu.

- Não, mas é cedo ainda, diz Aristarco.

Clóvis Baixo, Wilson Schu e Chupim da Tristeza marcham com destino à Mercearia Zaffurtari da Rua do Arvoredo. Param na porta e Chupim pergunta ao Terguino se tem carvão. Tem, sal também, basta que tragam carne. Gustavo Moscão pega o tonel cortado e o leva para o canteiro do meio da rua. Jussara vai lavar os espetos, tirar o pó.

O Inter toma o primeiro gol da noite, Cáceres para eles. Cícero do Pinho sai para buscar o violão, Contralouco murmura "timinho de merda" e vai para o salão da sinuca ver se tem alguma parada boa.

As professoras Jezebel, Silvana, Ain Cruz Alta, Zilá e Jussara discutem os problemas da classe. O governador é chamado de viado para cima, a maioria preferindo chamá-lo de Russo Cego.

- Posso dizer uma coisa, Salito, soube que tu andou falando disto, deixa eu dizer, tu bota no blog?, pede Clóvis Baixo, agitado.

- Claro que sim, imagine, diz aí.

- Seguinte: o buracão é na meia-cancha, o 5, o Dunga deve ser dono do passe do tal de Willian, ou Uílian, sei lá, esses infelizes tem cada nome, porque esse negão não jogaria nem do Arranca Toco. Ou o dono é algum dirigente, sabe que tem isso, né, outro dia prenderam um do Inter por outras ladroagens, mas se forem ver... mas quem escala é o Dunga. Esse bosta, se levantasse a voz comigo, como fez com estardalhaço com o Romário, morria.

- Eram amigos, dormiam no mesmo quarto, pára, Clóvis - diz Marquito.

- Não interessa. Macho para as negras dele, aquele anão pau no cu. Um bostão que nunca viu homem, hoje manda em meninos, crianças, que é o que são os "gladiadores" do preparo físico a 500 mil por mês, é merda como aquele Felipão. MERDAS!

O Inter vira o jogo em dois minutos, dois gols do capitão argentino D'Alessandro. 2 a 1. 

Bruno retorna da sinuca, senta-se e diz: - Esse Dunga tem que sifu, é outro general de hospício que pensa que tem três ovos, só  pode ser filho de milico. Queria que olhasse para mim daquele jeito de rico que tomou dos alemães... morria.

Gustavo Moscão sorri e se abraça com o Clóvis, este com o rosto fremindo, levantam, dão pulos agarrados, ares de se somos loucos não estamos sozinhos.

Assistem ao jogo.

Chega a carne, Schu espeta. Começa o segundo tempo, vão todos para as mesas da calçada, o Inter fica lá dentro, se defendendo em casa azul, a cor do "inimigo".

Lorildo de Guajuviras e Luciano Peregrino apontam no pé da escadaria da 24. Lori de terno branco e camisa azul, Luciano de terno azul e camisa branca. Riem de algo. Talvez tenham conseguido arranjar uma maneira de acabar com os banqueiros, gerentes cansaram de espancar, como o Contra. Ou casaram. Logo saberemos.

Eu, quietinho, fico torcendo pela primeira opção. Espero que seja outra alternativa, não a que sei e tento evitar. Miquirina Segundo me telefona, tenho meia hora. Penso no Brasil. Não é o Dunga que é merda. Se é, não importa, porque merda mesmo somos nós, o povinho que sustentamos toda essa gente despreparada.

As obras estavam escolhidas desde o meio-dia. Os boêmios ficaram com as seguintes:

Elvis.




Sponholz. Que, como tantos chargistas, gente curtida, cantou a pedra antes.



Newton Silva.




Nani.




Sinovaldo.




Eu, como visita, tive direito a uma, escolhida agora. Referi-me a um punheteiro rico, que meus concidadãos definem como intelectual. Um merda ao cubo, como o Lula e todos que o apoiam. Sou louco ou não sou hipócrita? Alô, Marco Aurélio, que papelão, meu, era isso que tu queria?! Escolham. E esse escolham vai aos escravos dos jornais, aos ladrões outros. O povo nem sonha.

Vasqs.





Leilinha Ferro ficou com o Zop. Eta guria porreta.





E com o Erasmo. Aqui a menina soltou um palavraozinho, referindo-se à senhora Dilma.




A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que.., bem..., se fundiram  no ano passado (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.

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