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Catulo, que se chamava de fato da Paixão Cearense, nasceu no Maranhão, em São Luís, em 08 de outubro de 1863, e morreu no Rio em 10 de maio de 1946.
Aos 17 anos, depois de andar pelo Ceará, foi parar no Rio de Janeiro com a família, o pai era relojoeiro e se instalou na Rua São Clemente. Ali abandonou o seu antigo amor, a flauta, e se entregou ao violão, na época um instrumento maldito, coisa de gentalha. Logo seu pai quebrou-lhe um violão na cabeça, para aprender a não andar se envolvendo com boêmios.
Pobre a dar com um pau, após a morte do pai deu uma de estivador, morando em Copacabana, um deserto distante de tudo.
Mas o guri era bom. Após umas garrafas de vinho Periquita, dedilhando seu violão e cantando coisas de amor, todas as mulheres dos políticos, de senadores para baixo e para cima, queriam dar para ele. Dar atenção. Não contente, ainda queria a atenção das protegidas das mulheres dos políticos, de modo que acabou casando com uma, após o gentil convite de um delegado de polícia. Mas seguiu recebendo a atenção das políticas ricas (por alguma estranha razão, todas são abonadas).
Apesar de grande sucesso, era um um cara muito simples, sincero, desprovido de ganas pelo vil metal, muito diferente dos Cobertos Ralos e sertanojos da vida. Assim, é claro que vivia duro. Para quê dinheiro?, pensava ele, se amor tenho de graça, sou o cara. Que paguem os que precisam pagar.
Definitivamente: dos nossos.
Viveu os últimos anos de sua vida num barracão da rua Francisco Méier (hoje Catulo da Paixão Cearense). Lá recebia amigos que não o esqueciam, como Monteiro Lobato, o poeta espanhol Salvador Rueda e o tenor mexicano Alfonso Ortiz Tirado (a Voz Romântica do México). Além dos cordeiros políticos, obviamente, que cediam à insistência de suas mulheres: batiam pé, choravam, queriam porque queriam ficar algumas horas a sós com o boêmio.
Morreu sem um tostão furado. Foi velado na Associação Brasileira de Imprensa e depois levado para o cemitério São Francisco de Paula, ao som da Banda do Corpo de Bombeiros tocando a Marcha Fúnebre. O cortejo ia passando e o comércio ia silenciosamente fechando as portas. No cemitério, tal era a multidão, foi discurso que não acabava mais, tanto que, quando os menos tontos se deram conta, era noite alta. Então, sob uma imensa lua cheia, Alfonso Ortiz começou a cantar seu maior sucesso, Luar do Sertão, e logo milhares de vozes se juntaram em homenagem ao poeta morto.
Marisa Monte, a deusa-cantora (sempre ela), registrou um poema de sua lavra, com linda melodia de Pedro de Alcântara.
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