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Assis Valente morreu de solidão, numa manhã de março de 1958.
Despediu-se da vida por iniciativa própria, cumprindo a promessa que fizera mais de uma vez aos conhecidos em noites de trago, amigos não tinha. Na época, como hoje, as pessoas fingem ser amigas, se você estiver bem-vestido e com gaita no bolso. Assis via isso. Ele era amigo de todos, era gritar e estou lá.
De tanto que os conhecia, a essa malta nojenta, não esperava por eles. E ele tinha o grave defeito de ser talentoso, e, bem, vocês sabem o que isso provoca em almas brutas, mesmo em embaixadores, um concursinho no Rio Branco, vá se saber as marcas das cartas.
Assis Valente morreu, já se vão mais de cinco décadas, mas, no Natal, ele está mais vivo do que nunca, na música de sua autoria que os corais das lojas e xópins interpretam, ouvi no penúltimo fim de semana na rua, depois no Mercado Público, eu que odeio xópins, a prova cabal da falência dos homens de bem, da covardia, antro de covardes. Logo mais as estações de rádio, propriedades mal-havidas de políticos, começaram a tocar. Os espertalhões usam José Assis Valente.
Todo ano é assim.
Música natalina, genuinamente brasileira, de versos tristes e melodia alegre, um aparente paradoxo, como sugeriu Ricardo Albin. Paradoxo para ele, de se supor que não sabe o que é passar fome em Natal, andando pela rua e aspirando o cheiro de penosas assadas, a pele da barriga quase encostando nas costas, um buraco.
“Eu pensei que todo mundo/ fosse filho de Papai Noel/ E assim felicidade/ Eu pensei que fosse uma/ Brincadeira de papel/ Já faz tempo que eu pedi / Mas o meu Papai Noel não vem/ Com certeza já morreu/ Ou então felicidade/ É brinquedo que não tem”.
Assis Valente nasceu em Santo Amaro (BA), foi roubado dos pais biológicos e já adolescente vagou pelo interior da Bahia com o elenco de um circo; em Salvador trabalhou como farmacêutico e foi se virando, até que um dia se encontrou com a música.
Tornou-se, já morando no Rio de Janeiro, um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos; algumas de suas criações eternizadas, a exemplo da música natalina de que hoje falamos, como Brasil Pandeiro e Camisa Listrada, para citar as de maior chamamento popular.
O seu talento não reverteu em grana. Não conseguiu viver da música. Não era gatuno, o oposto: um mão-aberta, não podia ver uma criança com fome na rua, pagava comida, dava a roupa. Contumaz de chegar em casa sem camisa e sem sapatos. Enquanto alguns de seus intérpretes enriqueceram, Carmen Miranda, aquela..., aquela... (faltou-me a palavra, ainda bem), por exemplo.
Um gênio doce, sem maldade. Aos olhares do mundo, só um bobo de quem poderiam se aproveitar. A maldade trabalha durante a noite. A ambição quer sangue.
E a inveja dos que o cercavam... sai da frente. Inveja da sua alma boa, isso incomoda aos chacais. Cara bom vocês sabem: é o cara que é bom mesmo quando ninguém está olhando. Tornar-se como ele? Impossível. Então, fazer o quê?
Matá-lo. Sai daqui, a cada vez que te vejo me lembro que sou um reles chacal. Não quero mais te ver.
Assis Valente viveu afogado em dívidas; na sua carta de despedida pedia que o público comprasse seu novo disco, Lamento, e, pior, pedia a Ary Barroso que pagasse os aluguéis atrasados. Logo quem, o Ary gritão "penso só em mim".
(Isso quem diz, de pedir, é Ricardo Cravo Albin. O gritão do Ary eu assumo)
Não disse mais nada: “Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo”. (Ricardo, sem fonte)
Seu "bom amigo", o embaixador Paschoal Carlos Magno, em croniqueta no semanário Politika, do notório Sebastião Nery, na edição de 26/6/1972, lembrou a aflição do compositor, uma tristeza que tinha raízes mais profundas do que o sentimento fraterno poderia imaginar. (fonte: Ricardo Cravo Albin, de novo)
“Era mais de meia-noite. Eu morava em Santa Teresa. O telefone furava o silêncio (bom o estilo, o telefone não corta mais, agora fura). Era Assis Valente que me pedia socorro. Precisava com urgência me ver, àquela hora mesmo... Assim que entrou na sala de nossa casa parecia mais calmo. Olhou, como era seu costume, para os santos antigos, os oratórios e para o quadro de minha mãe, pintado por Rescala. Esperava que me revelasse alguma coisa muito séria que o afligia”. (idem)
E o grande artista teria desabafado em seguida: “Toda vez que me sinto perdido, desesperado, venho para sua casa. Sempre foi assim. Eu vivo obcecado pela morte, um dia me mato doutor, um dia me mato”. (de novo, RCAlbin, pela voz do outro, o Paschoal)
Paschoalzinho prossegue: “Nunca me contava as razões de seu desespero. Fui buscar água. Ao voltar o encontrei chorando, com o rosto escondido entre as mãos abertas. Não bebeu a água que havia pedido. Então me deu um abraço grande e falou: me desculpe doutor, me desculpe. Estou melhor. Esta noite não me mato mais. Vi o senhor, vi o retrato de sua mãe. Ainda tem muita gente boa neste mundo”. (ibidem)
Um amigo de verdade faz falta. Não amigos de mentiras de redes sociais de egoístas. A voz de uma só pessoa, no caso o tal embaixador, é pouco, Ricardo, não que duvidemos da sua franqueza e honestidade, mas não é assim que funciona. Ai o oratório da mami... Amigo chega abrindo a geladeira, ou exclamando "Bah, meu, nem te conto, me dá um uísque primeiro", tem cama e comida. Conversa mole, seu Ricardo.
Estudiosos de Berlim constataram: homens com cuca além de seu tempo tendem à solidão, falar com quem neste mundinho? No caso do Assis, com a banana Miranda? Faça-me o favor. Com os obcecados por dinheiro, "amigos"? Um lixo só. Como ainda ocorre hoje.
Algumas semanas após o suposto episódio, no dia 6 de março de 1958, Assis Valente se matou, ao amanhecer. Pulamos os detalhes, Deus o tenha. Noite de solidão. A solidão dos gênios, mas este um gênio amoroso, um anjo, sem amigos e sem mãe a quem gritar. Papai Noel, naquele momento, estava ocupado com alguns políticos no Catete.
- Certamente ele me telefonou de madrugada - supôs Paschoal - na certa ele me chamou ao telefone muitas e muitas vezes, como costumava fazer, eu tinha tomado remédio e não acordei. Sozinho, sem ter seu irmão mais velho para amparar-lhe a queda, matou-se. (de novo o embaixador "amigão", por Ricardo Cravo Albin).
Que decepção, Ricardo! Isso é um insulto!
Mas que "certamente", cara-pálida?
Passo a colocar em dúvida tudo o que tem no seu dicionário. Já coloquei no caso do seu Lindomar Castilho, um crime cometido pelo seu dicionário da MPB, uma vileza sem tamanho.
Fosse amigo da casa, teria dito que no calor da paixão, uma vagaba e um primo traidor tiraram o homem do sério, em momento ruim. Não estamos aqui a dizer que são ou foram vagabas e vagabos, estamos dizendo somente que o papel aceita tudo.
Papai Noel naquele momento estava dividindo os lucros com os políticos donos de xópins, talvez estendendo algum para a cultura nacional dos "ricos, e o povo desgraçado, feito cordeiro, com míngua no bolso, comprava sei lá o quê para homenagear Jesus Cristo do mercado d'eles.
O mercado que Jesus teria destruído, segundo a estória contada por eles mesmos, com o corpo: socos e pontapés.
E riam, os malditos, ao som de Boas Festas, do Assis Valente.
Clicando no nome, acima, terá o passante uma ideia de como Carmen Miranda é até hoje elevada pelas "grobos" da vida, e uma ponta de entendimento do fim do Valente.
Tentaram, e tentam, incansavelmente, nos incutir no cérebro o jingobel, jingobel, não tem mais papel... porém a alma do povo brasileiro arde, treme, quando ouve o legado maravilhoso de Assis Valente.
Que mundo.
E ao procurar uma gravação desato a chorar, assustando o Gatolino e quiçá os vizinhos, quem mandou escrever essas bobagens maiores que vida e morte, que são abandono e desespero, pela futilidade dos donos de tudo, os bichos que mandam em tudo, roubam tudo, sem saber por que diabos estão metidos nesta Terra.
Esbarro na Maria de Betânia, a cantora baiana, depois em muitas gravações à capela, a seguir orquestras, e enxergando sob um dilúvio que desce nos meus olhos, fico, contrariado, com o Pato Fu, uma coisa muito esquisita, mas que me parece, neste momento, menos triste e que não vai fazer mais ninguém chorar.
Despediu-se da vida por iniciativa própria, cumprindo a promessa que fizera mais de uma vez aos conhecidos em noites de trago, amigos não tinha. Na época, como hoje, as pessoas fingem ser amigas, se você estiver bem-vestido e com gaita no bolso. Assis via isso. Ele era amigo de todos, era gritar e estou lá.
De tanto que os conhecia, a essa malta nojenta, não esperava por eles. E ele tinha o grave defeito de ser talentoso, e, bem, vocês sabem o que isso provoca em almas brutas, mesmo em embaixadores, um concursinho no Rio Branco, vá se saber as marcas das cartas.
Assis Valente morreu, já se vão mais de cinco décadas, mas, no Natal, ele está mais vivo do que nunca, na música de sua autoria que os corais das lojas e xópins interpretam, ouvi no penúltimo fim de semana na rua, depois no Mercado Público, eu que odeio xópins, a prova cabal da falência dos homens de bem, da covardia, antro de covardes. Logo mais as estações de rádio, propriedades mal-havidas de políticos, começaram a tocar. Os espertalhões usam José Assis Valente.
Todo ano é assim.
Música natalina, genuinamente brasileira, de versos tristes e melodia alegre, um aparente paradoxo, como sugeriu Ricardo Albin. Paradoxo para ele, de se supor que não sabe o que é passar fome em Natal, andando pela rua e aspirando o cheiro de penosas assadas, a pele da barriga quase encostando nas costas, um buraco.
“Eu pensei que todo mundo/ fosse filho de Papai Noel/ E assim felicidade/ Eu pensei que fosse uma/ Brincadeira de papel/ Já faz tempo que eu pedi / Mas o meu Papai Noel não vem/ Com certeza já morreu/ Ou então felicidade/ É brinquedo que não tem”.
Assis Valente nasceu em Santo Amaro (BA), foi roubado dos pais biológicos e já adolescente vagou pelo interior da Bahia com o elenco de um circo; em Salvador trabalhou como farmacêutico e foi se virando, até que um dia se encontrou com a música.
Tornou-se, já morando no Rio de Janeiro, um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos; algumas de suas criações eternizadas, a exemplo da música natalina de que hoje falamos, como Brasil Pandeiro e Camisa Listrada, para citar as de maior chamamento popular.
O seu talento não reverteu em grana. Não conseguiu viver da música. Não era gatuno, o oposto: um mão-aberta, não podia ver uma criança com fome na rua, pagava comida, dava a roupa. Contumaz de chegar em casa sem camisa e sem sapatos. Enquanto alguns de seus intérpretes enriqueceram, Carmen Miranda, aquela..., aquela... (faltou-me a palavra, ainda bem), por exemplo.
Um gênio doce, sem maldade. Aos olhares do mundo, só um bobo de quem poderiam se aproveitar. A maldade trabalha durante a noite. A ambição quer sangue.
E a inveja dos que o cercavam... sai da frente. Inveja da sua alma boa, isso incomoda aos chacais. Cara bom vocês sabem: é o cara que é bom mesmo quando ninguém está olhando. Tornar-se como ele? Impossível. Então, fazer o quê?
Matá-lo. Sai daqui, a cada vez que te vejo me lembro que sou um reles chacal. Não quero mais te ver.
Assis Valente viveu afogado em dívidas; na sua carta de despedida pedia que o público comprasse seu novo disco, Lamento, e, pior, pedia a Ary Barroso que pagasse os aluguéis atrasados. Logo quem, o Ary gritão "penso só em mim".
(Isso quem diz, de pedir, é Ricardo Cravo Albin. O gritão do Ary eu assumo)
Não disse mais nada: “Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo”. (Ricardo, sem fonte)
Seu "bom amigo", o embaixador Paschoal Carlos Magno, em croniqueta no semanário Politika, do notório Sebastião Nery, na edição de 26/6/1972, lembrou a aflição do compositor, uma tristeza que tinha raízes mais profundas do que o sentimento fraterno poderia imaginar. (fonte: Ricardo Cravo Albin, de novo)
“Era mais de meia-noite. Eu morava em Santa Teresa. O telefone furava o silêncio (bom o estilo, o telefone não corta mais, agora fura). Era Assis Valente que me pedia socorro. Precisava com urgência me ver, àquela hora mesmo... Assim que entrou na sala de nossa casa parecia mais calmo. Olhou, como era seu costume, para os santos antigos, os oratórios e para o quadro de minha mãe, pintado por Rescala. Esperava que me revelasse alguma coisa muito séria que o afligia”. (idem)
E o grande artista teria desabafado em seguida: “Toda vez que me sinto perdido, desesperado, venho para sua casa. Sempre foi assim. Eu vivo obcecado pela morte, um dia me mato doutor, um dia me mato”. (de novo, RCAlbin, pela voz do outro, o Paschoal)
Paschoalzinho prossegue: “Nunca me contava as razões de seu desespero. Fui buscar água. Ao voltar o encontrei chorando, com o rosto escondido entre as mãos abertas. Não bebeu a água que havia pedido. Então me deu um abraço grande e falou: me desculpe doutor, me desculpe. Estou melhor. Esta noite não me mato mais. Vi o senhor, vi o retrato de sua mãe. Ainda tem muita gente boa neste mundo”. (ibidem)
Um amigo de verdade faz falta. Não amigos de mentiras de redes sociais de egoístas. A voz de uma só pessoa, no caso o tal embaixador, é pouco, Ricardo, não que duvidemos da sua franqueza e honestidade, mas não é assim que funciona. Ai o oratório da mami... Amigo chega abrindo a geladeira, ou exclamando "Bah, meu, nem te conto, me dá um uísque primeiro", tem cama e comida. Conversa mole, seu Ricardo.
Estudiosos de Berlim constataram: homens com cuca além de seu tempo tendem à solidão, falar com quem neste mundinho? No caso do Assis, com a banana Miranda? Faça-me o favor. Com os obcecados por dinheiro, "amigos"? Um lixo só. Como ainda ocorre hoje.
Algumas semanas após o suposto episódio, no dia 6 de março de 1958, Assis Valente se matou, ao amanhecer. Pulamos os detalhes, Deus o tenha. Noite de solidão. A solidão dos gênios, mas este um gênio amoroso, um anjo, sem amigos e sem mãe a quem gritar. Papai Noel, naquele momento, estava ocupado com alguns políticos no Catete.
- Certamente ele me telefonou de madrugada - supôs Paschoal - na certa ele me chamou ao telefone muitas e muitas vezes, como costumava fazer, eu tinha tomado remédio e não acordei. Sozinho, sem ter seu irmão mais velho para amparar-lhe a queda, matou-se. (de novo o embaixador "amigão", por Ricardo Cravo Albin).
Que decepção, Ricardo! Isso é um insulto!
Mas que "certamente", cara-pálida?
Passo a colocar em dúvida tudo o que tem no seu dicionário. Já coloquei no caso do seu Lindomar Castilho, um crime cometido pelo seu dicionário da MPB, uma vileza sem tamanho.
Fosse amigo da casa, teria dito que no calor da paixão, uma vagaba e um primo traidor tiraram o homem do sério, em momento ruim. Não estamos aqui a dizer que são ou foram vagabas e vagabos, estamos dizendo somente que o papel aceita tudo.
Papai Noel naquele momento estava dividindo os lucros com os políticos donos de xópins, talvez estendendo algum para a cultura nacional dos "ricos, e o povo desgraçado, feito cordeiro, com míngua no bolso, comprava sei lá o quê para homenagear Jesus Cristo do mercado d'eles.
O mercado que Jesus teria destruído, segundo a estória contada por eles mesmos, com o corpo: socos e pontapés.
E riam, os malditos, ao som de Boas Festas, do Assis Valente.
Clicando no nome, acima, terá o passante uma ideia de como Carmen Miranda é até hoje elevada pelas "grobos" da vida, e uma ponta de entendimento do fim do Valente.
Tentaram, e tentam, incansavelmente, nos incutir no cérebro o jingobel, jingobel, não tem mais papel... porém a alma do povo brasileiro arde, treme, quando ouve o legado maravilhoso de Assis Valente.
Que mundo.
E ao procurar uma gravação desato a chorar, assustando o Gatolino e quiçá os vizinhos, quem mandou escrever essas bobagens maiores que vida e morte, que são abandono e desespero, pela futilidade dos donos de tudo, os bichos que mandam em tudo, roubam tudo, sem saber por que diabos estão metidos nesta Terra.
Esbarro na Maria de Betânia, a cantora baiana, depois em muitas gravações à capela, a seguir orquestras, e enxergando sob um dilúvio que desce nos meus olhos, fico, contrariado, com o Pato Fu, uma coisa muito esquisita, mas que me parece, neste momento, menos triste e que não vai fazer mais ninguém chorar.
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