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Quando Lúcio Peregrino entrou no botequim, imediatamente Aristarco perguntou:
- O Adolfo te ligou ontem à noite?
- Sim, por quê?
- Ligou para todos nós. Um pouco pelo jogo do Tigre contra o São Paulo, agora ele é argentino. Estava indignado com o que chamou de escândalo do Morumbi.
- Sei, e comigo falou muito do caso Marita Verón. Disse também que talvez venha passar o Ano Novo conosco. Se ligou para todos, e a todos perguntou de cada um, agora deve estar cruzando as informações, ficou sabendo de tudo - respondeu Lúcio, rindo ao final da frase.
- Eu contei das estrepolias do Contralouco - provoca Clóvis Baixo.
- E eu contei as merdas de todos vocês - diz o Contra.
Adolfo Dias Savchenko, o idealizador da coluna "A Charge do Dias", atualmente morando em Córdoba, quando bate a saudade toma uns uísques e liga para todo mundo, boêmio é assim.
- Bem, diz Lúcio, então, graças ao "argentino" Adolfo, as notícias hoje darão conta da repercussão do escândalo do Morumbi na Argentina. Mas depois, primeiro umas coisinhas que vi ontem. Lá vão: notícias do notibuc.
- Lewandowski reassume o cargo de advogado de defesa dos mensaleiros. Disse que mesmo que se confirme a tendência de a Corte
pedir a cassação dos parlamentares, a decisão será provisória, precária e não
terá efeitos no curto prazo. Diz mais: que quando a votação é apertada, abre-se a
possibilidade de a defesa entrar com um recurso chamado embargo de
infringência, solicitando uma nova avaliação do plenário.
- Embargos de postergância, é do jogo, está correto o advogado Complikowski - diz Carlinhos Adeva. - Depois virão os apelos ao Tribunal de Haia e à Corte Interestelar.
- Comentários ao final, senhores, por favor - diz Lúcio. E segue:
- O nosso empregado como Ministro da Justiça, o Cardozão, diz que as
revelações do Marcos Valério, denunciando o chefão da máfia, foram feitas "sem prova alguma", por alguém
numa situação de desespero, após ser condenado a 40 anos de prisão no
julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF). "É uma peça produzida por
uma pessoa processada e condenada a muitos anos de prisão. Foi feita
exclusivamente na tentativa ou de tumultuar o processo, negociar a redução de
sua pena". É outro que, pago com o meu, o nosso, se transformou em advogado de defesa de um cidadão supostamente igual a todos nós.
- Engraçado que o indivíduo agora dá a entender que a condenação do Marcos Valério foi justa, por um mensalão que nunca existiu. A Dilma, de lá de Paris, onde vai assistir o Bolshoi, com tanta coisa por fazer, também deu uma de advogada do chefe, com o meu dinheiro - intromete-se novamente Carlinhos.
- Outro empregado na base do quem indica, o Ministro da Secretaria-Geral da Casa Civil, aquele antro de Dirceus e Erenices, o Gilbertinho Carvalho da Silva, diz que a tentativa do Marcos Valério de envolver o ex-presidente Lula no mensalão é uma "indignidade", e considerou o gesto como "desespero" para diminuição da
pena. Outro advogado de defesa pago com o meu, o nosso. Você é pago para trabalhar, babaca, feche essa boca.
- Calma, Lúcio, limite-se a ler as notícias, ainda que "arrumadas" pelo teu gosto, não adianta se exaltar, amigão - diz o filósofo Aristarco de Serraria.
- Se eu pego um cara desses, diz o Contralouco.
- O panaca senil presidente do Partido dos Trabolas, Ruim Facão, emite nota oficial: "Eu conclamo toda a nossa militância, nossos parlamentares
e nossos governadores a expressarem a sua indignação diante de mais esse
ataque, essa sucessão de mentiras envelhecidas que a mídia conservadora, com
setores do Ministério Público, insiste em continuar veiculando. Eu deixo aqui a
solidariedade do PT ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Repelimos essa campanha de calúnia que está sendo veiculada na
mídia".
Carlinhos Adeva não se aguenta:
- Esse aí está na dele, pode espernear, não é pago com o nosso. Bem..., não sei. Porém o negócio é bem simples: basta o Ministério Público investigar as denúncias. Só. Quem não deve, não teme. Básico. Indícios há, a começar pelos R$ 100 mil, ou 98,5, que caiu na conta do aloprado comprador de dossiês amigão do ex-presidente. A verdade virá à tona. Se for mentira, que processem o Marcos Valério por calúnia e tudo o que puderem. Por que, então, essa gritaria?
Nicolau Gaiola, que se mantinha quieto, confabulando baixinho com Jezebel do Cpers, exaspera-se:
- Pelamor de Deus, Lúcio, pode parar com esse assunto? Não aguento mais esses filhos da mãe.
- Certo, vamos para a Argentina. Antes, alguém pode adivinhar quem soltou o Carlinhos Cachoeira?
- Tchê, pelo amor de Deus de novo, até o pé de oliveira do Beco sabe que foi o Tourinho, todo mundo já sabia antes de soltar - diz Nicolau.
- Onde andará a juíza Eliana Calmon? - pergunta Jussara do Moscão.
Lúcio não dá tempo de alguém responder. Segue:
- San Pablo campeón de la Copa
Sudamericana, en una escandalosa noche en el estadio Morumbí. Custodios
privados y agentes de la Policía Militar golpearon a los jugadores argentinos
en forma tan brutal que se vieron manchas de sangre hasta en las paredes del
vestuario. La agresión ocurrió al finalizar el primer
tiempo y los uniformados llegaron a apuntar a los argentinos con armas de
fuego. Pero los brasileños dieron una justificación, al decir que los jugadores
de Tigre habían intentado invadir el vestuario del San Pablo para provocar una
pelea.
Agora foi Clóvis Baixo que não aguentou:
- Por falar em Tourinho, gente, lembrei do velho ditado gaúcho: "Em campo alheio, touro é vaca". Então, como os caras iriam invadir alguma coisa e bater em alguém em pleno Morumbi? É essa a indignação do Adolfo, os paulistas pensam que alguém é criança. Começou que os argentinos pediram apenas 4.500 ingressos para a sua torcida e não foram atendidos. Depois, foram proibidos até de reconhecer o gramado. E o sangue no vestiário visitante? Isso desmonta a farsa, pois ali falharam os leões-de-chácara são-paulinos, se distraíram e permitiram que a imprensa visse.
Tigran Gdanski usa a cabeça:
- De fato, pessoal, quem já jogou futebol sabe: só algo muito grave para um time não voltar para o segundo tempo, numa decisão dessa importância, diante dos olhos do mundo. Impossível empatar o jogo? Impossível não há, em decisão, muito menos com escore adverso de 2 x 0, o mais perigoso de todos, é fazer um e é um Deus nos acuda pela emoção.
- Gente, é como dizem os dirigentes inescrupulosos: o que importa é a Taça na sala de troféus e o resto é história - encerra Mr. Hyde, o Cínico.
Pedem os primeiros aperitivos do dia.
- Parabéns ao grande São Paulo - diz Aristarco, erguendo seu copito de losna. - Afinal, de santos os hermanos não tem nada.
- Com o Dungão, em 2013 o São Paulo e todo mundo vão sifu com o Inter! - exclama Clóvis Baixo.
- Vai sonhando - diz o Portuga de lá detrás do balcão.
- Mas o assunto que sacudiu a Argentina foi o caso Marita Verón. Protestos indignados em todo o país, Tucumán, Buenos Aires, Santa Fe, Santiago del Estero, Córdoba, La Plata, Monte Hermoso, Mendoza, Salta, San Juan, Bahía Blanca, La Rioja, Rosario, Paraná, Brandsen... pela absolvição dos 13 acusados pelo sequestro e desaparecimento - morte, com certeza - de Marita, em 2002. A nossa mui conhecida "por falta de provas". A moça saiu de casa e sumiu, levada à força a se prostituir em La Rioja por gangue de exploradores de escravas brancas. Conseguiu escapar e a mataram, sumindo com o corpo. É a falência da Justiça e dos órgãos policiais. Nem a presidente Cristina se aguentou. Um filme de terror.
Aqui Tigran Gdanski se superou:
- É como diz o Ancelmo: triste o país que tem a polícia mancomunada com bandidos...
- Bem imaginamos os sentimentos do humanista Adolfo e de todo o povo argentino, que se levantou: não quer só comida, quer justiça. Temos muito em comum, todos os povos, afinal a maioria ainda somos humanos - disse a profa Silvana Maresia.
Enfim... Leilinha Ferro, mesmo revoltada com as histórias que ouviu, decide desanuviar o ambiente. Interrompe os comentários e pede as obras do dia. Dose dupla, de novo, por ontem.
Como era de se esperar, vieram de Tigre. Com o Amorim.
Um achado do Zope. Quem avisa amigo é.
Sponholz, do Jornal da Manhã (Ponta Grossa, PR).
E o sempiterno Nani.
Leilinha Ferro também dobrou a sua participação, por ontem e por hoje.
Com o Sinovaldo, do Jornal NH (Novo Hamburgo, RS).
E com o Pater, de A Tribuna (Vitória, ES).
(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos meses se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário, como eles, magnânimos, chamam os banqueiros assassinos. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)
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