martes, 11 de octubre de 2011

Cartola Angenor de Oliveira

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O sambista desde 1928 organizava suas rodas de samba com o Bloco dos Arengueiros e com o Rancho dos Arrepiados. Nunca teve uma vida boa, se virava como lavador de carros e o que viesse. Como pedreiro, usava um chapéu-côco para que o cimento não lhe caísse nos cabelos. Se lhe caísse algo pior, azar, naqueles tempos de insegurança no trabalho e em tudo. Seu melhor amigo era conhecido por Cachaça.

Muito penou, muito suor derramou, muito trago bebeu, muito samba compôs, até que, em 1974, aos 66 anos, como artista principiante nessas esquisitices, pisou numa produtora para gravar seu primeiro disco.

Coisa bem estranha mesmo, Angenor de Oliveira, um dos compositores mais geniais da história da música popular brasileira, demorar tanto tempo para ser reconhecido. Há quem diga que os meios de comunicação de antanho eram iguais aos de agora, isto é, dotados de especial afeição pelo branco da pele, seja este luxo ou lixo. Não acreditamos nessa versão. Hoje é pior. Hoje o deus maior, o dinheiro, se sobrepõe a tudo, a ganância dos brutos não tem o menor pudor.

Importa é que naquele momento em 1974 despreendeu-se o artista, espalhou-se a genialidade do homem. Em 1976 viria o ápice, com seu segundo disco, também intitulado CARTOLA. Já na primeira faixa deixou o país de joelhos, com a obra-prima "O Mundo é um Moinho". Afirmava-se Angenor, sem temas definidos, com seus devaneios e alguns amargores que viu na vida.

Em 1976 apresentou-se na gravadora muito bem preparado, a ficha técnica do álbum traz os artistas que o acompanharam:

Ficha Técnica: Cartola (Cartola) – Brasil, 1976. Gravadora: Discos Marcus Pereira. Integrantes: Cartola (voz), Altamiro Carrilho (flauta), Canhoto (cavaquinho), Dino 7 Cordas (violão e arranjos), Jorginho do Pandeiro (pandeiro), Gilson de Freitas (surdo), Nenê (agogô e cuíca), Nelsinho (trombone), Meira (violão), Elton Medeiros (ganzá, tamborim e caixa de fósforos), Abel Ferreira (saxofone), Wilson Canegal (reco-reco), Zé Menezes (viola), Creusa (voz).

Gente, artistas como Altamiro Carrilho (o melhor flautista do mundo), Canhoto, Dino... todos, foi algo como dizer Chego em Paz, mas saiam da frente. Os da frente eram os compradores de músicas, por merréis, que subiam o morro de Mangueira empoados.

Cartola mereceu a seguinte crônica de Carlos Drummond de Andrade, no dia seguinte à sua morte.

(Aqui na palafita, contrariando o status quo da Globo e do Rio de Janeiro, não somos assim tão apaixonados pelo Carlos Drummond, ainda que o reconheçamos como atípico - trabalhava e gostava de trabalhar -, um pouco diferente de todos os mineiros e cariocas famosos oriundos do Brasil pós-império, funcionários públicos com QIndica que tinham tempo para escrever, compor, sorrir e falar mal de Minas, deixando o paletó na repartição. Uns filhos da puta indicados por políticos. Assim, até o Gustavo Moscão...).

"A delicadeza visceral de Angenor de Oliveira (e não Agenor, como dizem os descuidados) é patente quer na composição, quer na execução. Como bem me observou Jota Efegê, seu padrinho de casamento, trata-se de um distinto senhor emoldurado pelo Morro da Mangueira. A imagem do malandro não coincide com a sua. A dura experiência de viver como pedreiro, tipógrafo e lavador de carros, desconhecido e trazendo consigo o dom musical, a centelha, não o afetou, não fez dele um homem ácido e revoltado. A fama chegou até sua porta sem ser procurada. O discreto Cartola recebeu-a com cortesia. Os dois conviveram civilizadamente. Ele tem a elegância moral de Pixinguinha, outro a quem a natureza privilegiou com a sensibilidade criativa, e que também soube ser mestre de delicadeza".

Desse álbum de 1976, vai uma. Minha (Cartola).



 

A caricatura é do Biratan.

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