lunes, 10 de octubre de 2011

A vassalagem da Espanha

No dia 5 de outubro José Luís Rodríguez Zapatero (foto da esquerda, com seu hoje grande inimigo Kadafi), que além de péssimo comediante é o presidente espanhol, ao anunciar o acordo assinado com a OTAN ao lado do atual Secretário de Defesa dos EEUU, ex-diretor da CIA, Leon Edward Panneta, esclareceu que o Sistema de Defesa Antimíssil "no va dirigido contra nadie", que é apenas uma iniciativa de proteção ao território europeu, de caráter dissuasório,   contra países que não respeitam as leis internacionais. Obviamente, a Rússia voltou a protestar com veemência.
O mundo já sabe, são centenas os exemplos, mas o pensador Mauro Santayana no texto abaixo torna a nos dar uma ideia de quem não respeita quem e o que.


Por Mauro Santayana, em 06/10/2011

Há uma seguidilla de Cervantes que pode explicar a submissão da Espanha, sob Zapatero, aos Estados Unidos, permitindo a inclusão da base norte-americana de Rota, na Andaluzia, na malha do escudo antimísseis da Europa, anunciada ontem em Bruxelas. “A la guerra me lleva/ mi necesidad;/ si tuviera dineros/ no fuera en verdad.”. Soldado ele mesmo, e soldado de fortuna, ou seja, por necessidade, Cervantes, nesses quatro versos quase espontâneos, vai ao fundo das razões da guerra. Na verdade, em toda a História, antes que o grande espanhol perdesse sua mão na batalha de Lepanto, e depois de sua obra literária insuperável, a guerra é frequentemente a necessidade, real, ou criada pela astúcia dos reis e tiranos.

A crise econômica da Europa é mais profunda do que seus aspectos econômicos. Como bem acentuou a presidente Dilma Rousseff, suas causas são políticas e, sendo políticas, chegam à medula da civilização ocidental, em suas contradições, já milenares. A partir do Plano Marshall, em 1948 — que foi um dos mais geniais golpes políticos da História com os investimentos multibilionários de Washington na Europa — o inconsciente europeu foi inseminado de duas ideias: a da invencibilidade norte-americana e a dos benefícios indiretos da guerra.

A derrota de Hitler se deve ao grande sacrifício da União Soviética, com seus aliados iugoslavos, sob o comando de Tito; à brava resistência inglesa aos bombardeios constantes sobre Londres; aos Estados Unidos e aos cidadãos europeus que lutaram contra a ocupação, e enfrentaram, ao mesmo tempo, os invasores e as autoridades títeres de seus países, sobretudo na França de Pétain e Laval e na Itália de Mussolini.

A Europa continental, como sabemos, foi, de 1940 a 1944, “a Europa de Hitler” conforme o título de conhecido ensaio de Toynbee. Durante o conflito, alguns policy makers anglossaxônicos trabalharam com a hipótese de cooptar o sistema soviético, convertendo-o com a sedução do capitalismo. Nesse propósito ofereceram estender à União Soviética, e aos países sob sua influência, o plano de reconstrução, e foram diplomaticamente dispensados.

Os dissídios entre os aliados vinham desde a divisão da Europa na linha geográfica da influência dos dois blocos, ao longo dos rios Oder-Neisse, que passaram a ser a fronteira entre a Alemanha e a Polônia. A legitimidade dessa linha, que não podiam negar, desde que fora negociadas em Ialta e em Potsdam, viria a ser confirmada nos Ostverträge, negociados por Willy Brandt em Moscou, em 1971, e reafirmada nos convênios da reunificação alemã.

Para os europeus, destruídos pelo conflito, o Plano Marshall foi uma dádiva; para o capitalismo norte-americano, a mais rendosa aplicação que poderiam fazer. Como eram os únicos emissores de moeda internacional, desde a decisão do acordo de Bretton Woods, de 1944, não tinham qualquer dificuldade em fazer a inversão, com os resultados conhecidos.

Sessenta e seis anos mais tarde, a insânia, companheira das frustrações, volta a ruflar os tambores da guerra, como os fez ruflar em 1914 e em 1939, sem falar nos chamados conflitos laterais, da Coreia à Líbia. As guerras têm sido, também, um recurso para a unificação interna, quando há graves perigos de cisão política.

Os enlouquecidos partidários da solução bélica não escondem os seus projetos de nova colonização manu militari da África e do Oriente Médio, e querem abrir caminho para uma intervenção na Síria, na escalada para o condomínio da grande região. Mas, embora com votos bem cautelosos, a China e a Rússia, com a abstenção do Brasil, da Índia, do Líbano e da África do Sul, disseram não ao projeto de “forte condenação” do governo sírio, em sua repressão aos movimentos insurrecionais internos, o que abriria caminho a nova intervenção armada da Otan.

Enfim, todos querem condenar a repressão síria, mas ninguém se levanta para condenar a brutal intervenção militar da Otan na Líbia, com seus milhares de vítimas. E Obama tem o cinismo de afirmar que não faz guerra contra a Líbia, uma vez que a atinge de longe, com seus mísseis. Para ele, a guerra só se faz com a presença da infantaria no território agredido.






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