Sebastião é o nome de um cidadão sobre quem ontem tentei escrever, falar, e não consegui. Mal começava a teclar Sebas... e desandava uma enchente. Corri ao banheiro muitas vezes, lavar o rosto, enfiar a cabeça no chuveiro frio, gritar comigo ao espelho. Apavorado, não consegui. O mundo cai sobre a gente, caindo em si.
Depois sentar no chão da sala e chorar, horrível choro de arrependimento, novamente assustei os vizinhos.
Sebastião Rodrigues Fagundes nunca foi a Paris, nem ao Rio de Janeiro. Era uma alma de aparente calma, sufocava a revolta. De vendedor de doces (Ói o doooce...) em cestas de vime no braço para ajudar em casa, depois jóquei, até a telegrafista dos Correios e Telégrafos, quando o Correio ainda não era um antro de ladrões. Bamba em código morse. Sem ter o curso primário. Lia gibis.
Briguei muito com esse senhor, eu menino, ouvidos ouvindo e sentindo apenas um lado. Dos lábios dele jamais ouvi depreciação a ninguém. Às vezes bêbedo tentava falar, desabafar, mas nos diziam que aquilo era feio.
Esse moço que pagou a minha comida, e a roupa para frequentar a escola pública onde me olhavam e julgavam pela roupa. Que levava comida para os pobres, sem ninguém notar, como se a gente não fosse. Esse cara que não multiplicava, mas repartia o pão.
Ah, tantas coisas. Contrariando os poderosos políticos (hoje sei, seu Seba, que quando contrariados tiram o emprego da gente, quando não mandam matar), acender velas para os maragatinhos, saindo dando voltas para enganar a polícia dos canalhas, até chegar naquele emaranhado de vegetação, lua sumida no céu, unhas de gato, hiedra, cemitério clandestino e esquecido, em franca solidão, só para ver o breu da noite se transformar em mágica que bruxuleia em sentimentos, uma ode às ilusões, velas acesas num matinho escuro e verde, com velhas cruzes de pau, carcomidas. Um menino grande com um pequeno pela mão. Tal o silêncio que não ouvimos o vento. Naquele ambiente, um túnel verde na madrugada do pampa, iluminado por pequenos archotes que são velas de cera, olho para cima, para ele, está baixando a cabeça em reverência. Baixo a minha também.
Hoje sei que era em respeito aos que morreram assassinados. Como esquecer?
Esse moço que pagou a minha comida, e a roupa para frequentar a escola pública onde me olhavam e julgavam pela roupa. Que levava comida para os pobres, sem ninguém notar, como se a gente não fosse. Esse cara que não multiplicava, mas repartia o pão.
Ah, tantas coisas. Contrariando os poderosos políticos (hoje sei, seu Seba, que quando contrariados tiram o emprego da gente, quando não mandam matar), acender velas para os maragatinhos, saindo dando voltas para enganar a polícia dos canalhas, até chegar naquele emaranhado de vegetação, lua sumida no céu, unhas de gato, hiedra, cemitério clandestino e esquecido, em franca solidão, só para ver o breu da noite se transformar em mágica que bruxuleia em sentimentos, uma ode às ilusões, velas acesas num matinho escuro e verde, com velhas cruzes de pau, carcomidas. Um menino grande com um pequeno pela mão. Tal o silêncio que não ouvimos o vento. Naquele ambiente, um túnel verde na madrugada do pampa, iluminado por pequenos archotes que são velas de cera, olho para cima, para ele, está baixando a cabeça em reverência. Baixo a minha também.
Hoje sei que era em respeito aos que morreram assassinados. Como esquecer?
Por ironia do destino, lembro de um tango muito especial para homenagea-lo, trêmulo que estou neste início de madrugada. O João Rodrigues Fagundes, outro injustiçado mais à frente, pela Rádio lhe ofereceu esse tango no dia em que o senhor se casou, dedicatória aos nubentes. Como eu soube? Ah, outro dia lhe conto.
Eu morri mil vezes, seu Sebastião, mas jamais me vendi. E não temo morrer mais mil. Ainda não peguei em armas, mesmo assistindo ao horror da exploração, de pobres almas se iludindo com riqueza mal havida, achando que enganam... Aqui o insulto. Pobres homens. Que mundo.
Eu hoje o vejo no espelho. Mas outro Sebastião, um pouquinho lido agora.
Onde quer que esteja, tente me perdoar, meu pai, porque eu não consigo, leve em conta que eu era uma criança.
Antônio
GOSTEI DE LER MEU IRMÃO,SÓ PARA TUA ALEGRIA ACHO QUE O ÚNICO PASSEIO QUE O PAI FEZ ENQTO CASADO E VIVO VEIO AO RIO DE JANEIRO COM A MÃE EM 1986 PASSAR O PRIMEIRO DO ANO E MEADOS DE JANEIRO 87FOI MUITO BOM, LEVEIO-OS A PASSEAR COMO MERECIAM ... TE AMO MUITO CUIDE-SE
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